domingo, 21 de fevereiro de 2016




Meu chão, meu pão ...

Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor.
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor.
Sérgio Bittencourt
 
 
Meu chão não é de mármore, nem de granito,  nem de seixos do mar:  Meu chão está perto de uma poltrona de couro surrado na sala daquela casa que já dá sinais de exaustão. Seus cômodos, móveis, janelas e jardins  contam muito de quem eu sou e a história de minha família. Remontam memórias que estão vivas por terem ali o seu berço.
Meu chão não é a poltrona e, sim, aquela mulher que se  senta diariamente nela: Minha mãe, meu chão, meu pão...
Sentada em sua poltrona assegura-me de que sou capaz de ser timoneira do meu barquinho no mar da vida. Não necessito de que ela resolva minhas dificuldades e os meus problemas. Não!
Basta sua presença  ali, naquela cadeira, para ter a certeza de que eu posso ir, de que terei forças para enfrentar o que for preciso.
 O medo, quando surge, é dela se cansar e querer partir. Nesse momento, uma tristeza ronda meu ser; busco seus olhos e a magia se dá. Nossos olhos conversam, acariciam-se, abraçam-se, sem precisar da boca e de suas palavras. Muitos sentimentos brotam: somos filha e mãe, mãe e filha. Somos uma só pessoa e isso nunca irá morrer. Tomo suas mãos, fecho meus olhos, escancaro minhas entranhas e a coloco  dentro de mim.
Seus dedos apertam os meus, abro os olhos e ganho a  imagem das mãos de minha filha sobre a minha e, um toque suave e quente , de imediato ,  toma inteiramente meu corpo, ao me lembrar das mãozinhas do meu neto sobre as mãos da sua mãe e sobre as minhas.
Tenho a confirmação, nesse momento, do mistério da vida e de que estamos todos construindo nosso chão.  O  andar não é errante e nossos passos não são sem controle.
 
texto:Eliete T. Cascaldi Sobreiro, escrito para o jornal O Combate na data 19 de janeiro de 2016

 

Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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