
O coração tem suas razões, das quais a compreensão não sabe nada, pois não se dirigem aos mesmos aspectos da experiência e não buscam os mesmos objetivos.
Existem pelo menos três razões convergentes para que a comunicação deles falhe, como postula o filósofo Zygmunt Bauman.
.O amor trata de valor
.A razão trata do uso
O mundo , visto pelo amor, é uma coleção de valores; visto pela razão , é uma coleção de objetos úteis.
As duas qualidades- de "valor" e de "uso"- são confundidas.Uma coisa não tem valor porque é útil? (voz da razão). A razão tenta anexar, colocar o "valor" a serviço do "uso", transformar o valor num criado ou num derivado do uso.
Mas o valor é a qualidade de uma coisa, enquanto a utilidade é um atributo de quem utiliza tal coisa. É a incompletude do utilizador que o faz sofrer, é a sua ânsia de preencher a lacuna que torna uma coisa útil.
"Usar" significa melhorar a condição do utilizador, reparar uma deficiência; usar "significa estar preocupado com o bem-estar do utilizador".
O que você deseja, você quer usar; consumir, despir de alteridade, tomar sua possessão ou ingerir-fazê-lo parte de seu corpo, uma extensão de você mesmo.
Usar é aniquilar o outro para o bem da própria pessoa.
Amar, significa valorizar o outro por sua alteridade.Desejar reforçá-la nele, proteger essa alteridade, fazê-la florescer e prosperar, estar pronto para sacrificar o próprio conforto, inclusive a própria existência mortal, se isso for necessário para satisfazer essa intenção.

O "uso" significa um ganho para a própria pessoa; o "valor" pressagia sua autonegação.
Usar é tirar
Valorizar é dar
Existe uma terceira oposição que separa razão e amor-a razão inspira a lealdade ao próprio self. O amor, por outro lado, apela para a solidariedade pelo Outro, e assim implica a subordinação da própria pessoa a algo dotado de maior importância ou valor.O amor significa consentimento para um mistério do outro.

O amor precisa da razão mas precisa dela como um instrumento , não de desculpa, justificativa ou escondirijo.
Fonte:A sociedade Individualizada/Zugmunt Bauman