quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O AMOR PRECISA DA RAZÃO?
O coração tem suas razões, das quais a compreensão não sabe nada, pois não se dirigem aos mesmos aspectos da experiência e não buscam os mesmos objetivos.
Existem pelo menos três razões convergentes para que a comunicação deles falhe, como postula o filósofo Zygmunt Bauman.
.O amor trata de valor
.A razão trata do uso
O mundo , visto pelo amor, é uma coleção de valores; visto pela razão , é uma coleção de objetos úteis.
As duas qualidades- de "valor" e de "uso"- são confundidas.Uma coisa não tem valor porque é útil? (voz da razão). A razão tenta anexar, colocar o "valor" a serviço do "uso", transformar o valor num criado ou num derivado do uso.
Mas o valor é a qualidade de uma coisa, enquanto a utilidade é um atributo de quem utiliza tal coisa. É a incompletude do utilizador que o faz sofrer, é a sua ânsia de preencher a lacuna que torna uma coisa útil.
"Usar" significa melhorar a condição do utilizador, reparar uma deficiência; usar "significa estar preocupado com o bem-estar do utilizador".
O que você deseja, você quer usar; consumir, despir de alteridade, tomar sua possessão ou ingerir-fazê-lo parte de seu corpo, uma extensão de você mesmo.
Usar é aniquilar o outro para o bem da própria pessoa.
Amar, significa valorizar o outro por sua alteridade.Desejar reforçá-la nele, proteger essa alteridade, fazê-la florescer e prosperar, estar pronto para sacrificar o próprio conforto, inclusive a própria existência mortal, se isso for necessário para satisfazer essa intenção.



O "uso" significa um ganho para a própria pessoa; o "valor" pressagia sua autonegação.
Usar é tirar
Valorizar é dar
Existe uma terceira oposição que separa razão e amor-a razão inspira a lealdade ao próprio self. O amor, por outro lado, apela para a solidariedade pelo Outro, e assim implica a subordinação da própria pessoa a algo dotado de maior importância ou valor.O amor significa consentimento para um mistério do outro.
O amor precisa da razão mas precisa dela como um instrumento , não de desculpa, justificativa ou escondirijo.
Fonte:A sociedade Individualizada/Zugmunt Bauman

Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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