sábado, 26 de fevereiro de 2011

Lindo presente que ganhei de Vivian do blog
http://vivian-floreselivros.blogspot.com/ Obrigada, Vívian!


Cadê você, Mulher?
Oh, pedaço de mim

Oh, metade afastada de mim...
Chico Buarque


Diga-me : Onde está a mulher que você é?
Onde está a mulher que você sonhou ser quando menina, ao brincar de casinha?
Onde está a mulher que brincava de mamãe e filhinha, carregando a boneca nos braços, dando-lhe o peito e fazendo-a dormir?
Onde está a mulher que suspirava pelos cantos apaixonada por aquele garoto que não lhe dava a menor atenção?
Onde está você, mulher, que com roupa de colegial e caderno na mão apressava os passos para encontrar o namorado, e juntos irem estudar matemática?
Onde está você ,mulher, que dançava de rosto colado, andava de mãos dadas e fazia qualquer loucura para viver um grande amor?
Onde está você, mulher, que escrevia bilhetes apaixonados, guardava no diário a flor arrancada dos canteiros das praças e sonhava em ser professora?
Que se arrepiava ao ser tocada , dizia “eu te amo” com rubor e participava de passeatas exigindo paz e amor?
Onde está o seu mistério, sua inocência e seu pudor?
Onde está você, mulher, que agora não sonha mais, que passa o tempo só trabalhando e ralando?
Que se enfeita toda, cuida do corpo para continuar bela, mas desaprendeu de viver uma noite de amor?
Que conversa com todos, sorri e se alegra, mas ao chegar a sua casa está cansada, amuada e irritada?
Cadê você, mulher? Onde ficou seu viço, seu perfume natural, o brilho de seus olhos, o arfar de seu coração?
Mulher, quando foi que você se esqueceu, onde foi que você se perdeu?
Ouça seu coração, ouça com atenção: Você é Mulher.
Sua essência precisa de amor, paixão e carinho; a liberdade conquistada não tem sentido se o preço for a morte da mulher.
Acorda, respire fundo e diga bem devagar: Eu sou Mulher.
Repita quantas vezes for necessário, grite se for preciso, chore e esperneie se for o caso, mas faça alguma coisa para resgatar a mulher que agoniza em você. Pois só assim será capaz de ser feliz.

Eliete Cascaldi Sobreiro



sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Saudade é esperar que a farinha se refaça em grão.
Mia Couto
Todo silêncio é música em estado de gravidez.
Mia Couto


Quem perde esperança foge.
Quem perde confiança esconde-se.
Mia Couto
Antes de nascer o mundo

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011


Narciso e Narciso
Ferreira Gullar


Se Narciso se encontra com Narciso

e um deles finge

que ao outro admira

(para sentir-se admirado),

o outro

pela mesma razão finge também

e ambos acreditam na mentira.


Para Narciso

o olhar do outro,a voz

do outro, o corpo

é sempre o espelho

em que ele a própria imagem mira.

reflete o que o admira

num jogo multiplicado em que a mentira

de Narciso a Narciso

inventa o paraíso.

E se amam mentindo

no fingimento que é necessidade

e assim

mais verdadeiro que a verdade.
Mas exige, o amor fingido,

ser sincero o amor

que como ele é fingimento.

E fingem mais

os dois

com o mesmo esmero

com mais e mais cuidado

- e a mentira se torna desespero.

Assim amam-se agora se odiando.

O espelho

embaciado,

já Narciso em Narciso

não se mira:

se torturam

se ferem

não se largam

que o inferno de Narciso

é ver que o admiravam de mentira

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011


OS 7 TIPOS DE PAZ.

Os índios Aymara, que habitam há séculos as margens do lago Titicaca, nos Andes, defendem a necessidade de sete diferentes tipos de paz.


O primeiro tipo de paz é para dentro de cada um de nós. Com a saúde de nosso corpo, a clareza de nossa mente, a satisfação com nosso trabalho, a alegria com a pessoa que escolhemos para amar. Sem paz consigo mesmo, não há Paz.


O segundo é para cima. Com o espírito de seus antepassados, com o Deus de cada um. Se você não está em paz com o mundo sobrenatural, espiritual, com a metafísica de sua existência, sua paz está incompleta.


O terceiro tipo de paz é para frente, com o seu passado. Diferentemente dos homens brancos com sua arrog ante cultura ocidental que põem o passado para trás, os Aymara o colocam para adiante, por ser o visto, o vivido, o conhecido. Quem tem remorsos, culpas, dívidas não pagas, arrependimentos , não está totalmente em paz


.O quarto tipo de paz é para trás, com seu futuro. Quem tem medo do que virá, está assustado com dívidas a pagar, se apavora com o que terá de enfrentar, com a possibilidade de más notícias, com emprego incerto, esperando más notícias, não está em paz.


O quinto é para o lado esquerdo, com seus próximos. Sem a paz familiar, não há paz. Desavenças domésticas, disputas, queixas, ranger de dentes com a família, o descontentamento com familiares e amigos próximos, tira o sentimento de paz.


O sexto tipo de paz é para o lado direito, com seus vizinhos. Não adianta a paz em casa, se do outro lado da rua estão a ameaça, a desavença, o descontentamento com a casa ao lado tra z impedimentos para a verdadeira Paz.


E o sétimo tipo de paz é para baixo:Com a terra que você pisa, de onde virá seu sustento. Se você provoca a tempestade ou a seca, se o solo secar ou tremer, não haverá paz .

Agradeço à Nádia do blog http://nadialis.blogspot.com/
mais um selinho .
Obrigada, querida Nádia.
1. Grande Sertão:Veredas
Guimarães Rosa
2. Bíblia
3.Livro do Desassossego
Fernando Pessoa
4.Todos os blogs que sigo

domingo, 20 de fevereiro de 2011


Oração da Criança

Abençoai o leite e o pão

E este macio colchão

Em que vou ficar deitada

Descansando, sossegada.

E fazei com que eu não tenha

Medo da noite que passa,

E durma até que o sol venha

Bater na minha vidraça.

Abençoai meus brinquedos

Que para mim não têm segredos;

Meus sapatos que aonde eu queira

Me levam; minha cadeira;

E a lâmpada, e o fogo ardente;

E essa mão boa e paciente

Que cuida tão bem de mim;

E os meus amigos;

e enfim,

Minha mamãe, meu papai,

Sempre unidos.

Abençoai

Pelo mundo diferente

Os filhos de toda gente.

E fazei com que eu também

Durma e acorde em paz.

Amém!

Versão de: Guilherme de Almeida

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

"Isto deve ficar claro: a emoção em si, desordenada e caótica,não vale nada. O importante na emoção é o seu significado. Não podemos falar de emoção sem razão ou, inversamente, de razão sem emoção:uma é o caos, e a outra, matemática pura".
"o porquê é fundamental, pois para nós a experiência é importante; mas o significado da experiência é ainda mais importante.Queremos conhecer os fenômenos, mas queremos sobretudo conhecer as leis que os regem.
Para isso serve a arte: não só para mostrar como é o mundo,mas também para mostrar por que ele é assim e como se pode transformá-lo. Espero que ninguem esteja satisfeito com o mundo tal qual ele é: por isso, há de querer trnasformá-lo".
Augusto Boal em Jogos para atores e não-atores.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011


"A sociedade humana criou a linguagem para podermos comunicar nossos pensamentos, sentimentos e intenções".
Sua opinião, que ele não ventila, é que a origem da fala está no canto, e as origens do canto na necessidade de preencher com som o vazio grande demais da alma humana.
Acabei de ler o livro de J. M. Coetzee/Desonra e adorei.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011


Vidência
Paulo César Pinheiro

Eu vi uma velha, um velho e vi um menino.
E sobre as mãos e o colo da anciã
Eu vi a renda, a agulha, o bilro e a lã
Com que tecia as malhas do Destino.
Eu vi uma velha, e vi um menino e um velho.
E o quase cego olhar desse ancião
Tentava achar em nosso coração
Vestígio ao menos de seu Evangelho.
Eu vi um menino, um velho e vi uma velha.
E esse menino me arrastava a ela.
E a luz do velho se fechava em breus.
Chama-se Tempo esse menino forte.
E a costureira, pois, chama-se Morte.
E o velho cego, então, chama-se Deus.
o muro separa uma ponte une
Se a vingança encara o remorso pune
Você vem me agarra, alguém vem me solta
Você vai na marra, ela um dia volta
E se a força é tua ela um dia é nossa
Olha o muro, olha a ponte,
olhe o dia de ontem chegando
Que medo você tem de nós, olha aí
Você corta um verso, eu escrevo outro
Você me prende vivo, eu escapo morto
De repente olha eu de novo.

domingo, 13 de fevereiro de 2011


Canção de Homens e Mulheres Lamentáveis
Antônio Maria

Esta noite... esta chuva... estas reticências.
Sei lá.
Quem seria capaz de abrir o peito e mostrar a ferida?
De dizer o nome?
De lembrar, sequer lembrar, o rosto?
Quem seria capaz de contar a história?
De chamar o maior amigo, ou melhor, o inimigo, e dizer:
— Estou me sentindo assim, assim, assim...
A humanidade está necessitando, urgentemente, de afeto e milagre.
Mas não sabe onde estão as mãos, nem os deuses.
E, quando souber, vai achar que as mãos e os deuses são de mentira.
Os olhos de todos estarão cheios de medo, os olhos das jovens raparigas, os olhos, os braços, o ventre e as pernas das jovens raparigas, receosos de pagar com os quefazeres do sexo.
Nesta noite, com esta chuva, as jovens raparigas não são importantes. Apenas uma tem importância.
Mas quem seria de todo livre e descuidado, a ponto de dizer o seu nome?
De pensar o seu nome?
Você diria em público o nome da Amada?
E suportaria ouvi-lo?
Não, não; o nome dela, em sua boca ou na dos outros, é tão proibido como sua nudez (dela).
Não há diferença.
E por que você não se transforma no homem banal, que se encharca de álcool, para apregoar a desdita?
Seria mais fácil.
Talvez alguém lhe chamasse de porco e você revidasse com um soco no rosto, um só rosto, de todo o Gênero Humano. Viria a polícia, que simplifica tudo, generalizando.
E tudo se transformaria em notícia:
"Preso o alcoólatra, quando injuriava e agredia a Família Brasileira, na pessoa de um sócio do Country".
Há poucos minutos, em meu quarto, na mais completa escuridão, a carência era tanta que tive de escolher entre morrer e escrever estas coisas.
Qualquer das escolhas seria desprezível.
Preferi esta (escrever), uma opção igualmente piegas, igualmente pífia e sentimental, menos espalhafatosa, porém.
A morte, mesmo em combate, é burlesca.
Uma pergunta, que não tem nada a ver com o corpo desta canção.
Quem saberia discriminar o ódio do amor?
Ninguém.
Os psicologistas e analistas têm perdido um tempo enorme.
Ontem à noite, voltando para casa, senti-me espectador de mim mesmo.
E confesso que, pela primeira vez, não achei a menor graça.
Saíra, pela primeira vez, de óculos e o porteiro do edifício me recebeu com esta agradável pergunta:
— Que é que houve? O senhor está mais velho?
Tirei os óculos e, fitando-o, esperei as desculpas.
Mas o homem continuou:
— O que é que houve?
De ontem para cá, o senhor envelheceu.
Tinha pensado que, sem os óculos...
Não estou escrevendo para ninguém gostar ou, ao menos, entender.
Estou escrevendo, simplesmente, e isto me supre: contrabalança, quando nada.
Esta noite, esta chuva — e poderia escrever as coisas mais alegres, esta noite.
Neruda, coitado, as mais tristes.
Só há uma vantagem na solidão: poder ir ao banheiro com a porta aberta.
Mas isto é muito pouco, para quem não tem sequer a coragem de abrir a camisa e mostrar a ferida.
(9/10/1964)

sábado, 12 de fevereiro de 2011


Preciosidades de Mia Couto

Onde nada se passa, tudo pode acontecer.

A realidade é mais rasteira, feita de peso e de pés na terra.


Em casa de pobre ser o último é ser nenhum.


Confiança manchada, amizade desmanchada.


A pessoa viaja é para ser esperado, do outro lado a mão de gente que é nossa, com nome e história.Como um laço que pede as duas pontas.


fonte: O fio das missangas

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011


Que linda declaração de amor!
faço esta declaração a Deus.

Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos,
Na Profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.
Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinitas dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.
Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.
Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
Em tudo que ainda estás ausente
Eu te amo
Desde a criação das águas,
Desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.
E te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.
Quieto
( Adalgisa Nery )

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

"Para as coisas que há de pior, a gente não alcança fechar as portas".
João Guimarães Rosa/Grande Sertão :Veredas



Não alcanço fechar as portas...
Deste cansaço que esmaga meus gestos
Da angústia que aniquila as ilusões
Do medo que atravanca grandes transformações.
Não alcanço fechar as portas...
Meu fôlego é pequeno prá tantas léguas.
(Eliete)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças, a cada 15 dias, na coluna da Folha de São Paulo.(08/02)
SOU, COM FREQUÊNCIA, chamado a fazer palestras para turmas de formandos. Orgulha-me poder orientar jovens em seus primeiros passos profissionais. Há uma palestra que alguns podem conhecer já pela web, mas queria compartilhar seus fundamentos com os leitores da coluna.
Sempre digo que a atitude quente é muito mais importante do que o conhecimento frio. Acumular conhecimento é nobre e necessário, mas sem atitude, sem personalidade, você, no fundo, não será muito diferente daquele personagem de Charles Chaplin apertando parafusos numa planta industrial do século passado. É preciso, antes de tudo, se envolver com o trabalho, amar o seu ofício com todo o coração. Não paute sua vida nem sua carreira pelo dinheiro. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como consequência. Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser um grande bandido ou um grande canalha. Napoleão não conquistou a Europa por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro.E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar. Tudo o que fica pronto na vida foi antes construído na alma. A propósito, lembro-me de um diálogo extraordinário entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar dos leprosos, diz: "Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo". E ela responde: "Eu também não, meu filho". Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar e realizar têm trazido mais fortuna do que pensar em fortuna.
Meu segundo conselho: pense no seu país. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si. Era muito difícil viver numa nação onde a maioria morria de fome e a minoria morria de medo. Hoje o país oferece oportunidades a todos. A estabilidade econômica e a democracia mostraram o óbvio: que ricos e pobres vão enriquecer juntos no Brasil. A inclusão é nosso único caminho.
Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu vomito. É exatamente isso que está escrito na carta de Laodiceia.É preferível o erro à omissão; o fracasso ao tédio; o escândalo ao vazio. Porque já li livros e vi filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso (ou narra e fica muito chato!).Colabore com seu biógrafo: faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido.
Tenho consciência de que cada homem foi feito para fazer história.Que todo homem é um milagre e traz em si uma evolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro. Você foi criado para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, caminhando sempre com um saco de interrogações numa mão e uma caixa de possibilidades na outra. Não dê férias para os seus pés. Não se sente e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: "Eu não disse? Eu sabia!". Toda família tem um tio batalhador e bem de vida que, durante o almoço de domingo, tem de aguentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo o que faria, apenas se fizesse alguma coisa. Chega dos poetas não publicados, de empresários de mesa de bar, de pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta à noite, todo sábado e todo domingo, mas que na segunda-feira não sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansiar, não sabem perder a pose, não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar. Só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E isso se chama "sucesso". Seja sempre você mesmo, mas não seja sempre o mesmo. Tão importante quanto inventar-se é reinventar-se. Eu era gordo, fiquei magro. Era criativo, virei empreendedor. Era baiano, virei também carioca, paulista, nova-iorquino, global.Mas o mundo só vai querer ouvir você se você falar alguma coisa para ele. O que você tem a dizer para o mundo?

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011


"DESTRALHE-SE"
(por Carlos Solano)
"-Bom dia, como tá a alegria"? Diz dona Francisca, minha faxineira rezadeira, que acaba de chegar.
"-Antes de dar uma benzida na casa, deixa eu te dar um abraço que preste!" e ela me apertou.
Na matemática de dona Francisca, "quatro abraços por dia dão para sobreviver; oito ajudam a nos manter vivos; 12 fazem a vida prosperar".
Falando nisso, "vida nenhuma prospera se estiver pesada e intoxicada". Já ouviu falar em toxinas da casa?
Pois são:
- objetos de que você não precisa,
- roupas que você não gosta ou não usa há um ano,
- coisas feias,
- coisas quebradas, lascadas ou rachadas,
- velhas cartas, bilhetes,
- plantas mortas ou doentes,
- recibos/jornais/revistas antigos,
- remédios vencidos,
- meias velhas, furadas,
- sapatos estragados...
Ufa, que peso! "O que está fora está dentro e isso afeta a saúde", aprendi com dona Francisca. "Saúde é o que interessa. O resto não tem pressa!", ela diz, enquanto me ajuda a 'destralhar', ou liberar as tralhas da casa...
O 'destralhamento' é a forma mais rápida de transformar a vida e ajuda as outras eventuais terapias. Com o destralhamento:
- A saúde melhora;
- A criatividade cresce;
- Os relacionamentos se aprimoram...
É comum se sentir cansado, deprimido, desanimado, em um ambiente cheio de entulho, pois "existem fios invisíveis que nos ligam a tudo aquilo que possuímos".
Outros possíveis efeitos do "acúmulo e da bagunça":
- sentir-se desorganizado;
- fracassado;
- limitado;
- aumento de peso;
- apegado ao passado...
No porão e no sótão, as tralhas viram sobrecarga; na entrada, restringem o fluxo da vida; Empilhadas no chão, nos puxam para baixo; acima de nós, são dores de cabeça; sob a cama, poluem o sono".
"Oito horas, para trabalhar; Oito horas, para descansar; Oito horas, para se cuidar."
Perguntinhas úteis na hora de destralhar-se:
- Por que estou guardando isso?
- Será que tem a ver comigo hoje?
- O que vou sentir ao liberar isto?

...e vá fazendo pilhas separadas...
- Para doar!
- Para jogar fora!
Para destralhar mais:
- livre-se de barulhos,
- das luzes fortes,
- das cores berrantes,
- dos odores químicos,
- dos revestimentos sintéticos...
e também...
- libere mágoas,
- pare de fumar,
- diminua o consumo da carne,
- termine projetos inacabados.
"Se deixas sair o que está em ti, o que deixas sair te salvará.. Se não deixas sair o que está em ti, o que não deixas sair te destruirá", Arremata o mestre Jesus, no evangelho de Tomé.
"Acumular nos dá a sensação de permanência, apesar de a vida ser impermanente", diz a sabedoria oriental. O Ocidente resiste a essa idéia e, assim, perde contato com o sagrado instante presente.
Dona Francisca me conta que "as frutas nascem azedas e no pé, vão ficando docinhas com o tempo". A gente deveria de ser assim, ela diz: "Destralhar ajuda a adocicar."
Se os sábios concordam, quem sou eu para discordar...

domingo, 6 de fevereiro de 2011


“Um mapa mundi que não inclua a Utopia não é digno de consulta, pois deixa de fora as terras a que a Humanidade está sempre aportando”

Oscar Wilde – A alma do homem sob o socialismo

sábado, 5 de fevereiro de 2011


Interessante e muito inteligente.Vale a pena ler!
RIVOTRIL: FERNANDA TORRES
NUNCA FUI corajosa. Depois do nascimento dos meus filhos, o instinto de preservação quintuplicou minha covardia latente. Lutei contra a natureza por quase 20 anos, mas a maternidade me venceu por completo.Li com inveja e espanto a notícia de uma mulher que desconhece o medo. A síndrome de Urbach-Wiethe destruiu sua amígdala, uma estrutura em forma de amêndoa situada no fundo do cérebro, e desarmou seus alertas internos de proteção e perigo.Seria isso uma benção ou uma danação?O fim do ano de 2010 foi especialmente difícil para mim e os meus. Mortes na família, doenças graves, decisões urgentes e infecções sorrateiras culminaram no funil esperançoso de Natal e Ano-Novo.

O resultado foi um temor angustiado que virou o ano de mãos dadas comigo e se recusou a voltar a um nível tolerável depois de passadas as festas.O processo ansioso, cego e insistente, o choro que alimenta o choro, levou muitos amigos a me aconselharem uma visita a um psiquiatra. O nome que mais ouvi, antes mesmo do telefone de um especialista, foi o do milagroso Rivotril. A panaceia me foi descrita como um unguento milagroso, capaz de cortar a sinistrose pela raiz.Em "O Erro de Descartes" (Companhia das Letras, 336 pág., R$ 63), Antônio R. Damásio faz uma advertência contundente a respeito do uso indiscriminado de antidepressivos. Segundo o neurologista português, abrir mão da tristeza é dar adeus a uma das poderosas armas evolutivas responsáveis por manter a raça humana em estado de atenção. Anular a dor seria uma solução tão estranha quanto desligar o radar para não sofrer com a antecipação da tempestade.


Eu não sei se o homem das cavernas, correndo diariamente o risco de ser devorado por uma besta-fera, tinha mais ou menos ansiedade do que um sedentário de meia-idade que assiste às infindáveis hecatombes cotidianas pela TV. Talvez a luz elétrica e o computador tenham nos trazido mais frustrações do que amparo, talvez as paúras de uma vida tão afastada da feroz mãe natureza só se aplaquem mesmo mediante o uso de medicamentos, não sei.Eu sempre desconfiei das bulas reguladoras do humor; do humor, do sono e do apetite. E foi com tal desconfiança que me dirigi à psiquiatra, uma mulher inteligente de quem ouvi uma explicação bastante convincente para os efeitos benéficos que um antidepressivo, ou um ansiolítico, poderiam me trazer.O cérebro é um órgão dotado de uma impressionante capacidade de se remodelar. Graças à essa plasticidade, nos recuperamos de derrames graves, aprendemos a tocar instrumentos e agimos com rapidez diante de situações-limite. Os neurônios acionam novas sinapses, criam vias alternativas, ligam e religam circuitos conforme a necessidade.Mas a persistência de um estado melancólico, por exemplo, potencializa determinadas correntes neurais, fortalecendo uma rede funesta que impede o surgimento de novas saídas para o espírito. Como um rio sobrecarregado em uma enchente, a força das águas foge ao controle da própria vontade e deságua na chamada depressão.O remédio interditaria o pessimismo vicioso e daria chance ao cérebro de se rearticular.


Convencida a derrubar a fundação do muro das lamentações, experimentei o famoso Rivotril pela primeira vez, adiando a investida no antidepressivo.Passei três dias sonolenta e algo abobalhada, evitei dirigir. No terceiro dia, desestimulada e apática, achei que estava pior que antes. Decidi não recorrer ao medicamento na quarta noite e tive dificuldade para dormir. Quando cogitei tomar uma gota do elixir para ir ao encontro de Morfeu, os sinos de emergência badalaram soltos sob a pele.Nunca tive problema de sono. Qualquer droga, lícita ou ilícita, que mexa com esse metabolismo me arrepia os cabelos. Fritei no lençol até cinco da matina. Passei o dia seguinte imprestável e, no outro, depois de uma noite bem dormida e sem sedativos, acordei refeita.O Rivotril me ajudou. Ele agiu como um elefante branco que a gente põe na sala e, no dia que tira, sente um alívio inaudito; mas não resolveu. Sem o auxílio da farmacêutica, recorri a um amigo que insiste em estar vivo há mais de 74 anos."Finja! Crie um personagem e finja ser ele", me disse Domingos Oliveira. "Quem enfrenta a realidade enlouquece, a única saída para a sanidade é uma dose de alienação. A arte é a única saída possível."Não foi bem pela arte.
Meu escapismo atendeu pelo nome de Fernando de Noronha. O mar, os bichos marinhos, o sol e a natureza agreste reverteram violentamente os fluídos da minha psique.
Folha de São Paulo:05 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011


"Eu queria crescer para passarinho".
Manoel de Barros


Ontem estava aqui na minha clínica e eis que recebo uma visita inesperada!


Bate na porta com seu biquinho e curioso parece confirmar que o lugar que procura é este mesmo.
Pede para entrar, afinal, o calor estava demais lá fora.


Maravilhada fico insensível ao seu pedido e corro para fotografá-lo. Ele sem entender meu gesto diz que só veio trazer-me boas notícias. Instantes depois de cumprir a sua missão voa para o céu.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Meu desejo é que todos os pais leiam esta linda história .

O rio das Quatro Luzes - Mia Couto

Vendo passar o cortejo fúnebre, o menino falou:
- Mãe: eu também quero ir em caixa daquelas.
A alma da mãe na mão do miúdo estremeceu. O menino sentiu esse arrepio, como corrente de corpo se desalmando. A mãe puxou-o pelo braço, em repreensão.
- Não fale nunca mais isso.
Um esticão enfatizava cada palavra.
- Porquê, mãe? Eu só queria ir a enterrar como aquele falecido.
- Viu? Já está falar outra vez?
Ele sentiu a angústia em sua mãe já vertida em lágrima. Calou-se, guardado em si. Ainda olhou o desfile com inveja. Ter alguém assim que chore por nós, quanto vale uma tristeza dessas?
À noite, seu pai foi visitá-lo na penumbra do quarto. O menino colocou a dúvida entre os dois: nunca o pai lhe dirigira um pensamento. O pai avançou uma tosse solene, anunciando a seriedade do assunto. Que a mãe lhe passara os seus soturnos comentários no funeral. Que se passava, afinal?
- Eu não quero mais ser criança.
- Como assim?
- Quero envelhecer rápido, pai. Ficar mais velho que o senhor.
Que valia ser criança, se lhe faltavam meninices? Este mundo não estava para infâncias. Porque nos fazem com esta idade, tão pequenos, se a vida aparece sempre adiada para outras idades, outras vidas? Deviam-nos fazer já graúdos, ensinados a sonhar com conta medida. Mesmo o senhor, meu pai, passa a vida louvando a sua infância, seu tempo de maravilhas. Se foi para lhe roubar a fonte desse tempo, por que razão o deixaram beber dessa água?
- Meu filho, você tem que gostar viver, Deus nos deu esse milagre. Faça de conta que é uma prenda.
Mas ele não gostava dessa prenda. Não seria que Deus lhe podia dar outra, diferente?
- Não diga disso, Deus lhe castiga.
E a conversa não teve mais diálogo. Fechou-se sob promessa de punição divina. O menino permanecia em desistência de tudo. Sem nenhum portanto nem consequência.
Até que certa vez ele decidiu visitar seu avô. Certamente ele o escutaria, com maiores paciências.
- Avô, o que é preciso para se ser morto?
- Necessita ficar nu como um búzio.
- Mas eu tanta vez estou nuzinho.
- Tem que ser leve como lua, além da nuvem.
- Mas eu já sou levinho como a ave penugenta.
- Precisa mais: precisa ficar escuro na escuridão.
- Mas eu sou tinto e retinto. Pretinho como sou até, de noite, me indistinto do pirilipampo avariado.
Então, o avô lhe propôs o negócio. As leis da vida fariam prever que ele fosse retirado primeiro da vida. Pois, ele falaria com Deus e requereria mui respeitosamente que se procedesse a uma troca: o miúdo fosse transferido em lugar do avô.
- A sério, avô? O senhor vai pedir isso por mim?
- Juro, meu filho. Eu amo demais viver. Vou pedir a Deus.
E ficou combinado e jurado. A partir daí, o menino visitava o avô com ansiedade de capuchinho vermelho. Desejava saber se o velho parente não estaria atacado de doença, falho no respirar, coração gaguejado. Mas o avô continuava direito e são.
- Tem rezado a Deus, avô? Tem-lhe pedido consoante o combinado?
Que sim, tinha endereçado os ajustados requerimentos. A troca das mortes, o negócio dos finais. Esperava deferimento ensinado pela paciência. Conselho do avô: ele que, entretanto, fosse meninando, distraído nos brincados. Que ainda agora, o mais que ele se lembrava era o mais antigo de sua existência. E lhe contou os lugares secretos de sua infância, mostrou-lhe as grutas junto ao rio, perseguiram juntos pegadas de bichos. O menino, sem saber, gozava os amplos territórios da infância. No contar do avô o moço se criançava, convertido em menino. A voz antiga era o pátio onde ele se adornava de folguedos. E assim sendo.
Uma certa tarde, o avô visitou a casa dos seus filhos, sentou-se na sala e ordenou que o neto saísse. Queria falar, a sós, com os pais da criança. E o velho deu entendimento: criancice é como amor, não se desempenha sozinha. Faltava aos pais serem filhos, juntarem-se miúdos com o miúdo. Faltava aceitarem despir a idade, desobedecer ao tempo, esquivar-se do corpo e do juízo. Esse é o milagre que um filho oferece - nascermos em tempos nunca havidos. E mais nada falou. Agora, disse ele, já me vou, porque senão ainda adormeço com minhas próprias falas.
- Já assim velho, sou como o cigarro: adormeço na orelha.
Se ergueu e, na soleira, rodou como se tivesse sido assaltado por pedaço de lembrança. E anunciou que estava sofrendo um cansaço. Que era natural, respondeu apressado o filho. O velho emendou, sereno.
- Não é desse cansaços que nos pesam. Ao contrário, agora ando mais celestial que nuvem.
Que aquela fadiga era a fala de Deus, mensagem que estava recebendo na silenciosa língua dos céus.
- Estou ser chamado. Quem sabe esta é nossa última vez?
O casal recusou despedir-se. Acompanharam o avô a casa e sentaram-no na cadeira da varanda. Era ali que ele queria passar a última fronteira. Olhar o rio, lá em baixo. E ali ficou, em silêncio. De repente, ele viu a corrente do rio inverter de direcção.
- Viram? O rio já se virou.
E sorriu. Estivesse confirmando o improvável vaticínio. O velho cedeu às pálpebras. Seu sono ficou sem peso. Antes, ainda murmurou no ouvido de seu filho:
- Diga a meu neto que eu menti. Nunca fiz pedido nenhum a nenhum Deus.
Não houve precisão de mensagem. Longe, na residência do casal, o menino sentiu o reverter-se o caudal do tempo. E ele se achou mais celestial que nuvem. E os olhos do menino se intemporaram em duas pedrinhas. Mas, no leito do rio, se afundaram quatro luzências.
Da feição que fui fazendo vos contei o motivo do nome deste rio que se abre na minha paisagem, frente à minha varanda. O rio das Quatro Luzes.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Mais um selo para o meu blog. Desta vez o presente veio do blog:http://zinamaria.blogspot.com/
Obrigada , Zina querida ,bjs


“Essa felicidade que supomos
(…)
Existe, sim: mas nós não a alcancamos
Porque esta sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos”

(Vicente de Carvalho-1866-1924)

Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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