
"A convivência de um casal favorece trocas e transformações. Se um dos dois tem hábitos saudáveis, pode influenciar o outro a parar de fumar, por exemplo. Quando a mudança vem valorizar quem muda, ela é positiva e desejada. Mas muitas vezes muda aquele que não deveria mudar. É comum alguém se afastar dos amigos ao se envolver com uma pessoa anti-social, quando o ideal seria que esta se dispusesse a fazer amizades.
O leitor poderá dizer que o erro é de quem escolheu abrir mão dos amigos, que essa não foi uma escolha inteligente. Na teoria é assim, mas na prática não é tão simples .
Afetos como paixão, desejo, medo e ciúme comprometem a lucidez. Quando nos envolvemos, podemos admitir coisas que de outro modo seriam inadmissíveis. Quem já não foi vítima de descaso ao apaixonar-se por uma pessoa negligente? É difícil admitir que o alvo de nosso afeto tenha atitudes que não nos agradam. Isso põe em risco o amor próprio e o conceito que temos de nós. Aceitar tal possibilidade é como dar-se um atestado de estupidez, por isso negamos as evidências da inadequação do outro. Também é vergonhoso constatar que amamos quem tem comportamentos impróprios.
Vivemos então um dilema: queremos ou não aquela pessoa? Amamos ou não? Se somos inteligentes, como podemos amar quem faz coisas que nos parecem erradas? Para nos poupar dessa ambivalência, criamos a ilusão de que o escolhido vai mudar - afinal, é inteligente, sabe que deve mudar.
Enquanto naõ muda, porém, a relação continua. A ilusão da mudança mantém distante a idéia de rompimento. Ou seja, escolhemos conviver com quem nos expõe e envergonha. E mais: se a pessoa tem hábitos que a prejudicam, tornamo-nos cúmplices de sua autodestruição. Ao abrir mão de nossas virtudes enquanto o outro não muda, estamos idealizando a nós mesmos. Acreditamos que podemos pôr em risco nossos valores e princípios sem pagar um preço alto por isso. É outro modo de negar a realidade, um caminho para preservar o afeto pelo outro e por nós.
Mas será isso amor? A quem amamos quando fazemos "vista grossa" às escolhas que o ser amado faz e que prejudicam a ambos? Ao negar a realidade para evitar conflitos eliminamos oportunidades de evoluir, negamos a chance de crescimento mútuo que a convivência nos oferece.
Quando abrimos mão de nossas qualidades e permitimos que prevaleçam as atitudes negligentes e comodistas do outro nos nivelamos ao que ele tem de pior e o incentivamos a acomodar-se. Isso não é amor. Nem por nós nem pelo outro.
Como já disse em outras ocasiões, é preciso ter coragem para amar, porque o amor não permite idealizações. Ele não nos deixa na zona de conforto, desafia-nos a mudar - mas para melhor! E mudanças dessa qualidade muitas vezes implicam o fim da relação. Pode parecer contraditório, mas o amor é motivo para rompimentos.
Quando não somos capazes de mudar e gerar benefícios para ambos, é prova de amor romper e libertar o outro da convivência, que o desqualifica. Se amamos alguém que não tem autoestima suficiente para desafiar-se a mudar, é prova de amor romper para servir-lhe de exemplo. Nada melhor que sacrificar o amor que sentimos pelo outro para provar nosso empenho em fazer o que é melhor para os dois!"
O leitor poderá dizer que o erro é de quem escolheu abrir mão dos amigos, que essa não foi uma escolha inteligente. Na teoria é assim, mas na prática não é tão simples .
Afetos como paixão, desejo, medo e ciúme comprometem a lucidez. Quando nos envolvemos, podemos admitir coisas que de outro modo seriam inadmissíveis. Quem já não foi vítima de descaso ao apaixonar-se por uma pessoa negligente? É difícil admitir que o alvo de nosso afeto tenha atitudes que não nos agradam. Isso põe em risco o amor próprio e o conceito que temos de nós. Aceitar tal possibilidade é como dar-se um atestado de estupidez, por isso negamos as evidências da inadequação do outro. Também é vergonhoso constatar que amamos quem tem comportamentos impróprios.
Vivemos então um dilema: queremos ou não aquela pessoa? Amamos ou não? Se somos inteligentes, como podemos amar quem faz coisas que nos parecem erradas? Para nos poupar dessa ambivalência, criamos a ilusão de que o escolhido vai mudar - afinal, é inteligente, sabe que deve mudar.
Enquanto naõ muda, porém, a relação continua. A ilusão da mudança mantém distante a idéia de rompimento. Ou seja, escolhemos conviver com quem nos expõe e envergonha. E mais: se a pessoa tem hábitos que a prejudicam, tornamo-nos cúmplices de sua autodestruição. Ao abrir mão de nossas virtudes enquanto o outro não muda, estamos idealizando a nós mesmos. Acreditamos que podemos pôr em risco nossos valores e princípios sem pagar um preço alto por isso. É outro modo de negar a realidade, um caminho para preservar o afeto pelo outro e por nós.
Mas será isso amor? A quem amamos quando fazemos "vista grossa" às escolhas que o ser amado faz e que prejudicam a ambos? Ao negar a realidade para evitar conflitos eliminamos oportunidades de evoluir, negamos a chance de crescimento mútuo que a convivência nos oferece.
Quando abrimos mão de nossas qualidades e permitimos que prevaleçam as atitudes negligentes e comodistas do outro nos nivelamos ao que ele tem de pior e o incentivamos a acomodar-se. Isso não é amor. Nem por nós nem pelo outro.
Como já disse em outras ocasiões, é preciso ter coragem para amar, porque o amor não permite idealizações. Ele não nos deixa na zona de conforto, desafia-nos a mudar - mas para melhor! E mudanças dessa qualidade muitas vezes implicam o fim da relação. Pode parecer contraditório, mas o amor é motivo para rompimentos.
Quando não somos capazes de mudar e gerar benefícios para ambos, é prova de amor romper e libertar o outro da convivência, que o desqualifica. Se amamos alguém que não tem autoestima suficiente para desafiar-se a mudar, é prova de amor romper para servir-lhe de exemplo. Nada melhor que sacrificar o amor que sentimos pelo outro para provar nosso empenho em fazer o que é melhor para os dois!"
Rosa Avello, psicoterapeuta e especialista em sexualidade humana .