
LIBERDADE E SEGURANÇA: UM ETERNO CONFLITO
"O homem civilizado trocou uma parcela de suas possibilidades de felicidade por uma porção de segurança", afirmou Freud em O mal-estar na civilização.
A felicidade, observou Freud, "vem da satisfação das necessidades que foram represadas em um nível mais profundo.Assim a liberdade significa liberdade para agir conforme os impulsos.
Esse é o tipo de liberdade que tende a ser severamente restringida, pelo bem de "uma porção de segurança", acreditava Freud.
A segurança só pode ser oferecida se a vazão caprichosa dos desejos for substituida pela ordem.
A liberdade sem segurança não tende a causar menos infelicidade do que a segurança sem liberdade.

Os humanos necessitam tanto da liberdade como da segurança-e o sacrifício de qualquer um deles causa sofrimento. Mas o sacrifício não pode ser evitado, e assim a ânsia por felicidade está destinada a ser frustrada.

Freud postulava que o perfeito equilíbrio entre liberdade e segurança é uma impossibilidade prática.
O desaparecimento de normas e limites era uma visão sedutora quando a vida era vivida com um temor diário de transgressão.
O que nossos ancestrais não previram, era que o reino da liberdade tem um alto preço.
O preço em questão é a insegurança-um desconforto muito mais complexo que inclui incerteza e falta de proteção ;um preço alto ao se considerar o número de escolhas com que uma pessoa deve se confrontar todos os dias.
A individualização veio para ficar, ela traz para um número crescente de pessoas, uma liberdade sem precedentes mas também traz uma tarefa sem precedentes de lidar com suas consequências.
O grande problema é que por causa da endêmica incerteza , um controle sobre o presente é algo que claramente não existe na condição dos homens contemporâneos.A confiança, aquela condição indispensável para todo planejamento racional e toda ação confiável, está flutuando, procurando em vão um terreno firme o bastante para lançar âncora.

O estado de precariedade, transforma todo o futuro em incerto e assim proíbe qualquer antecipação racional- e em particular não permite aquele mínimo de esperança no futuro que é necessário para se rebelar, ainda mais para se rebelar coletivamente.
Temos boas razões para suspeitar que a reconciliação e a coexistência pacífica completa e livre de conflitos entre a liberdade e a segurança é um objetivo inalcançável.
Mas existem razões igualmente fortes para supor que o principal perigo, tanto para a liberdade como para a segurança, está em abandonar a busca por tal coexistência ou em diminuir a energia com que tal busca é conduzida.
Fonte: Zygmunt Bauman em A Sociedade individualizada
Ficamos assim no eterno conflito: se lutamos pela liberdade temos como resultado a perda da segurança; se optamos pela segurança precisamos abrir mão da nossa liberdade.Tensão que segundo Freud tende a se internalizar e depois a confrontar o indivíduo "por dentro"-na forma da luta entre o superego e o id levada a cabo no campo de batalha do "ego".
Você sabe dizer se dá para escolher?