
“Árvore (…) é uma pessoa que não fala; que vive sempre de pé no
mesmo ponto; que em vez de braços, tem galhos; que em vez de unhas, tem folhas;
que, em vez de andar falando da vida alheia e se implicando com a gente (como
os tais astrônomos), dão flores e frutas. Umas dão pitangas vermelhas; outras
dão laranjas doces ou azêdas – e é destas que tia Nastácia faz doces; outras,
como aquela enorme ali (as lições eram sempre no pomar) dão bolinhas pretas
chamadas jaboticabas (…) [as árvores não saem do mesmo lugar] Porque têm raízes
(…) Raiz é o nome das pernas tortas que elas enfiam pela terra adentro. Bem
querem andar, as pobres árvores, mas não conseguem. Só saem do lugarzinho em
que nascem quando surge o machado. (…) Machado é o mudador das árvores – muda a
forma delas, fazendo que o tronco e os galhos fiquem curtinhos. Muda-lhes até o
nome. Árvore machadada deixa de ser árvore. Passa a ser lenha. (…).
(Monteiro
Lobato, Memórias da Emília, São Paulo: Brasiliense, 1973, p. 92-93)
Lobato, Memórias da Emília, São Paulo: Brasiliense, 1973, p. 92-93)