
..."a cultura faz tanta pressão para nos dobrar desde pequeninos (que é quando se torce o pepino) que a questão do alívio se torna prioritária em nossas vidas. Passamos a vida esperando a hora da chateação passar. Desde a hora de chegar o peito, continuando na hora de acordar e ser castigado porque fez xixi na cama, passando pela hora de tocar o sino porque a aula acabou, a hora de terminar os deveres de casa, a hora de terminar o expediente, de tirar os sapatos apertados e folgar os dedinhos, de tirar a gravata, de arranjar um marido para não ficar solteirona, de casar porque todos os amigos já casaram e tem-se que virar homem sério, de tomar um drinque que ninguém é de ferro, de chegar o fim de semana e esquecer esta loucura, de sair de férias porque eu já não aguento mais, de ganhar na loteria e ser feliz, de se aposentar daquela chateação, de ter um pretexto para sair de casa e não morrer de tédio, de chegar a hora da novela para viver a vida dos outros porque a da gente, ah, a da gente é isso aí.
Onde um projeto de vida?
Onde o tempo para se planejar alguma coisa?
Aonde foram as metas da juventude?
Crescer na nossa cultura acaba se tornando sinônimo de sobreviver.
Fonte: A criação segundo Freud: O que queremos para nossos filhos?
Francisco Daudt da Veiga