terça-feira, 8 de setembro de 2009

Saudade
Almir Sater
Se queres compreender o que é saudade
Terás antes de tudo compreender
Sentir o que é querer e o que é ternura
E ter por bem um grande amor viver
Então compreenderás o que é saudade
Depois de ter vivido um grande amor
Saudade é solidão melancolia
É nostalgia, é recordar, viver
Saudade é solidão melancolia
É nostalgia, é recordar, viver

O que foi, já passou...
mas não passou dentro de mim
o frenezi ao atravessar as banguelas da cidade,
a alegria de andar na escada rolante,
o primeiro beijo,
o primeiro sundae de morango,
o primeiro salto alto,
o friozinho na barriga ao descer a serra do mar e avistar o mar de Santos,
o medo de pincelar a garganta,
a decepção por não ter sido vestida de anjo nas procissões para Maria,
as vésperas do natais
o gostinho da bala de cevada,
o grito do Tarzan,
os carnavais e suas músicas maravilhosas,
a dificuldade de jogar pião e vê-lo rodar,
jogar amarelinha,pular corda,brincar de esconde-esconde.
ficar ouvindo música e namorando nos bancos da praça,
as torturas em sentar com os saiotes de barbatanas,
dos amigos de colégio e da faculdade,
da minha infãncia ,
a emoção ao chegar do colégio e ter uma carta do namorado em cima da cômoda me esperando...
O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss
O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone
A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
"Problemas de moça" viraram TPM
Confete virou MM
A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse
Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal
Ninguém mais vê...
Ping-Pong virou Babaloo
O a-la-carte virou self-service
A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão
O que era praça virou shopping
A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD
A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email
O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do "não" não se tem medo
O break virou street
O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também
O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Bis
Polícia e ladrão virou counter strike
Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato
Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita?
Gal virou fênix
Raul e Renato,Cássia e Cazuza,Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...
A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!
A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz......
De tudo
Inclusive de notar essas diferenças
Luiz Fernando Veríssimo

Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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