quinta-feira, 30 de junho de 2011

*Brincadeira sugerida pela Nina .Escolher um livro, abrir na página da sua idade e escolher um trecho,ilustrando o post com uma bela imagem.





"Se as mulheres acreditassem que um tempo de solitude é uma ambição razoável, encontrariam um meio de alcançá-lo. Por enquanto, sentem tanta dificuldade em justificar suas exigências que nem mesmo tentam. Basta olharmos para mulheres que têm boas condições econômicas, energia e tempo necessários à solitude mas que não os aproveitam;através delas, percebemos que o problema não é só econômico".


Página 57 do livro: Presente do Mar de Anne Morrow Lindbergh


Este pequeno livro, grande em sua simplicidade e sabedoria traz reflexões que ocorreram à autora em seu contato com o mar,com uma praia, com uma ilha.

Anne M.Lindeberg, mulher do aviador americano Charles Lindenbergh, é dona de uma prosa poética incomparável. Neste livro escrito em 1955, Anne explora temas profundamente atuais e humanos-solidão, amor, casamento, maturidade, envelhecimento-e os compara às conchas do mar. Editora Crescer

quarta-feira, 29 de junho de 2011

COM A PERMISSÃO DO SOMOS NOÉIS







DESFRUTE!
RECITE ALTO,
O NOSSO CORDEL!



Somos Noéis!



Bem diz o velho ditado
Ao qual nós somos fiéis
Nessa vida vão-se os dedos
Pra trás ficam os anéis
E crendo nessa verdade
Hoje nós “Somos Noéis!”
Pois durante todo o ano
Trabalhamos pela vida
Temos fé na humanidade
E na paz nela contida
Ajudamos nosso próximo
A achar a força perdida
Essa humilde poesia
É pra você meu amigo
Que acredita que o amor
É sempre o melhor abrigo
E que devemos parar
De olhar só pro nosso umbigo
Se na vida tudo passa
Esqueça o mal que passou
Seja também um Noel
Mostre que o bem triunfou
E façamos todos juntos
Um gostoso hou, hou, hou!
Tarcio Costa 28/06/2011



terça-feira, 28 de junho de 2011


Das lembranças que trago comigo, as cartas de amor são as que mais aquecem meu coração. Cartas de amor! Ah! meu coração saltitatava como um louco. Ao chegar do colégio, lá estava o envelope com o meu nome. Corria para o quarto e ficava a acariciar aquele papel que transformava-se em felicidade plena.

Um dos erros (sem perdão) que trago comigo é o de tê-las devolvido ao emitente, no momento de adeus.

sábado, 25 de junho de 2011

Obriga Zil Mar por este presente tão especial e pelo carinho.
blog:http
:
http://euemmim-recomecar.blogspot.com/

Obrigada ,Marlene por este selo lindo e pela amizade.
blog:http://mentoresdeluz.blogspot.com/


O QUE EU QUERO E SOBREQUERO

é uma expressão de Guimarães Rosa que tomo emprestada para falar do meu maior desejo.

Se uma fada madrinha aparecesse com sua varinha de condão, e me desse a possibilidade de realizar um desejo, não teria a menor dúvida e rapidamente responderia: O que mais quero é tocar em frente a minha vida com valentia e ser feliz sem muitas garantias.

O que mais quero é não ser o meu maior obstáculo, frente às lições do caminho, e ter coragem - seguir em frente apesar dos medos.

O que mais quero e sobrequero é ser como o velho boiadeiro, que leva sua boiada (todas as experiências boas e ruins) sem pressa, com um sorriso, forte e feliz, aceitando e aprendendo com cada passo e escorregadela que vier dar pelo caminho.

O que eu quero é não recuar frente às manhas da vida, manter-me firme e não permitir que a descrença more dentro de mim.

O que eu quero e sobrequero é não produzir pensamentos catastróficos constantemente, para que a paz possa vir em meu auxílio e ritmar o meu coração.

É encontrar um velho boiadeiro que me ajude quando nada sei e que eu também possa, com minha experiência, ser um velho boiadeiro para quem por mim passar.

O que eu quero e sobrequero é não me afastar de Deus e guiar-me sempre por Sua Palavra.

Tocar em frente e compor a própria história, sei bem que nenhuma fada irá me proporcionar, pois essa estrada é um processo de construção particular, intenso e profundo, que se faz continuamente por meio do autoconhecimento .

Cumprir a vida é ser estrada; viver intensamente cada passo dado, não se fechar às possibilidades do caminho, ter um olhar mais generoso para com as pessoas e saber lidar com a própria verdade.

O que eu quero é aprender a amar para poder pulsar e que, antes de morrer, eu saiba viver.

...Cada ser em si carrega o dom se ser capaz e ser feliz.

Inspiração: Tocando em Frente/Almir Sater e Renato Teixeira

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Lembranças são como vaga- lumes que acendem e apagam dentro de nós. Basta um perfume, uma música, um sonho, uma pessoa, para que memórias adormecidas acendam e nos levem para momentos vividos.

Outras, apagam-se silenciosamente e roubam um pouco de nossa vida.

quarta-feira, 22 de junho de 2011


COM A PERMISSÃO DE VIVIAN FERNANDES
O mágico
Angelo contemplava o horizonte, sonhando acordado, enquanto seus pais treinavam seu número de malabaristas. Nascera no circo, mas não havia herdado o talento dos pais. Era distraído e descoordenado demais para os malabares. Possuía um carisma único, e atraía a todos , mas nunca percebia o efeito que causava nas pessoas, tentara quase todos os números do circo, mas não conseguiu se encontrar em nenhum, seu talento dormia fundo em sua alma. Nunca ficava triste ou desanimado, sua tenacidade era espantosa, e assim seguia procurando. Numa de suas observações reparou que o mágico estava ficando cansado, sua idade avançada impedia a precisão de movimentos, solidário foi conversar com ele, percebendo que era a primeira vez que entrava na tenda do mágico . E o deslumbramento o ofuscou por um instante, jamais sentira nada parecido, não sabia se sonhava ou estava desperto.

O mágico percebendo sua reação, começou a contar sua vida de grande mágico, que fora intensa e prazerosa, vinha de uma antiga linhagem de mágicos, e não havia um só descendente que não possuía o dom, mas que infelizmente era o ultimo, como não se casara , não tinha filhos. Mas que ficaria contente em passar os segredos da mágica adiante, precisava de um aprendiz. Angelo nem respirava com a intensidade da emoção que o tomava por inteiro e sem pestanejar se ofereceu como aprendiz. A nova rotina não era fácil, os pais não viram com bons olhos mais esta tentativa, mas conseguiu convence-los que nascera para isso. Acordava muito cedo e passava o dia com o mágico, que ia lhe ensinando o ofício, a sua famosa distração lhe causou muitos contratempos, perdia o baralho e não o encontrava na hora certa, o coelho nunca estava na cartola, quando ia retirá-lo, mas não esmorecia, estava fascinado e mesmo depois de meses sem um progresso não aceitava que não possuía o dom. Tinha certeza que faria um grande número, e ninguém conseguia demove-lo.

Com muito esforço aprendeu os números básicos, para uma pequena apresentação, mas em seu intimo ansiava por um número que o consagraria como O Mágico, e sabia que conseguiria. Insistiu em aprender o desaparecimento no palco, não adiantava o mestre lhe dizer que era muito difícil e não estava pronto, relutante o ensinou, mas lhe avisou que deveria ser treinado com cuidado e muita concentração. Treinou exaustivamente, todos os dias, mas não permitia que ninguém o visse, queria fazer uma surpresa. No dia do espetáculo final, convenceu o dono do circo que estava pronto, e como era amável e encantador nunca lhe negavam nada. O circo estava lotado, seria o último a se apresentar, fecharia a temporada, nesta pacata cidade. Precisou de todo o seu carisma para prender a atenção dos expectadores, e executou de forma tranquila tudo o que aprendera, deixando o desaparecimento para o final. De forma teatral fez a grande apresentação e ante o olhar abismado do público desapareceu sem nem se esconder atrás de um pano, simplesmente sumiu, deixando a platéia enlouquecida, pedindo bis, como não retornou foram todos embora, comentando sobre o maravilhoso espetáculo, principalmente do número final. No dia seguinte as manchetes de todos os jornais , só falavam da espetacular proeza do Mágico. Naquela noite, os integrantes do circo, fizeram uma busca, mas Angelo não foi encontrado, no final ele conseguira seu intento e seu feito jamais foi esquecido. Falavam dele, com voz baixa , cheia de admiração e espanto,o grande Mágico que sumiu.
Vivian Fernandes do blog: http://floresnojardimdavida.blogspot.com/

terça-feira, 21 de junho de 2011


A desordem dos meus sentimentos não tem me deixado encontrar a paz que um dia conquistei.

domingo, 19 de junho de 2011

Com a permissão de Be Lins...

Bocas, Borboletas e Amores

Não é maravilhoso ter a liberdade de abrir a boca e dizer o que bem vier no meio da telha? Tudo bem!... não é bem assim. De fato a gente não pode sair por aí dizendo tudo que se passa por nossas "caxolas voadoras" mas, bem pensadinho, a gente sai falando oq ue pensa quase sem causar maiores danos, SE...
Com a letra A, creio que a palavra mais dita seja AMOR. Hoje uma borboleta encostou no meu rosto e, dizem, quando isso acontece temos o direito à um pedido. Como levo essas pequenas superstições à sério, muito à sério mesmo, pensei. Pensei muito antes de pedir e pedi amor. Amor nos meus gestos, nos caminhos, nas pessoas com quem me encontrasse, comigo mesma, amor. Amor a tudo envolvendo, feito uma bruma azulada que cobre carinhosamente os lindos entardeceres invernais.
Atitudes amorosas. Parece muito simples para muitos, mas para mim, colocar amor nos mínimos detalhes, nas palavras, assim, BEM CONSCIENTEMENTE, tem que ser lembrado. O que é uma grande pena agir assim, robotizadamente porque, quando penso intencionalmente no amor antes de qualquer gesto, antes das palavras serem ditas, tudo parece ficar um pouco mais leve. Um pouco mais simples, também. E alegre. E divino. Amor tem muito a ver com BOA VONTADE. Nada a ver com o contrário disso, a muito mal vista má vontade, e também a preguiça. Por isso, há que se ter disposição para o amor. E cuidado. Na verdade, atenção. Atenção a cada segundo que antecede a ação e a perigosa ação de abrir o bocão para falar. Amor é acréscimo. Amor romântico é excesso, mas aí é definitivamente outro papo, embora de todo jeito, amor seja sempre caminho.

Caminho que revela a existência como algo mais saudável, mais próspero, mais surpreendente.
É isso aí. E falando em surpresas, é sempre uma surpresa ( surpresa para quem não aprende nunca a lição) um dia vivido e falado na língua do amor. Dá quase pra dizer que esbarrei na felicidade.
Mas um dia, e é certo que tentarei muito, eu espero chegar lá. Lá, bem perto dessa tal intencionalidade amorosa espontânea.


sexta-feira, 17 de junho de 2011

Ontem, a lua tocou suavemente nas cordas do amanhecer.



foto: Eliete Cascaldi Sobreiro

No outono da vida quero florir como um ipê , ser leve como o vento e deixar cair os excessos que um dia carreguei.


terça-feira, 14 de junho de 2011

foto: Eliete Cascaldi

Simplesmente

Vista de perto, toda a gente é monotonamente diversa.

Fernando Pessoa

A sala está em penumbra, e a cortina branca de seda balança suavemente.A brisa e o barulho da rua penetram timidamente pela janela.O dia esteve quente, e o trânsito, como sempre, infernal, fazendo com que ela demorasse a chegar a sua casa.Logo na entrada, lê a placa que comprou numa feirinha: ”Aqui tem gente feliz”.

Joga a chave do carro, a bolsa e finalmente seu corpo no sofá, respirando profundamente.Fecha os olhos, e com as mãos abraça seu corpo, desejando encontrar-se, ou melhor, procurando juntar seus pedaços e sentir que está viva.

Imóvel, dança no compasso de seu coração, cantarolando mentalmente: “Meu coração não sei por que, bate feliz quando te vê”...

O velho carrilhão, amigo fiel da família, parece querer dar-lhe as boas vindas, pois começa a tocar.Agora, relaxada, é capaz de sentir o cheirinho do jasmim que enfeita a sacada de sua casa.

Sabe que está vivendo um verdadeiro estado de graça e, consciente deste presente, procura retê-lo, assim como fez quando fixou fortemente em sua memória os olhos azuis de sua avó, minutos antes de ela falecer.

Sabe que a felicidade consiste nisso: na capacidade de absorver avidamente as pequenas coisas.

Esse momento é único; é o mar abrindo-lhe para que ela faça sua travessia a terra prometida, tal como Moisés.

Um barulho de chaves na porta ao lado e eis que o mar se fecha, e ela retorna ao mundo de todos. O vizinho chegando, indica-lhe que é hora de esquentar o jantar; logo as crianças entrarão em algazarra.

Ela daria tudo para poder prolongar esse momento de encontro profundo consigo mesma, de paz e solitude.

Mas é hora de “tratar da vida”...

Eliete Cascaldi Sobreiro

sábado, 11 de junho de 2011

foto: Eliete Cascaldi Sobreiro

“Há, dentro de cada um de nós, um “jardim secreto”, fechado, que precisa ser aberto. O terapeuta, serviçal, é o jardineiro. Tem a obrigação de cuidar do jardim. Arrancar os matos e pragas, por causa das flores.

Terapia é isso: visitar o jardim secreto, até que se encontre a chave perdida.”
Rubem Alves.

sexta-feira, 10 de junho de 2011


UBUNTU

A jornalista e filósofa Lia Diskin, no Festival Mundial da Paz, em Floripa (2006), nos presenteou com um caso de uma tribo na África chamada Ubuntu.

Ela contou que um antropólogo estava estudando os usos e costumes da tribo e, quando terminou seu trabalho, teve que esperar pelo transporte que o levaria até o aeroporto de volta pra casa. Sobrava muito tempo, mas ele não queria catequizaros membros da tribo; então, propôs uma brincadeira pras crianças, que achou ser inofensiva.Comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, botou tudo num cesto bem bonito com laço de fita e tudo e colocou debaixo de uma árvore.

Aí ele chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse "já!", elas deveriam sair correndoaté o cesto, e a que chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro.As crianças se posicionaram na linha demarcatória que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse "Já!", instantaneamente todas as crianças se deram as mãos e saíram correndo em direção à árvore com o cesto.

Chegando lá, começaram a distribuir os doces entre si e a comerem felizes.O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou porque elas tinham ido todas juntas se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto e, assim, ganhar muito mais doces.Elas simplesmente responderam: "Ubuntu, tio. Como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?"Ele ficou desconcertado! Meses e meses trabalhando nisso, estudando a tribo, e ainda não havia compreendido, de verdade,essência daquele povo.

Ou jamais teria proposto uma competição, certo?

Ubuntu significa: "Sou quem sou, porque somos todos nós!"Atente para o detalhe: porque SOMOS, não pelo que temos...

UBUNTU P'RA VOCÊ!

terça-feira, 7 de junho de 2011

foto: Eliete Cascaldi

MEU PRIMEIRO AMOR

As coisas pedem pouso quando amam.

Carlos Nejar

Era um domingo de verão e o sol dava sinais de que estava chegando para valer. Os cachorros já se colocavam a postos, cuidando para que ninguém se aproximasse da casa de seus donos, e os passarinhos voavam e cantavam, saudando o alvorecer.Eu estava pronta para a caminhada diária, pensava fazer o mesmo percurso de sempre.Mas, por alguma razão não consciente, fui tomando o caminho do centro da cidade. Após alguns minutos, encontrava-me perto do jardim da Catedral.Os passos ficaram mais lentos e, interiormente, fiz marcha a ré.Meus olhos observavam cada detalhe daquela paisagem; as pedras, as árvores e os bancos que ali permaneciam fiéis às suas histórias.Decepcionada, percebo habitantes novos, as pombas que parecem ter feito daquele lugar seu habitat.Sinto muita tristeza e uma grande culpa por ter- me afastado por tanto tempo daquele lugar mágico.Lágrimas brotaram instantaneamente de meus olhos. Era só saudade.

saudade, palavra triste quando se perde um grande amor”

O jardim da Catedral foi o meu primeiro amor, e esse reencontro com minha história causou-me uma profusão de sentimentos.

“igual uma borboleta vagando triste por sobre uma flor”

Como a força de um ímã, aquele chão de pedras atraiu vários fragmentos de memória, que foram ligando um fato ao outro, um sentimento com outro.Aos domingos, meu irmão e eu íamos à missa das nove horas, e caso nos comportássemos bem, poderíamos brincar no coreto do jardim e correr por suas calçadas.Naquele jardim, aprendi a andar de tico-tico, passeava com o carrinho vermelho de bolinhas brancas, levando minha boneca preferida, e foi naquele jardim que fiquei maravilhada com as unhas postiças feitas com flores amarelas que nasciam nos canteiros que rodeavam o jardim.Dou-me conta de que todas essas lembranças estão vivas e fazem vibrar todo o meu corpo.

Hoje consigo perceber que o jardim, com suas duas partes, a superior, que parecia uma extensão da Catedral, guarda todas as vivências da criança que fui, e a parte debaixo do jardim contém recordações da adolescência. Muitas vezes íamos à tarde, depois das aulas, para namorar.Quantas lembranças naqueles bancos ali espalhados, e que estavam sempre ocupados por namorados ou grupos de jovens a conversar.

Esse jardim ainda continuou a fazer parte de minha vida por muito tempo. Quando casada ,muitas vezes levei minha filha para ver a fonte luminosa, comer pipoca e ouvir a banda tocar no coreto.Tenho certeza de que esse jardim não foi só meu, que foi o primeiro amor de muitas pessoas que aqui nasceram e cresceram.O sino da Catedral tocou, e o silêncio, povoado de ressonâncias do vivido intensamente, esvaiu-se , e minha atenção dirigiu-se para o momento presente, lembrando-me de que tinha um longo caminho de volta para casa.

Hoje quero conhecer lugares novos que irão proporcionar-me experiências maravilhosas, de que mais tarde recordarei com saudades, mas também sei que o primeiro amor o tempo não leva. É muito bom quando os lugares mágicos ficam preservados para confirmar nossas lembranças, o que infelizmente nem sempre acontece.

Inspiração: Meu primeiro amor

Composição: Hermínio Gimenez, José Fortuna e Pinheirinho Jr.

domingo, 5 de junho de 2011

Dewing_Thomas_Summe

A infinita fiadeira


(A aranha ateia
diz ao aranho na teia:
o nosso amor
está por um fio!)

A aranha, aquela aranha, era tão única: não parava de fazer teias! Fazia-as de todos os tamanhos e formas. Havia, contudo, um senão: ela fazia-as, mas não lhes dava utilidade. O bicho repaginava o mundo. Contudo, sempre inacabava as suas obras. Ao fio e ao cabo, ela já amealhava uma porção de teias que só ganhavam senso no rebrilho das manhãs.
E dia e noite: dos seus palpos primavam obras, com belezas de cacimbo gotejando, rendas e rendilhados. Tudo sem fim nem finalidade. Todo o bom aracnídeo sabe que a teia cumpre as fatais funções: lençol de núpcias, armadilha de caçador. Todos sabem, menos a nossa aranhinha, em suas distraiçoeiras funções.

Para a mãe-aranha aquilo não passava de mau senso. Para quê tanto labor se depois não se dava a indevida aplicação? Mas a jovem aranhiça não fazia ouvidos. E alfaiatava, alfinetava, cegava os nós. Tecia e retecia o fio, entrelaçava e reentrelaçava mais e mais teia. Sem nunca fazer morada em nenhuma. Recusava a utilitária vocação da sua espécie.
- Não faço teias por instinto.

- Então, faz porquê?
- Faço por arte.

Benzia-se a mãe, rezava o pai. Mas nem com preces. A filha saiu pelo mundo em ofício de infinita teceloa. E em cantos e recantos deixava a sua marca, o engenho da sua seda. Os pais, após concertação, a mandaram chamar. A mãe:
- Minha filha, quando é que assentas as patas na parede?
E o pai:
- Já eu me vejo em palpos de mim...

Em choro múltiplo, a mãe limpou as lágrimas dos muitos olhos enquanto disse:
- Estamos recebendo queixas do aranhal.
- O que é que dizem, mãe?
- Dizem que isso só pode ser doença apanhada de outras criaturas.

Até que se decidiram: a jovem aranha tinha que ser reconduzida aos seus mandos genéticos. Aquele devaneio seria causado por falta de namorado. A moça seria até virgem, não tendo nunca digerido um machito. E organizaram um amoroso encontro.
- Vai ver que custa menos que engolir mosca - disse a mãe.
E aconteceu. Contudo, ao invés de devorar o singelo namorador, a aranha namorou e ficou enamorada. Os dois deram-se os apêndices e dançaram ao som de uma brisa que fazia vibrar a teia. Ou seria a teia que fabricava a brisa?
A aranhiça levou o namorado a visitar a sua colecção de teias, ele que escolhesse uma, ficaria prova de seu amor.
A família desiludida consultou o Deus dos bichos, para reclamar da fabricação daquele espécime.

Uma aranha assim, com mania de gente? Na sua alta teia, o Deus dos bichos quis saber o que poderia fazer. Pediram que ela transitasse para humana. E assim sucedeu: num golpe divino, a aranha foi convertida em pessoa. Quando ela, já transfigurada, se apresentou no mundo dos humanos logo lhe exigiram a imediata identificação. Quem era, o que fazia?

- Faço arte.
- Arte?

E os humanos se entreolharam, intrigados. Desconheciam o que fosse arte. Em que consistia? Até que um, mais-velho, se lembrou. Que houvera um tempo, em tempos de que já se perdera memória, em que alguns se ocupavam de tais improdutivos afazeres. Felizmente, isso tinha acabado, e os poucos que teimavam em criar esses pouco rentáveis produtos - chamados de obras de arte - tinham sido geneticamente transmutados em bichos. Não se lembrava bem em que bichos. Aranhas, ao que parece.

Mia Couto, In O Fio das Missangas

sexta-feira, 3 de junho de 2011

imagem recebida por e-mail, portanto, não sei o autor

Saudade é um buraco dolorido na alma. A presença de uma ausência. A gente sabe que alguma coisa está faltando. Um pedaço nos foi arrancado. Tudo fica ruim. A saudade fica uma aura que nos rodeia. Por onde quer que a gente vá, ela vai também. Tudo nos faz lembrar a pessoa querida. Tudo que é bonito fica triste, pois o bonito sem a pessoa amada é sempre triste. Aí, então, a gente aprende o que significa amar: esse desejo pelo reencontro que trará a alegria de volta.

A saudade se parece muito com a fome. A fome também é um vazio. O corpo sabe que alguma coisa está faltando. A fome é a saudade do corpo. A saudade é a fome da alma.

(Rubem Alves)

Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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