terça-feira, 7 de abril de 2015

PAREDES DE GELO



O humano é só.
Clarice Lispector

Tudo era branco, de um branco que cegava , caso fixasse o olhar naquela direção.
O lugar era imenso, muito além do que os olhos humanos poderiam vislumbrar. Silêncio e Frio eram as marcas daquele lugar.
Altas paredes de gelo compunham a paisagem, e estavam naqueles mesmos lugares, há milhares de anos.
De repente, um minúsculo ponto surge neste mar branco. Parece um borrão de tinta em uma folha branca, mas o frio intenso traz novamente o Mar, do qual não há como fugir. Percebe-se agora, claramente, um homem tentando guiar seu barco por entre paredes de gelo.
A expressão era de dor, seus gestos de terror, pois sentia a inutilidade de suas ações. Sabia o quanto ele era pequeno, e  vãs suas tentativas em estabelecer qualquer sinal de ajuda.
Quanto mais lutava, mais paredes imensas de gelo colocavam-se em seu caminho. Impassíveis, elas ignoravam as necessidades daquele pobre homem que,  apavorado,  rogava por ajuda.
Nada! Nenhum movimento, nenhum sinal indicando Vida. Era pura desolação branca!
Em seu desespero, o homem busca por forças; sabe que sua salvação está em enfrentar,  a qualquer custo, aquelas paredes de gelo  que impediam a passagem.
Teria de olhar as geleiras, correr o risco de cegar-se, mas era preciso...
Ao fixar os olhos nos picos daquelas paredes, um fenômeno inesperado acontece.
Contrário ao que temia e esperava, sua visão tornou-se nítida e, assustado,  reconhece os rostos de amigos e familiares em cada cume daqueles paredões de gelo. Não é mais o branco que turva  seu olhar e,  sim, suas lágrimas que correm abundantes, ao entender, perfeitamente, o que estava acontecendo –lhe.
Aquela imensidão branca, gélida, vazia, era a sua vida. Uma vida de indiferença à dor e  às necessidades do “Outro”.
Insensíveis, incapazes de sensibilizarem-se uns com os outros, os homens constroem, com seus remos-atitudes, paredes de gelo que acabam por obstruir seus caminhos e fazendo o mundo um lugar cada vez mais difícil à sobrevivência da espécie.
Aquele homem só consegue chorar! Suas lágrimas abrem fendas nas paredes de gelo, permitindo –lhe a passagem.
Suas forças crescem cada vez mais, porque agora quer chegar depressa ao seu destino e contar a todos a grande revelação.
Mas, eis que, neste misto de alegria e tristeza, surge à sua frente, imponente e assustador, um paredão imenso.  Por alguma razão misteriosa, o homem luta internamente, pois entende que é preciso conhecer seu maior inimigo. Tem medo, muito medo, como se pressentisse  que a grande revelação ainda estava por acontecer.
Uma sensação de peso vai tomando todo seu ser e, de repente é ele, o imenso paredão de gelo.
A vertigem é enorme, suas forças  cedem; sente-se oco, vazio e começa a cair rapidamente naquele abismo.
Sobressaltado , acorda assustado e suando daquele horrível pesadelo!

texto: Eliete T. Cascaldi Sobreiro
Imagem: internet




Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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