terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Alvíssaras
Frei Betto *

No próximo ano, fecharei a minha caixa de Pandora e farei passarinhar todos os bons propósitos que desafiam a minha fé. Recolherei num jardim de tulipas essa tristeza d’alma que definha o meu ego arrastada pela vaidade.No próximo ano, soterrarei de perdões o meu mal-querer e de afagos essa sórdida tendência de apostar na desgraça alheia. Erguerei a minha taça à vitória do outro e brindarei de louvores as conquistas dos que invadem a minha reserva de caça. Serei dom e não dor.No próximo ano, fecharei as asas da ambição e, vazio de desejos, cavarei túneis no mais profundo de mim mesmo para deixar fluir as águas da plenitude.

No próximo ano, desviarei o olhar da lascívia que esgarça o meu espírito e os ouvidos aos tambores que me impedem dançar na contramão. Não buscarei senão os odores suaves da brisa matinal e darei ao meu paladar o que amarga a língua e adoça o espírito.No próximo ano, porei em prática sábias lições de vida: pão que se guarda endurece o coração; a cabeça pensa onde os pés pisam; o contrário do medo não é a coragem, é a fé. Sairei à rua repleto de silêncio, grávido do ser que me transfigura em morada divina.No próximo ano, segredarei aos peregrinos os três aforismos de meu bem-viver: Deus tem sabor de justiça; a vida trafega a bordo do paradoxo; a morte é verbo e não se conjuga no presente, é sempre pretérito ou futuro.

No próximo ano, espalharei em meu peito sementes de girassol e cobrirei a cabeça com ervas aromáticas, para que a minha pele transpire luz e a minha boca profira perfumes. Não me privarei de suculentas alegrias e nem darei a meu corpo o que não empanturra o espírito.No próximo ano, cultivarei cada um de meus cabelos brancos, modelarei de gorduras a flacidez de minhas carnes e preservarei cioso as rugas que maquiam de sabedoria o meu rosto. Serei belo como o tronco nodoso de uma velha castanheira que, retorcida de braços, abraça o Sol para em seus pés irradiar sombras.
No próximo ano, tratarei o semelhante com a reverência dos anjos e lavarei as portas de minha cidade para acolher em festa os que trazem boas-novas. No contorno dos dias, amarrarei fitas brancas e escovarei a boca da noite até limpar a garganta de sonâmbulas aflições.No próximo ano, não permitirei à língua servir de passarela ao mal-dizer, nem darei ouvidos a quem insiste em violar meu silêncio. Voarei sereno como os albatrozes que, todas as manhãs, impedem que o fragor das ondas fira a pele porosa das praias.No próximo ano, não me deixarei iludir pelos profetas da desgraça, nem me hipnotizar pelos que pincelam de cores vivas os cemitérios. Ficarei atento ao olhar perplexo cravado no rosto encardido dos que suplicam uma côdea de pão e um gole de paz.
No próximo ano, trocarei minhas horas preciosas por horas ociosas e, recostado num banco de parque, darei milho aos pombos e cantarei laudes com os mendigos que, deitados na grama, escarnecem da agonia do tempo. Banharei a minha pele na lagoa pontilhada de moedas faiscantes de prata e, boca aberta sob o chafariz, beberei até embriagar-me de insensatez.No próximo ano, violarei todas as regras da civilidade torpe que me engravata de cabrestos e rasgarei as etiquetas que me fazem perder horas em cuidados supérfluos. Arrancarei do pulso as algemas do relógio que me escravizam ao ritmo implacável de minutos e segundos.No próximo ano, serei irresponsavelmente feliz, liberto dessa onipotência que recobre de fúria a minha excessiva fragilidade. Confessarei a mim mesmo os meus pecados e, crucificado numa roda-gigante, ressuscitarei com a inocência das crianças que sorriem prenhes de vertigens.

No próximo ano, nomearei para o governo da cidade um cavaleiro que chegue montado num burrico e tenha as mãos calosas como quem cavou as entranhas da terra. Não darei lugar aos príncipes revestidos de palavras vãs, nem porei a minha confiança nos arautos surdos ao clamor dos desvalidos.
No próximo ano, farei de Deus o meu pai e o meu pão, e abrirei em laços o meu abraço, até transmutar solitários em solidários. Amarei sobre todas as coisas, para que a minha riqueza, despojada de bens, seja farta em afetos. Fecharei os olhos para ver melhor e, ao crepúsculo, serei consumido e consumado pelas chamas que ardem no lado avesso do meu ser.
• Frei Betto é escritor, autor de “Entre todos os homens” (Ática), entre outros livros.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Você sabe reconhecer a verdade quando ocorre?














Você é capaz de honrar sua palavra, por mais banal que tenha sido a sua promessa?
Você sabe falar a verdade acerca de si mesmo?
Quantos de nós baseamos a nossa auto-imagem em mentiras contadas por nós mesmos? Se aceitamos as mentiras como verdades, as atitudes negativas crescerão como um fungo no nosso coração.
Reconhecer a verdade em si mesmo pode ajudar a evitar pensamentos e comportamentos autodestrutivos. Para praticar corretamente o princípio ético da veracidade precisamos aprender a reconhecer a verdade acerca de nós mesmos.
O que estou fazendo? O que estou dizendo?
Estou porventura dizendo o que realmente sinto? Vivo o que digo?





PROCURE DESCOBRIR
QUEM VOCÊ REALMENTE É.





MENTIR: é uma habilidade que brota quase que espontaneamente e muitas vezes usamos sem cerimônia . Por que mentimos com tanta facilidade? A resposta mais comum é “porque funciona”. Embora arriscado manter o tempo todo (lembre-se do destino do menino que gritou “lobo”) o ser humano continua a utilizar desse artifício com muita freqüência.
AUTO –ENGANO: enganando a nós mesmos
Ironicamente a principal razão de sermos tão bons para mentir aos outros é que somos bons para mentir a nós mesmos.Embora estejamos sempre prontos para acusar os outros de nos enganar, somos incrívelmente distraídos com nossa própria mentira. O estranho fenômeno do auto- engano é objeto de perplexidade. A idéia de que uma pessoa possa iludir a si mesmo parece tão sem sentido quanto trapacear no jogo de paciência. A vantagem do auto-engano é que nos ajuda a mentir aos outros de maneira mais convincente.

Ocultar a verdade de nós mesmos a oculta dos outros.
Mentirosos que se sentem desconfortáveis e tensos não mente bem. Como pinóquio, eles se traem por comportamentos involuntários, não –verbais. Freud comentou certa vez:”Nenhum mortal consegue guardar segredo. Ainda que seus lábios estejam silentes, as pontas de seus dedos falam:todos os seus poros o traem”.
A seleção natural parece ter liquidado o problema do pinóquio ao nos favorecer com a habilidade de mentir para nós mesmos. Enganar a nós mesmos permite-nos manipular egoísticamente os que nos cercam e permanecer convicentemente inocentes perante os próprios olhos.
PONTO CEGO DE CADA UM: Onde não se enxerga o essencial
Um moralista que reprova nos outros o que está reservado para si mesmo como um gozo secreto.
Todo ponto cego tem sua extensão: há o ponto surdo.O cotidiano das relações humanas demonstra-nos que é possível olhar sem ver e ouvir sem escutar. È a vivência da alienação psíquica.È próprio do ser humano resistir em encontrar significação no que lhe é transmitido por outrem.
O conhecimento dos pontos cegos vem com a análise verdadeira de seu Eu.

sábado, 26 de dezembro de 2009


ATO DE CONTRIÇÃO
Artur da Távola

Ah Como somos comedidos!
Acomodamo-nos, vãos,nos limites do concebido.
Somos bem educados, cultos,
e ruge tanta fome
nos apetites fora do concedido.
Ah como somos sob medida!
Sub metidos, hirtos, bem vestidos
robôs impecáveis, ilusão de vida.
Ah , somos como os subvertidos,
introvertida soma de extrovertidos,
por pompa, tinta, arroto ou brilhantina.
Filhos do instante, do entanto e do porém,
somos através, como vidros,
mas opacos e pervertidos, sempre aquém.
Traçamos sinas e abstrações
terçamos ódios finos, dissuadidos,
lãs de olvido e alucinações.
Sovamos os sidos, os vividos,
Somos eiva, disfarce, diluição.
Somos somas e subtrações.

Podemos ser muito melhores do que somos, é só desejar e agir. Façamos 2010 diferente.

Despedindo-se de Papai Noel


Dezembro de 2009 está indo embora...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O AMOR PODE NASCER EM SEU CORAÇÃO.
PREPARE -SE PARA O NASCIMENTO DO MENINO JESUS



DESEJO A TODOS QUE ACOMPANHAM ESTE BLOG UM FELIZ NATAL.


Tu que dormes a noite na calçada de relento

Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento

Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento

És meu irmão amigo

És meu irmão

E tu que dormes só no pesadelo do ciúme

Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume

E sofres o Natal da solidão sem um queixume

És meu irmão amigo

És meu irmão

Natal é em Dezembro

Mas em Maio pode ser

Natal é em Setembro

É quando um homem quiser

Natal é quando nasce uma vida a amanhecer

Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar

Tu que inventas bonecas e combóios de luar

E mentes ao teu filho por não os poderes comprar

És meu irmão amigo

És meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei

Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei

Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei

És meu irmão amigo

És meu irmão

Natal é em Dezembro

Mas em Maio pode ser

Natal é em Setembro

É quando um Homem quiser

Natal é quando nasce uma vida a amanhecer

Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher

José Carlos Ary dos Santos

fonte: http://poesiadiversidade.blogspot.com/

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Escolha o Seu Sonho
Devíamos poder preparar nossos sonhos como os artistas, as suas composições. Com a matéria sutil da noite e da nossa alma, devíamos poder construir essas pequenas obras-primas incomunicáveis, que, ainda menos que a rosa, duram apenas o instante em que vão sendo sonhadas, e logo se apagam sem outro vestígio que a nossa memória.

Como quem resolve uma viagem, devíamos poder escolher essas explicações sem veículos nem companhia – por mares, grutas, neves, montanhas, e até pelos astros, onde moram desde sempre heróis e deuses de todas as mitologias, e os fabulosos animais do Zodíaco. Devíamos, à vontade, passear pelas margens do Paraíba, lá onde suas espumas crespas correm com o luar por entre as pedras, ao mesmo tempo cantando e chorando. – Ou habitar uma tarde prateada de Florença, e ir sorrindo para cada estátua dos palácios e das ruas, como quem saúda muitas famílias de mármore... – Ou contemplar nos Açores hortênsias da altura de uma casa, lagos de duas cores e cestos de vime nascendo entre fontes, com águas frias de um lado e, do outro, quentes... – Ou chegar a Ouro Preto e continuar a ouvir aquela menina que estuda piano há duzentos anos, hesitante e invisível – enquanto o cavalo branco escolhe, de olhos baixos, o trevo de quatro folhas que vai comer...

Quantos lugares, meu Deus, para essas excursões! Lugares recordados ou apenas imaginados. Campos orientais atravessados por nuvens de pavões. Ruas amarelas de pó, amarelas de sol, onde os camelos de perfil de gôndola estacionam, com seus carros. Avenidas cor-de-rosa, por onde cavalinhos emplumados, de rosa na testa e colar ao pescoço, conduzem leves e elegantes coches policromos...
... E lugares inventados, feitos ao nosso gosto; jardins no meio do mar; pianos brancos que tocam sozinhos; livros que se desarmam, transformados em música.

Oh! os sonhos do "Poronominare"!... Lembram-se? Sonhos dos nossos índios: rios que vão subindo por cima das ilhas: ...meninos transparentes, que deixam ver a luz do sol do outro lado do corpo... gente com cabeça de pássaros... flechas voando atrás de sombras velozes... moscas que se transformam em guaribas... canoas... serras... bandos de beija-flores e borboletas que trazem mel para a criança que tem fome e a levantam em suas asas...
Devíamos poder sonhar com as criaturas que nunca vimos e gostaríamos de ter visto: Alexandre, o Grande; São João Batista; o Rei David, a cantar; o Príncipe Gautama...
E sonhar com os que amamos e conhecemos, e estão perto ou longe, vivos ou mortos... Sonhar com eles no seu melhor momento, quando foram mais merecedores de amor imortal.
Ahl... – (que gostaria você de sonhar esta noite?)
MEIRELES, Cecília. Escolha o seu sonho.26 ed., Rio de Janeiro: Record, 2005, PP. 1

sábado, 19 de dezembro de 2009


Tenho em casa uma pintura do italiano Savelli -
depois compreendi muito bem quando soube
que ele fora convidado para fazer vitrais no Vaticano.
Por mais que olhe o quadro não me canso dele...
Pelo contrário, ele me renova.
Nele, Maria está sentada perto de uma janela
e vê-se pelo volume de seu ventre que ela está grávida.
O arcanjo, de pé ao seu lado, olha- a.
E ela, como se mal suportasse
o que lhe fora anunciado
como destino
e destino para a humanidade futura através dela,
Maria aperta a garganta com a mão
em surpresa e angústia.
O anjo, que veio pela janela,
é quase humano:
só suas longas asas é que lembram que
ele pode transladar sem ser pelos pés.
As asas são muito humanas: carnudas,
e seu rosto é o rosto de um homem.
È a mais bela e cruciante verdade do mundo.
Cada ser humano recebe a anunciação:
e, grávido de alma,leva a mão à garganta
em susto e angústia.
Como se houvesse para cada um,
em algum momento da vida,
a anunciação de que há uma missão a cumprir.
A missão não é leve:
cada homem é responsável pelo mundo inteiro.
(Trecho retirado do livro: A Descoberta do Mundo
Clarice Lispector)
A HUMILDADE DE SÃO JOSÉ
São José é o símbolo da humildade.
Ele sabia que não era o pai da Criança
e cuidava da virgem grávida como se ele a tivesse germinado.
São José é a bondade humana.
É o auto- apagamento no grande momento histórico.
Ele é o que vela pela humanidade.
(A descoberta do Mundo:Clarice Lispector)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009


Mateus 1, 18-24
Quanto a Jesus Cristo, a sua origem foi assim: Maria, sua mãe, tinha o casamento tratado com José; mas, antes de se casarem, achou-se grávida pelo poder do Espírito Santo. José, seu noivo, homem justo, não a queria acusar publicamente. Por isso pensou deixá-la sem dizer nada. Andava ele a pensar nisto, quando lhe apareceu num sonho um anjo de Deus e lhe disse: "José, descendente de David, não tenhas medo de casar com Maria, pois o que nela se gerou foi pelo poder do Espírito Santo. Ela vai dar a luz um filho, e tu vais pôr-lhe o nome de Jesus (Salvador), pois ele salvará o seu povo dos pecados." Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: "A virgem ficara grávida e dará a luz um filho que se há-de chamar Emanuel". Quando José acordou, fez como o anjo lhe tinha mandado: recebeu Maria por esposa.O que é que o Senhor me está a querer dizer?


Algumas pistas sobre a leitura de hoje
Contemplo as atitudes de S. José, a sua maneira de sentir e de reagir...
Peço a Deus que me ilumine e que me mostre o caminho da humildade, da verdade e da generosidade.
Peço a S. José a graça da discrição. Rezo pelas famílias...


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O AMOR PRECISA DA RAZÃO?
O coração tem suas razões, das quais a compreensão não sabe nada, pois não se dirigem aos mesmos aspectos da experiência e não buscam os mesmos objetivos.
Existem pelo menos três razões convergentes para que a comunicação deles falhe, como postula o filósofo Zygmunt Bauman.
.O amor trata de valor
.A razão trata do uso
O mundo , visto pelo amor, é uma coleção de valores; visto pela razão , é uma coleção de objetos úteis.
As duas qualidades- de "valor" e de "uso"- são confundidas.Uma coisa não tem valor porque é útil? (voz da razão). A razão tenta anexar, colocar o "valor" a serviço do "uso", transformar o valor num criado ou num derivado do uso.
Mas o valor é a qualidade de uma coisa, enquanto a utilidade é um atributo de quem utiliza tal coisa. É a incompletude do utilizador que o faz sofrer, é a sua ânsia de preencher a lacuna que torna uma coisa útil.
"Usar" significa melhorar a condição do utilizador, reparar uma deficiência; usar "significa estar preocupado com o bem-estar do utilizador".
O que você deseja, você quer usar; consumir, despir de alteridade, tomar sua possessão ou ingerir-fazê-lo parte de seu corpo, uma extensão de você mesmo.
Usar é aniquilar o outro para o bem da própria pessoa.
Amar, significa valorizar o outro por sua alteridade.Desejar reforçá-la nele, proteger essa alteridade, fazê-la florescer e prosperar, estar pronto para sacrificar o próprio conforto, inclusive a própria existência mortal, se isso for necessário para satisfazer essa intenção.



O "uso" significa um ganho para a própria pessoa; o "valor" pressagia sua autonegação.
Usar é tirar
Valorizar é dar
Existe uma terceira oposição que separa razão e amor-a razão inspira a lealdade ao próprio self. O amor, por outro lado, apela para a solidariedade pelo Outro, e assim implica a subordinação da própria pessoa a algo dotado de maior importância ou valor.O amor significa consentimento para um mistério do outro.
O amor precisa da razão mas precisa dela como um instrumento , não de desculpa, justificativa ou escondirijo.
Fonte:A sociedade Individualizada/Zugmunt Bauman

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Sugestões de presentes para o Natal:
Para seu inimigo, perdão.
Para um oponente, tolerância.
Para um amigo, seu coração.
Para um cliente, serviço.
Para tudo, caridade.
Para toda criança, um exemplo bom.
Para você, respeito.


O amor jamais foi um sonho,
o amor, eu bem sei, já provei,
é um veneno medonho.
É por isso que se há de entender
que o amor não é ócio,
e compreender que o amor
não é um vício,
o amor é sacrifício,
o amor é sacerdócio
Chico Buarque

domingo, 13 de dezembro de 2009

Fonte: blog varal das ideias


DEZEMBRO: encerra mais uma etapa.
Será que poderemos dizer, ao final dela, que nosso ano foi "dez"?
Ou tão sem graça que irá, junto com a folhinha de 2009, para a cesta de papéis?


Para construir um ano realmente novo, comecemos já, semeando um cesto de alegrias no coração de quem gostamos.
Chegou a hora: mãos e braços dados na ciranda da vida sigamos.
(autor desconhecido)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009


Conto de todas as cores
Mario Quintana

Eu escrevi um conto azul, vários até. Mas este é um conto de todas as cores. Porque era uma vez um menino azul, uma menina verde, um negrinho dourado e um cachorro com todos os tons e entretons do arco-íris.
Até que apareceu uma Comissão de Doutores – os quais, por mais que esfregassem os nossos quatro amigos, viram que não adiantava. E perguntaram se aquilo era de nascença ou se...
- Mas nós não nascemos – interrompeu o cachorro.
– Nós fomos inventados!
(QUINTANA, Mário. A vaca e o hipogrifo. 3 ed. Porto Alegre, L&PM, 1979. p.34.)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

REPRESSÃO DA CONOTAÇÃO DA PALAVRA




"Antes do aparecimento da ciência empírico-racional as palavras tinham uma ampla conotação.
Com o surgimento das ciências exatas, com sua necessidade de precisão, de cálculo, ela, a ciência, reduziu a conotação, a denotação.
A palavra não tinha mais uma aura que permitisse uma polissemia, um deslizamento. Ela passou a ser dura, engessada, exata.

Os conceitos eram holísticos que podiam ser usados em vários campos da vida, desde a física até a moral. havia um aspecto de mistério nas palavras que as colocavam numa região ao mesmo tempo objetiva e subjetiva, permitindo um uso universal da palavra. A ciência retirando a subjetividade dos conceitos, tornou-os privativos, dando a partida para o esvaziamento do inefável da palavra. na medida em que as ciências exatas obtiveram um estrondoso sucesso, passaram a ser paradigma de todos os outros campos do conhecimento que assim
deveriam renunciar ao mistério, à subjetividade e á imprecisão.
A denotação da palavra passou a valer mais que a conotação. Com isto expulsava-se do mundo o inefável, o fantasmático, o místico".
Nahman Armony,psiquiatra
Membro psicanalista da CPRJ e da SPID
Doutor em Comunicação pela ECO da UFRJ
Professor do curso de pós-graduação lato-senso “Psicologia clínica e Psicossomática” da Universidade estácio de Sá, Rio de Janeiro

“Uma coisa é escrever como poeta, outra como historiador: o poeta pode contar ou cantar coisas não como foram, mas como deveriam ter sido, enquanto o historiador deve relatá-las não como deveriam ter sido, mas como foram, sem acrescentar ou subtrair da verdade o que quer que seja.” (Miguel de Cervantes, escritor espanhol – 1547-1616)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Apesar de chorarmos de vergonha por alguns...

1. O Brasil é o país que tem tido maior sucesso no combate à AIDS e de outras doenças sexualmente transmissíveis, e vem sendo exemplo mundial.
2. O Brasil é o único país do hemisfério sul que está participando do Projeto Genoma.
3. Numa pesquisa envolvendo 50 cidadesde diversos países, a cidade do Rio de Janeiro foi considerada a mais solidária.
4.Nas eleições de 2000, o sistema do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) estava informatizado em todas as regiões do Brasil, com resultados em menos de 24 horas depois do início das apurações. O modelo chamou a atenção de uma das maiores potências mundiais: os Estados Unidos, onde a apuração dos votos teve que ser refeita várias vezes, atrasando o resultado e colocando em xeque a credibilidade do processo.
5 Mesmo sendo um país em desenvolvimento, os internautas brasileiros representam uma fatia de 40% do mercado na América Latina.
6.No Brasil, há 14 fábricas de veículos instaladas e outras 4 se instalando, enquanto alguns países vizinhos não possuem nenhuma.
7.Das crianças e adolescentes entre 7 a 14 anos, 97,3% estão estudando.
8. O mercado de telefones celulares do Brasil é o segundo do mundo, com 650 mil novas habilitações a cada mês. Na telefonia fixa, o país ocupa a quinta posição em número de linhas instaladas.
9. Das empresas brasileiras, 6.890 possuem certificado de qualidade ISO- 9000, maior número entre os países em desenvolvimento. No México, são apenas 300 empresas e 265 na Argentina.
10. O Brasil é o segundo maior mercado de jatos e helicópteros executivos. Por que vocês têm esse vício de só falar mal do Brasil?
11. Por que não se orgulham em dizer que o mercado editorial de livros é maior do que o da Itália, com mais de 50 mil títulos novos a cada ano?
12. Que têm o mais moderno sistema bancário do planeta?
13. Que suas agências de publicidade ganham os melhores e maiores prêmios mundiais?
14. Por que não falam que são o país mais empreendedor do mundo e que mais de 70% dos brasileiros, pobres e ricos, dedicam considerável parte de seu tempo em trabalhos voluntários?
15. Por que não dizem que são hoje a terceira maior democracia do mundo?
16. Que apesar de todas as mazelas, o Congresso está punindo seus próprios membros, o que raramente ocorre em outros países ditos civilizados?
17. Por que não se lembram que o povo brasileiro é um povo hospitaleiro, que se esforça para falar a língua dos turistas, gesticula e não mede esforços para atendê-los bem? Por que não se orgulham de ser um povo que faz piada da própria desgraça e que enfrenta os desgostos sambando.
É! O Brasil é um país abençoado de fato.Bendito este povo, que possui a magia de unir todas as raças, de todos os credos. Bendito este povo, que sabe entender todos os sotaques.Bendito este povo, que oferece todos os tipos de climas para contentar toda gente.
Bendita seja, querida pátria chamada BRASIL.

Escritora holandesa falando do Brasil e mostrando os dados da Antropos Consulting

domingo, 6 de dezembro de 2009

A lua foi ao cinema.
Passava um filme engraçado.
A história de uma estrela
Que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
Uma estrela bem pequena
Dessas que quando apagam.
Ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
Ninguém olhava para ela
E toda luz que ela tinha
Cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
Com aquela histótia de Amor
Que até a lua insiste:
-Amanheça, por favor!
(Paulo Leminski

Quando você pede a uma Estrela,

Não importa onde esteja,

Aquilo que seu coração deseja,virá para você...

(Walt Disney)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Um persistente cio

Mario Sérgio Cortella
É muito interessante observar o quanto a ditadura da velocidade e do “não tenho tempo a perder” retiram do cotidiano das metrópoles (e de suas tristes simulações) uma das mais profundas maneiras de aproveitar, de fato, o tempo: a necessária paciência para a fruição, quase degustação lenta, dos movimentos de busca intensa do prazer originário do universo da leitura. Essa insana tacocracia, vivida sem reflexão, produz uma amarga rejeição à eroticidade inerente aos momentos nos quais é preciso entrar no cio emanado da leitura prazerosa, do mergulho intencional e povoadamente solitário que nos atinge quando nos abandonamos aos sussurros que vêm de dentro.
Por isso, ao escrever sobre A arte de amar (nela incluída a capacidade de não admitir a banalização do erótico no sexual), o psicanalista alemão Erich Fromm - nas suas geniais tentativas de juntar as concepções de Marx e Freud, que tanto influenciaram a contracultura dos anos 1970 - nos advertiu que “o homem moderno pensa perder algo - tempo - quando não faz as coisas depressa; entretanto não sabe o que fazer com o tempo que ganha, a não ser matá-lo”.
Há frase mais tola do que a daquele ou daquela que diz “acho que, para passar ou matar o tempo, vou ler alguma coisa”... Ler um livro para matar o tempo? Não! Afonso Arinos de Melo Franco, importante jurista e político mineiro, conhecido mais por ser autor da primeira lei em 1951 contra a discriminação racial, mas que também era escritor (ingressou na Academia Brasileira de Letras em 1958, mesmo ano no qual foi eleito Senador), escreveu em A escalada que “domar o tempo não é matá-lo, é vivê-lo”.



Viver o tempo! Vivificá-lo, torná-lo substantivo e desfrutável. Ora, nada como um bom livro para fazer pulsar a vida no nosso interior, vida essa que, quando absortos na leitura, nos faz esquecer a fluidez temporal e nos permite suspender provisoriamente a mortalidade e a finitude. É um pouco a percepção que teve o russo Turgueniev, um dos principais escritores do século 19. Na inquietante obra Pais e filhos escreveu: “o tempo, que freqüentemente voa como um pássaro, arrasta-se outras vezes que nem uma tartaruga; mas, nunca parece tão agradável como quando não sabemos se ele anda rápido ou devagar”.
Mas, o que é um bom livro? A subjetividade da resposta é evidente. No entanto, é possível estabelecer um critério: um bom livro é aquele que te emociona, isto é, aquele que produz em ti sentimentos vitais, que gera perturbações, que comove, abala ou impressiona. Em outras palavras, um bom livro é aquele que, de alguma maneira, te afeta e impede que passe adiante incólume.
A emoção do bom livro é tão imensa que se torna, lamentavelmente, irrepetível. Alvaro Lins, crítico literário pernambucano que chegou a chefiar a Casa Civil do governo JK, fez uma reflexão no Notas de um diário de crítica que expressa uma parte dessa contraditória agonia: “Ah, a tristeza de saber, no fim da leitura de certos livros, que nunca mais os leremos pela primeira vez, que não se repetirá jamais a sensação da primeira leitura, que não teremos renovada a felicidade de ignorá-los num dia e conhecê-los no dia seguinte”.
Certa vez o grande lingüista e pensador brasileiro Flávio Di Giorgi pergunta a um aluno em um sarau na PUC-SP se ele já houvera lido a Odisséia, de Homero; o jovem, cabeça baixa, um pouco envergonhado, diz que não. Imediatamente, o professor, olhos umedecidos, diz a ele, voz embargada e com a sinceridade de sempre: “Te invejo; eu já li”.
Assim - mesmo que quase tudo hoje em dia dificulte a urgência de vivificar-se com uma boa leitura, especialmente a estafa resultante do desequilíbrio e da correria incessante -, muitos não se deixam humilhar pelos assassinos do tempo; para impedir a vitória da mediocridade espiritual, há os que cantam com Djavan - na belíssima Faltando um pedaço - e sabem que “o cio vence o cansaço”...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Senhor, Tu vais nascer
e o mundo em dor materna / de parto prematuro
sem ter o enxoval / nem casa ou hospital
aonde te acolher.
Senhor, Tu vais nascer: e há ódios a explodir / em cenas de terror
com homens a mandar / e homens a matar
e homens a morrer.

Senhor, Tu vais nascer
e há esgotos entupidos / por fetos enjeitados
e órfãos sem ter pão / e sem habitação
nem escola onde aprender.
Senhor, Tu vais nascer
e há velhos sem família / casais desempregados
doentes sem consulta / e jovens que procuram
razões para viver.

Senhor, Tu vais nascer
e tanto suor perdido / em terras calcinadas
e sangue e tanta dor / em guerras sem valor
que é bem melhor perder.

Senhor, Tu vais nascer
e a gente sem saber / a forma de acolher-Te.
Se ainda hoje não podes
nascer numa estalagem;
se ele há tantos herodes
que temem tua influência
no espírito do povo,
para que tentar de novo?

Não chega essa experiência
que Te levou à cruz?


Deixa por um momento as tuas ocupações habituais; entra por um instante dentro de ti mesmo, longe do tumulto dos teus pensamentos. Lança para longe de ti as preocupações angustiantes; afasta de ti as inquietações custosas. Dedica um momento a Deus e descansa ao menos um pouco na sua presença… Deixa tudo, menos Deus e aquilo que te possa ajudar a encontrá-lo.
Santo Anselmo (1033-1109)

Apontadora de Idéias

Minha foto
São Paulo, Brazil
"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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