sexta-feira, 9 de dezembro de 2011



A felicidade (Jorge Luis Borges)


O que abraça a uma mulher é Adão.

A mulher é Eva.

Tudo acontece pela primeira vez.

Hei visto uma coisa branca no céu.

Dizem-me que é a lua,mas que posso fazer com uma palavra e com uma mitologia.

As árvores me dão um pouco de medo.

São tão formosas.

Os tranquilos animais se aproximam para que eu lhes diga seu nome

Os livros da biblioteca não têm letras.

Quando os abro surgem.

Ao folhear o atlas projeto a forma de Sumatra.

O que acende um fósforo no escuro está inventando o fogo.

No espelho há outro que está à espreita.

O que olha o mar vê à Inglaterra.

O que profere um verso de Liliencron há entrado na batalha.

Hei sonhado a Cartago e as legiões que desolaram a Cartago.

Hei sonhado a espada e a balança.

Louvado seja o amor no qual não há possuidor nem possuída,mas os dois se entregam.

Louvado seja o pesadelo, que nos revela que podemos criar o inferno.

O que descende a um rio descende ao Ganges.

O que olha um relógio de areia vê a dissolução de um império.

O que joga com um punhal pressagia a morte de César.

O que dorme é todos os homens.

No deserto vi a jovem Esfinge que acabam de lavrar.

Nada há tão antigo baixo o sol.

Tudo acontece pela primeira vez, mas de um modo eterno.


O que lê minhas palavras está inventando-as.
(Tradução de Héctor Zanetti)

Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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