sexta-feira, 28 de outubro de 2011
quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Vá em busca de si mesmo!
Entre o sono e o sonho, entre mim e o que em mim é o quem eu me suponho, corre um rio sem fim. Fernando Pessoa, inspirado poeta, leitor sensível da alma humana, pode traduzir com sutileza o desafio de cada existência.
Onde se dará nosso despertar de compreensão?
Vamos de crises em crises, aprendendo aos tropeços, sofrendo de ansiedade, estresse e cansaço. É preciso compreender que não é a crise que nos encontra, somos nós que a produzimos. Isso se dá porque não fluímos bem nos movimentos da mudança, nesse rio sem fim, que costumamos chamar de vida.
A mudança é o ritmo no qual o mundo caminha e só há um jeito de se dar bem com ela, aprendendo a mudar também. O maior paradoxo, a contradição mais coerente da mudança é que é preciso mudar para ser quem se é.
É preciso deixar de ser quem não somos, de fazer o que não queremos e viver o que não gostamos. Se olharmos atentamente nossa realidade, vamos perceber que muitas coisas em nosso dia a dia se encaixam nessa definição que é contrária à nossa natureza.É urgente nos armarmos de coragem e irmos a busca de nós mesmos.
É prioritário definir o que vamos fazer com o tempo que nos foi dado. É fundamental acordarmos do sono ilusório da realidade para vivermos na prática o sonho que nos comove. A crise é apenas um sinal na estrada dizendo que é hora de rever o caminho.
Vá em busca de si mesmo e não tenha medo dos desafios e das incertezas, pois as asas só aparecem quando o chão desaparece.
Texto retirado do site www.work.com.br de Dulce Magalhães - palestrante do Congresso Felicidade Autêntica
terça-feira, 25 de outubro de 2011

23/10/2011 10:54
Estado de São Paulo (SP)
Estado de São Paulo (SP)
Fonte do texto:
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=11050&Itemid=75
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=11050&Itemid=75
De onde vêm as desigualdades - Suely Caldas
O Brasil é campeão em desigualdades. Exemplo: o governo investe míseros R$ 7,5 bilhões por ano em saneamento básico para atender o País inteiro, onde só 55% dos municípios coletam esgoto, mas em 2011 vai deixar de arrecadar R$ 116,1 bilhões isentando ou reduzindo tributos de empresas e instituições ricas. São as chamadas renúncias fiscais concedidas pelo governo federal a pretexto de desenvolver um setor econômico ou região, mas cujos resultados são duvidosos e nunca mensurados, já que não passam por nenhuma avaliação.
Dois estudos divulgados nos últimos dias questionam a eficácia da renúncia fiscal como meio de levar progresso ao País e à população. Baseado em números da Receita Federal, o cientista político do Instituto Universitário do Rio de Janeiro (Iuperj) Marcelo Sobreiro Maciel calculou em R$ 116,1 bilhões o tamanho da "generosidade" dos incentivos fiscais concedidos pelo Executivo federal em 2011. Em 2012 a cifra aumenta para R$ 146 bilhões. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) chegou ao mesmo número em 2011, mas o ampliou para R$ 137,2 bilhões ao adicionar isenções na área da Previdência.
Esse valor é mais que o dobro do orçamento de R$ 63,7 bilhões do Ministério da Educação, 10 vezes mais do que é gasto com 53 milhões de pobres do programa Bolsa-Família e 18 vezes o que o governo investe em saneamento. São desses nacos de distribuição perversa da renda nacional que os governantes acentuam as desigualdades sociais no País. É assim que - constata pesquisa do IBGE - há mais de 20 anos os Estados do Pará, Piauí, Maranhão e Rondônia têm menos de dez cidades com esgoto sanitário e, nas centenas de outras, crianças sofrem de doenças infecciosas em contato com esgoto a céu aberto.
Além de campeão em banalização e tolerância com a corrupção, o governo Lula ergue também o troféu da liderança em generosidades fiscais. Segundo a pesquisa de Maciel, em 2003, quando Lula chegou ao poder, os incentivos fiscais somavam R$ 23,2 bilhões. Desde então foram multiplicados em ritmo acelerado e, em 2012, a conta chegará a R$ 146 bilhões, um salto de 529%. A renúncia por meio da Cofins, por exemplo, foi de R$ 1.182 bilhão, em 2002, para R$ 41.278 bilhões, em 2012, um crescimento de 4.400% em apenas dez anos.
Em geral os beneficiados são empresas de setores industriais com força política e acesso fácil ao Planalto. Formam-se lobbies em que empresários se aliam aos sindicatos de trabalhadores fortes e barulhentos e conseguem aprovar seus privilégios, com custo alto para todo o resto da população. O exemplo mais recorrente é o da indústria automobilística atuando em dobradinha com os metalúrgicos do ABC, de onde saiu Lula.
A caneta do presidente basta para conceder o incentivo, já que a decisão não passa pelo Congresso. E a eficácia do resultado é desconhecida porque o governo, único com poder de aferi-la, não se preocupa em avaliar. É o que o cientista político chama em sua pesquisa de "renascimento do capitalismo de Estado". Ou seja, o poder do Estado - aí representado pelo presidente - em distribuir generosidades de capital fiscal, logicamente com dinheiro do contribuinte, que, aliás, não é o único a perder.
O Ipea constatou que 59,42% das renúncias fiscais vêm do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos Industrializados, justamente os tributos que o governo federal divide com Estados e municípios, por meio dos fundos de participação. Portanto, governadores e prefeitos também perdem dinheiro.
Há, ainda, outros riscos. Além de premiar empresas poderosas, a renúncia também financia a classe política. Como se trata de um benefício setorial, pontual, em que a escolha dos eleitos é feita sem critérios transparentes e deixa a maioria de fora, o incentivo fiscal abre janelas para a corrupção e o suborno da troca de favores entre o público e o privado, que acabam abastecendo os cofres dos partidos políticos. Foi o que a ex-governadora do Rio Benedita da Silva encontrou, por exemplo, ao rastrear os incentivos fiscais concedidos por seu antecessor, Anthony Garotinho. E, infelizmente, não é um caso isolado.
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
sábado, 22 de outubro de 2011
quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Impossível deixarmos de nos lembrar de J.P. Sartre e aquilo que designou como má-fé; a ilusão à qual a pessoa se apega de que tem um destino predeterminado, procurando assim eximir-se de qualquer responsabilidade sobre seus atos. Essa atitude dificulta, impede e é, ao mesmo tempo, uma defesa contra a necessidade de escolher o próprio destino, o que torna a pessoa um escravo em potencial das circunstâncias , dos papéis sociais e profissionais, de outro ser humano, de um certo "Deus" tirano, de si própria, perdendo a ascendência sobre tudo, tornando-se uma "coisa".
Livro: Psicologia do Sagrado/Psicoterapia Transpessoal de Eliana Bertolucci
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Achei muito interessante a afirmação do poeta sueco ganhador do Nobel de 2011, Tomas Transtömer em entrevista a Antonio González Iglesias, publicada ontem no jornal O Estado de São Paulo.
Photo © Ulla Montan. Courtesy: Albert Bonniers Förlag

"Existe aquele que é bom
existe aquele que pode ver tudo sem odiar".
Do livro No Delta do Nilo
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Lao-tse dizia: "As cinco cores tornam um homem cego.Os cinco tons tornam um homem surdo."
Isso significa que, se você acha que só existem cinco cores, você está cego e, se acha que só existem cinco tons, está surdo. Como você sabe, existe um contínuo infinito de som e de cor, e o espectro é simplesmente uma questão de conveniência na classificação.
Livro:Taoísmo:muito além da busca Alan Watts
terça-feira, 11 de outubro de 2011
domingo, 9 de outubro de 2011
"Estou seguindo as suas pegadas, mãe, e não quero cair.
Algumas vezes eu as vejo nítidamente.
Outras, mal posso enxergá-las
Caminhe um pouco mais firme, mãe!
Para eu poder segui-la.
Que não queria percorrer.
Conte-me tudo sobre este tempo, mãe,
Pois eu preciso saber.
Porque, às vezes, quando eu duvido,
Eu não sei o que fazer.
Caminhe um pouco mais firme, mãe!
Para eu poder seguí-la.
Um dia, quando eu crescer,
Você é quem eu gostaria de ser.
Então, terei uma pequena garotinha,
Que vai querer me seguir.
Eu quero poder saber conduzí-la à verdade!
Caminhe um pouco mais firme, mãe!
Para eu poder segui-la".
Livro: Normose/A patologia da normalidade
Pierre Weil/Jean -Yves Leloup/ Roberto Crema
Verus Editora
Como é bom ter mãe
Como é bom ser mãe
Como é bom ter filha
Como é bom ser filha
quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Mas quem foi acostumado a não enfrentar problemas, tem dificuldade de se sacrificar por alguma coisa. Sacrifício, conforme definiu Jung em Símbolo da transformação na missa, é o ato de renúncia consciente, em que por opção abrimos mão de algo em nome de outra coisa mais relevante e de maior significado. Sacrifício, portanto, é o "sagrado ofício" que conduz à libertação.
...A imposição de limites, expressão de amor, de cuidado, função paterna fundamental para a estruturação do ego, são valores senex, que famílias com características puer
têm dificuldade de assimilar e, portanto, de transmitir.(puer-criança/senex-velho)
livro: Puer-Senex/Dinâmicas relacionais de Dulcinéia da Mata Ribeiro Monteiro(organizadora)
Editora Vozes
segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Falai de Deus com a clareza - Cecília Meireles
Falai de Deus com a clareza
da verdade e da certeza:
com um poder
de corpo e alma que não possa
ninguém, à passagem vossa,
não O entender.
Falai de Deus brandamente,
que o mundo se pôs dolente,
tão sem leis.
Falai de Deus com doçura,
que é difícil ser criatura:
bem o sabeis.
Falai de Deus de tal modo
que por Ele o mundo todo
tenha amor
à vida e à morte, e, de vê-Lo,
O escolha como modelo superior.
Com voz, pensamentos e atos
representai tão exatos
os reinos seus
que todos vão livremente
para esse encontro excelente.
Falai de Deus.
Falai de Deus com a clareza
da verdade e da certeza:
com um poder
de corpo e alma que não possa
ninguém, à passagem vossa,
não O entender.
Falai de Deus brandamente,
que o mundo se pôs dolente,
tão sem leis.
Falai de Deus com doçura,
que é difícil ser criatura:
bem o sabeis.
Falai de Deus de tal modo
que por Ele o mundo todo
tenha amor
à vida e à morte, e, de vê-Lo,
O escolha como modelo superior.
Com voz, pensamentos e atos
representai tão exatos
os reinos seus
que todos vão livremente
para esse encontro excelente.
Falai de Deus.
quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O desenvolvimento para W. Winnicott não é linear e sim em espiral. Sua progressão é quase sempre seguida de uma regressão temporária que não é patológica, mas que, ao contrário, proporciona um local de descanso, uma volta à base do lar.

Livro: Natureza humana/Donald W. Winnicott
Muito obrigada a todos que visitam este blog
Visualizações de página do mês passado
2.414
Histórico de todas as visualizações de página
42.485
quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Os sentimentos humanos são assim mesmo. Em se tratando de sentimentos nós não temos a impressão de "poder" que temos com os pensamentos, porque, enquanto nos parece que fazemos os pensamentos irem e virem quando nós queremos, os sentimentos têm outra autonomia, eles vão e vêm quando eles querem.
Estação Desembarque(Referências existenciais para o jovem contemporâneo) José Ernesto Bologna/Editora De Leitura
segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Sem manutenção, a casa cai; sem semeadura , os campos morrem; e sem cultivo nossas vidas interiores ficam vagarosas e seguramente desgovernadas, de forma que quando mais precisarmos delas, quando as circunstâncias de nossas vidas experientes mais lhes exigirem, nossa fibra moral, nossa sabedoria, nossa compaixão e nosso amor não estarão mais à nossa disposição.
Livro: De volta para casa de Norman Fischer(Editora Rocco)
Imagem: Internet/ tela K. Atkinson
domingo, 25 de setembro de 2011

No filme Sociedade dos poetas mortos há uma cena exemplar a respeito dessa visão filosófica. No Welton Academy, o professor de literatura interpretado pelo ator Robin Willians pergunta aos alunos: Vocês sabem por que o homem faz ciência, medicina , química, engenharia? Para viver mais. E para que viver mais? Para ter mais tempo para usufruir da arte, da poesia, do amor".
Livro: Preciso dizer o que sinto de Eugenio Mussak
Foto: Eliete Cascaldi Sobreiro
Local: Rio de Janeiro
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
sábado, 17 de setembro de 2011

O que aprendemos até agora–Affonso Romano de Sant’Anna
"A vida vai nos levando e, às vezes, a gente pára e se pergunta: "Mas o que foi que aprendi de essencial até agora?
"A vida vai nos levando e, às vezes, a gente pára e se pergunta: "Mas o que foi que aprendi de essencial até agora?
"Essas rugas, esses cabelos brancos, esses filhos, esses netos, todos esses corpos, casas e países habitados, todos os jornais e livros que lemos ( ou que nos leram), os animais que tivemos, tudo o que nos exibiram nos museus do espanto, enfim, tanta alegria e perplexidade, tudo isto, para quê?…
Salomão foi sintético demais quando resolveu, já no ocaso dizer"vaidade das vaidades, tudo é vaidade".Há algumas sutilizas nessa aprendizado.
Talvez o verdadeiro aprendizado comece quando descobrimos que certas perguntas não têm respostas, que a arte da vida não está em achar respostas, mas em trocar de perguntas, que as fundamentais são irrespondíveis, e que as perguntas são mais viscerais do que as respostas.
Então, como naqueles jogos em que se vai lançando dados e avançando nas casas a percorrer, a gente pode dizer para outro:"Ah! Você ainda está nessa pergunta? Olha , eu já estou nesta aqui, é ótima, ela tem me enriquecido , mobilizado, me feito viver intensamente".
Sobre o amor a julga ter aprendido algo, mas sempre se surpreende que está repetindo as lições. Ah! O amor-esse interminável aprendizado. Cada amor é um amor, cada amor um jeito de amar o próprio amor. E reconhecendo que o amor é a essência das essências, então a gente pode reconhecer que erraram os que disseram que era o trabalho, a luta de classes e a guerra que moviam a história. O que move a história e nossos pequenos gestos é o desejo. O desejo e seus desdobramentos: amor e paixão. O resto são máscaras do mesmo.
Aprendemos, então, que se ama diferentemente em cada idade. E a perícia maior na arte de amar é descobrir as sutilezas do amor que em cada idade o amor nos doa.
Aprende-se com isto que o amadurecimento tem o som, o ritmo do adágio. Para trás vai ficando o saltitante "allegro vivace", chega um tempo em que assumimos o ritmo do discreto outono. E a nossa figura incorpora aquilo que se chama a pátina do tempo. Aprende-se que as amizades são delicadas. São muito delicadas as amizades, e muitas podem se romper ao mínimo descuido, e cultivá-las está entre a arte do ikebana e a arte da porcelana.
Aprende-se também que país é mais que um mapa, mais que um conjunto de forças econômicas e sociais, que um país, no fundo, é um desejo, uma fantasia que não se realizará jamais. Que cada um tem um país na cabeça, e do confronto de todas essas fantasias com as impossibilidades é que se faz o país possível.
Aprende-se que, na verdade, precisaríamos de poucas coisas, que a volúpia de possuir e de acumular é uma perversão dos civilizados. Precisamos de uma casa, do amor, da família, de meia dúzia de objetos e de amigos, precisamos que nos respeitem e, no entanto, meu Deus! como é difícil obter isto. Em certos livros clássicos há sempre uma cena em que alguém experimentado dá conselhos a um jovem que parte para a vida. Adianta pouco. O jovem só vai entender aquilo quando tiver feito metade da travessia.
Aprende-se que, na verdade, precisaríamos de poucas coisas, que a volúpia de possuir e de acumular é uma perversão dos civilizados. Precisamos de uma casa, do amor, da família, de meia dúzia de objetos e de amigos, precisamos que nos respeitem e, no entanto, meu Deus! como é difícil obter isto. Em certos livros clássicos há sempre uma cena em que alguém experimentado dá conselhos a um jovem que parte para a vida. Adianta pouco. O jovem só vai entender aquilo quando tiver feito metade da travessia.
Às vezes tenho a pretensão de achar que já estou começando a entender certas coisas. Há muito que tenho esta sensação,de que um certo sentido vai se configurando.Daqui a uns cem anos, quando eu morrer, vou pedir para me colocarem esse epitáfio entre duas reticências:
"...logo agora que eu estava começando a compreender...".
foto: Geraldo Cascaldi
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Por Nilton Bonder
Não só a carência física dará valor "às coisas" do mundo,mas também as carências emocionais , intelectuais e espirituais.
A correlação entre bem-estar e honestidade é das mais profundas. Só dorme bem à noite quem foi honesto durante o dia.Essa honestidade nada tem a ver com a honestidade moral, mas com a honestidade para com seus valores-as relações que estabelecem o ser em meio a um ambiente.
A experiência de se ter todas as necessidades saciadas na fonte de seu desejo é a própria definição da morte.
Para o equilíbrio, a carência e o excesso são igualmente tóxicos.
Não existem "impulsos ao bem" per se. Esses impulsos são sempre "impulsos ao mal" trabalhados pelo valor.
A vida é, portanto , um processo de gestão. Nela cabem não só as ações por sobrevivência, mas também as estratégias para sobreviver a uma vida tão plena quanto o possa ser e que inclui também a sua continuidade por novas gerações.
O bem-estar é produzido por esses três componentes-sobrevivência, plenitude(paz) e continuidade - e não é alcançável sem a mediação dos valores.
Livro: Ter ou não ter, eis a questão:A sabedoria do Consumo
Fotos: Eliete Cascaldi Sobreiro
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Abrindo espaços íntimos...
Ela sabia que a entrada daquele homem pela porta de sua casa não era uma coisa banal. Não chegava ser um terremoto, mas se preparava para alguns deslocamentos geológicos na sua alma.
Diria que ela propiciava que isto acontecesse, como se ali fosse se cumprir um ritual. E seria bom que ele também soubesse disto, que as pessoas não deviam entrar numa vida, numa casa e consequentemente num corpo de maneira desatenta e egoísta.
Ela sabia que a entrada daquele homem pela porta de sua casa não era uma coisa banal. Não chegava ser um terremoto, mas se preparava para alguns deslocamentos geológicos na sua alma.
Diria que ela propiciava que isto acontecesse, como se ali fosse se cumprir um ritual. E seria bom que ele também soubesse disto, que as pessoas não deviam entrar numa vida, numa casa e consequentemente num corpo de maneira desatenta e egoísta.
A casa é lugar de permanência, mais que motel ou hotel. Exige cumplicidades mais delicadas.
Contudo, precavida quanto a essa noção de permanêcia, sabendo que a vida às vezes é um deserto por onde passam caravanas e tuaregues, admitiu que já seria bom se a casa se convertesse num oásis.
Os primitivos sabem melhor que nós, pretensos civilizados, que estabanadamente banalizamos tudo que o ritual é que dá sentido aos fatos. Mínimos gestos ou certos instantes, podem se tornar históricos se estiverem entranhados desse ritmo denso de adágio que têm os rituais.
Cruzar um umbral, a soleira, ultrapassar um limite são coisas graves. Porque uma coisa é o ver, o aproximar-se, o apertar a mão, dar um sorriso e se tocar progressivamente procurando intimidade. Mais do que ocupar espaços, isto é ir povoando espaços.
Externamente é quando os amantes vão se ampliando, se alongando e habitando conjuntamente o que é público; o cinema, o restaurante, a caminhada na praia. Mas, de repente, estar na casa, na sala, na suite do outro, ver as roupas no closet, ver a escova e os grampos na bancada do banheiro, os vidros de perfume, aqueles objetos de decoração na mesa da sala, cinzeiros de prata, uma escultura da Polinésia ou cópia de uma santa barroca, isto, convenhamos, é estar com a alma exposta.
É como abrir portas, janelas e gavetas. Há o inesperado. E as pessoas e casas, que são senão gavetas dentro de gavetas, caixas dentro de caixas? Então, ir se aproximando de alguém, penetrar no espaço físico onde a figura amada habita é ir , como na estrutura da caixa chinesa, que contém outra e outras até, enfim, chegar ao latente coração do outro.
Essa mulher está rodeada de objetos que tiveram outra história, outras histórias. E durante algum tempo, como se estivesse num luto secreto adiou reinaugurar o leito, reencenar os gestos, esperar que outro homem fizesse brotar nela arrebatadamente em insuspeitadas regiões do seu corpo.
Até os objetos se deram conta que ela está oferecendo algo muito delicado. Daí uma cumplicidade entre os objetos da casa e o corpo dessa mulher. Eles também esperam que esse homem venha como um cauteloso conquistador. Há uma expectativa no ar, a comoda barroca guarda em suas volutas e elipses alguma tensão, o abajur emana uma contida luz e os tapetes parecem reanimar ternuras. Enfim, os objetos estão conscientes de seu papel de coadjuvantes.
Se ele ao invés da delicadeza do gato que é capaz de passar por taças de cristal sem quebrá-las, for do tipo invasor, um godo ou visigodo, que não controla os limites e fala preenchendo tudo egocentrica e desatentamente, então ocorrerá uma inapelável ruptura, a profanação do instante.
Ela gostaria que ele chegasse como o viajante que vindo de longe, no entanto, fala a sua língua. Alguém que não extrapolasse do presente nem invadisse seu passado e futuro. Ela o quer nos limites para os quais está preparada agora.
Ela gostaria que ele chegasse com a virilidade suave de um anjo.
Os primitivos sabem melhor que nós, pretensos civilizados, que estabanadamente banalizamos tudo que o ritual é que dá sentido aos fatos. Mínimos gestos ou certos instantes, podem se tornar históricos se estiverem entranhados desse ritmo denso de adágio que têm os rituais.
Cruzar um umbral, a soleira, ultrapassar um limite são coisas graves. Porque uma coisa é o ver, o aproximar-se, o apertar a mão, dar um sorriso e se tocar progressivamente procurando intimidade. Mais do que ocupar espaços, isto é ir povoando espaços.
Externamente é quando os amantes vão se ampliando, se alongando e habitando conjuntamente o que é público; o cinema, o restaurante, a caminhada na praia. Mas, de repente, estar na casa, na sala, na suite do outro, ver as roupas no closet, ver a escova e os grampos na bancada do banheiro, os vidros de perfume, aqueles objetos de decoração na mesa da sala, cinzeiros de prata, uma escultura da Polinésia ou cópia de uma santa barroca, isto, convenhamos, é estar com a alma exposta.
É como abrir portas, janelas e gavetas. Há o inesperado. E as pessoas e casas, que são senão gavetas dentro de gavetas, caixas dentro de caixas? Então, ir se aproximando de alguém, penetrar no espaço físico onde a figura amada habita é ir , como na estrutura da caixa chinesa, que contém outra e outras até, enfim, chegar ao latente coração do outro.
Essa mulher está rodeada de objetos que tiveram outra história, outras histórias. E durante algum tempo, como se estivesse num luto secreto adiou reinaugurar o leito, reencenar os gestos, esperar que outro homem fizesse brotar nela arrebatadamente em insuspeitadas regiões do seu corpo.
Até os objetos se deram conta que ela está oferecendo algo muito delicado. Daí uma cumplicidade entre os objetos da casa e o corpo dessa mulher. Eles também esperam que esse homem venha como um cauteloso conquistador. Há uma expectativa no ar, a comoda barroca guarda em suas volutas e elipses alguma tensão, o abajur emana uma contida luz e os tapetes parecem reanimar ternuras. Enfim, os objetos estão conscientes de seu papel de coadjuvantes.
Se ele ao invés da delicadeza do gato que é capaz de passar por taças de cristal sem quebrá-las, for do tipo invasor, um godo ou visigodo, que não controla os limites e fala preenchendo tudo egocentrica e desatentamente, então ocorrerá uma inapelável ruptura, a profanação do instante.
Ela gostaria que ele chegasse como o viajante que vindo de longe, no entanto, fala a sua língua. Alguém que não extrapolasse do presente nem invadisse seu passado e futuro. Ela o quer nos limites para os quais está preparada agora.
Ela gostaria que ele chegasse com a virilidade suave de um anjo.
E que quando despertasse no dia seguinte tivesse aquela sensação do mito antigo, de que um deus dormiu lá em casa. Tranquila ela veria que a casa e todos os objetos estariam em ordem. Só que encantados. Encantados como ela que encantada sai para um novo dia com um sorriso de posse e confiança. Feliz."
E se olhasse para trás veria que os objetos da casa a contemplam cúmplices e igualmente felizes."
E se olhasse para trás veria que os objetos da casa a contemplam cúmplices e igualmente felizes."
Affonso Romano de Sant'Anna
Assinar:
Postagens (Atom)
Apontadora de Idéias

- Eliete
- São Paulo, Brazil
- "A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)
Arquivo do blog
- ► 2011 (186)
- ► 2010 (180)