domingo, 10 de fevereiro de 2013

Psicanálise e poesia
“A psicanálise nasceu com a descoberta de que as palavras são cheias de silêncio. Aqueles que só entendem o que é falado ou escrito não entendem coisa alguma: a letra mata.


O corpo fala línguas ininteligíveis: glossolalia. Babel deve dar lugar a Pentecostes. A verdade vive no avesso daquilo que é conhecido com familiaridade. Sabedoria é loucura, loucura é sabedoria. Como o Deus Absconditus, a verdade também vem escondida, sob um disfarce. Ela usa máscaras.
 
 Todas as palavras, tomadas literalmente, são falsas. A verdade mora no silêncio que existe em volta das palavras. Prestar atenção ao que não foi dito, ler entre as linhas. A atenção flutua: toca as palavras sem cair em duas armadilhas, sem ser por elas enfeitiçadas. Cuidado com a sedução da clareza! Cuidado com o engano do óbvio!
[...]

A psicanálise é um ouvir atento do silêncio que mora nos interstícios das palavras, a fim de ouvir o que não foi falado.Mas isso não foi invenção da psicanálise: a psicanálise apenas acreditou naquilo que já havia sido conhecido por milhares de anos e depois varrido para fora do salão como lixo, pela etiqueta das ideias claras e distintas.
Muito antes da psicanálise, os poetas buscam as palavras que moram no silêncio.”



Rubem Alves em Lições de Feitiçaria

Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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