quinta-feira, 15 de abril de 2010


ORAÇÃO DO MATUTO
Fátima Irene Pinto

Ói Deus,
nóis tá sempre pedindo as coisas pro Sinhô.

Nóis pede dinhero

nóis pede trabaio

nóis pede pra chovê

e se chove demais

nóis pede pra pará

mode a coiêta num afetá.


Nóis pede amô

nóis pede pra casá

pede casa pra morá

nóis pede saúde

nóis pede proteção

nóis pede paiz


nóis pede pra dislindá os nó quano as coisa comprica,

mode a vida corrê mió.

Quano a coisa aperta nóis reza pedindo tudo que farta

é uma pedição sem fim



e se as coisa dá certo nóis vai na igreja mais perto

e no pé de argum santo que seja de devoção

nóis dexa sempre uns merréis

e lá nos cofre da frente nóis coloca mais uns tostão.



Mais hoje Meu Sinhô

bateu uma coisa isquisita

e eu me puis a matutá


nóis pede pede e pede

mas nóis nunca pergunta

comé que o Sinhô está

se tá triste ou contente

se precisa darguma coisa

que a gente possa ajudá

e por esse esquecimento

o Sinhô há de nos descurpá.


Ói Deus, nóis sempre pensa

que o Sinhô não precisa de nada

mais tarvêz não seja assim

tarvêz o Sinhô precisa de mim

sim ... o Sinhô precisa, sim

precisa da minha bondade

pecisa da minha alegria

precisa da minha caridade

no trato com meus irmão.


Nóis somo o seu espêio

nóis somo a sua Criação

nóis num pode fazê feio

nem ficá fazendo rodeio

nem desapontá o Sinhô

nem amargá o seu sonho

que foi um sonho de amô

quando essa terra todinha criô.


Ói Deus, eu prometo

vo rezá dotro jeito

vo pará com a pedição

e trocá milagre por tostão

tarvez inté peça uma graça

mas antes eu vo vê direitinho

o que é que andei fazendo de bão

e se nada de bão encontrá

muito vo me envergonhá

e ainda vo pedí perdão.

Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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