quarta-feira, 24 de março de 2010


Nunca reparastes, Teótimo, no ardor com as criancinhas se agarram às vezes ao seio de suas mães, quando têm fome? Vemo-las, resmungando, estreitarem e apertarem o peito, sugando o leite tão àvidamente, que até causam dor às mães. Mas, depois que o frescor do leite acalma de algum modo o calor apetitoso do seu peito, e que os agradáveis vapores que ele lhes envia ao cérebro começam a adormecê-las, Teótimo, vê-las-íeis fechar devagarinho os olhinhos, e ceder pouco a pouco ao sono, sem todavia largar o peito, sobre o qual não fazem ação alguma a não ser a de um lento e quase insensível movimento de lábios, pelo qual sugam sempre o leite, que engolem imperceptìvelmente: e fazem isso sem pensar, mas certamente não sem prazer; porquanto, se se lhes tira o peito antes que as tenha dominado o sono profundo, elas acordam e choram amargamente, testemunhando, na dor que sentem com a privação, bastante doçura terem sentido na posse.
Ora, o mesmo sucede com a alma que está em repouso e quietude diante de Deus; pois ela suga quase insensìvelmente a doçura dessa presença, sem discorrer, sem operar e sem fazer coisa alguma por qualquer das suas faculdades, senão só pela ponta da vontade, que ela mexe docemente e quase imperceptìvelmente, como a boca pela qual entra o deleite e o saciamento insensível que ela acha em gozar da presença divina. E, se se incomoda essa pobre criancinha e se lhe quer tirar o seio já que ela parece adormecida, ela bem mostra então que, embora durma para todo o resto das coisas, não dorme todavia para essa; pois percebe o mal dessa separação, e zanga-se com ele, mostrando com isso o prazer que, embora sem nele pensar, achava no bem que possuía” (São Francisco de Sales, Tratado do amor de Deus, l.6, c.9, p.313-314).

Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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