quinta-feira, 30 de abril de 2015




Ser elegante

Quando falamos em “elegância”, primeiramente, recordamo-nos
de um jeito especial de vestir-se. Refere-se à pessoa que tem bom gosto ao escolher suas roupas e um porte físico privilegiado.
Assim falando, essa referencia é destinada à elegância da “segunda pele”.
Mas a verdadeira elegância é muito mais do que isso. Não se compra, não sofre influência de época ou da moda, pois seus quesitos são alinhavados com atitudes pautadas em princípios éticos .
Aurélio Buarque de Holanda define elegância como:”Distinção de porte, de maneira, garbo, graça,encanto. Bom gosto, gentileza. Cortesia”.
Na elegância do Ser, direito e avesso são uma coisa só, isto é,a conduta não depende de com que está ou onde está. Elegantes são pessoas que vivem com paixão o que fazem, realizando seus dons com excelência e responsabilidade. Não são arrogantes perante o Outro, agem com naturalidade e estão sempre abertas a olharem as novas tendências de época com entusiasmo e abertura.
Ser elegante não é possuir bens materiais, sobrenomes famosos ou  viver recluso em grupos de iguais. Sua marca é a afetividade, e a consciência  de que faz parte de um todo maior.
È aquela pessoa que porta-se com interesse e respeito perante o Outro e com veracidade diante de si mesmo.
Concluindo, pode-se dizer que uma pessoa elegante, é alguém que tece, através do seu comportamento, um mundo mais bonito, e que mesmo espelhando-se em modelos que considera dignos, o faz com a sua marca singular.

Eliete T.Cascaldi Sobreiro

foto: minha avó, Alice, exemplo de uma pessoa elegante



domingo, 19 de abril de 2015




Estou com saudades de Deus,

uma saudade tão funda que me seca.

Estou como palha e nada me conforta.

O amor hoje está tão pobre, tem gripe

meu hálito não está para salões.

Fico em casa esperando Deus,

cavacando a unha, fungando meu nariz choroso,

querendo um pôster dele, no meu quarto,

gostando igual antigamente

da palavra crepúsculo.

Que o mundo é desterro eu toda vida soube.

Quando o sol vai-se embora é pra casa de Deus que vai

pra casa onde está meu pai.

Adélia Prado em O coração disparado, ed. Record.


quinta-feira, 16 de abril de 2015

Alguma coisa acontece...



Uma alma mais cansada do que os olhos.
Fernando Pessoa

Alguma coisa acontece em nossos corações, eles parecem pouco ensolarados, apertados e solitários.

Alguma coisa acontece com nossos olhares, pois espreitam perigos em tudo que lhes é estranho, diferente.

Alguma coisa acontece com nossos braços, que não mais suportam amparar o Outro.

Alguma coisa acontece com nossas relações, pois estão cada vez mais frias,  desconfiadas e violentas.

Há um mal-estar geral em viver num mundo tão desencantado, tão carente de gentileza, de amor, de olho no olho. Onde todos os pés estão atolados pelo medo, todas as mãos trancadas pelo narcisismo. Onde o movimento é sempre afastar-se, duvidar, fechar-se, recusar o que não conhece ou o que lhe é estranho.

A dura realidade nas filas, nas vilas, favelas, nas casas belas é viver subtraindo, deixando de partilhar, de trocar, de tocar, de contar, de falar com o Outro.

Nas duras poesias concretas de nossas esquinas é que vamos somando defesas,  preconceitos, crenças que reduzem os encontros.
As deselegâncias discretas dos nossos gestos vão dividindo o mundo de tal forma que todos acabam sentindo-se forasteiros, estranhos em sua própria terra.

Multiplicamos medos, angústias, solidão.

Há de chegar o dia em que nossos corações abrirão avenidas amplas de mão dupla para as relações, nas quais a verdade irá muito além do que se vê.

Há de chegar o dia em que não abriremos fendas naquilo que é diferente, em que ouviremos o som de nossas almas e não nos nortearemos por sinais superficiais. Seremos, enfim, éticos, seres que respeitam a alteridade, que são compromissados com a vida e regidos por uma razão pautada pelo respeito. A ética da alegria, da partilha, da liberdade criativa, da fraternidade.

Uma estrela surgirá no céu. Seremos, então, capazes de  nos guiar por ela  e descobriremos o verdadeiro caminho:  o nascedouro do amor.

Escrito por Eliete T. Cascaldi Sobreiro
Foto: Photography Annual 1961
Selection of the word's finest photographs compiled by the Editors of Popular Photography



terça-feira, 14 de abril de 2015


O livro do desassossego


"Nunca deixo saber aos meus sentimentos o que lhes vou
fazer sentir...
Brinco com as minhas sensações como uma princesa cheia de tédio com os seus grandes gatos prontos e cruéis...
Fecho subitamente portas dentro de mim, por onde certas sensações iam passar para se realizarem. Retiro bruscamente do seu caminho os objectos espirituais que lhes vão vincar certos gestos.

Fernando Pessoa


sexta-feira, 10 de abril de 2015


A experiência de pertencimento


Se você não consegue se aproximar , como vai fazer parte? Se você não consegue chegar perto, como vai ter intimidade?

 ...uma base emocional frágil, instável,insegura, imatura, carente, volátil ou rígida, receosa, deprimida, cheia de dúvidas, pode pôr a ruir toda a constituição da personalidade. 


Devemos encontrar algo que funcione como uma viga sobre a qual a personalidade inteira vai se acomodar, se apoiar, se fundamentar e finalmente relaxar.

fonte: O Livro das Atitudes Astrologicamente Corretas
Márcia Mattos

terça-feira, 7 de abril de 2015

PAREDES DE GELO



O humano é só.
Clarice Lispector

Tudo era branco, de um branco que cegava , caso fixasse o olhar naquela direção.
O lugar era imenso, muito além do que os olhos humanos poderiam vislumbrar. Silêncio e Frio eram as marcas daquele lugar.
Altas paredes de gelo compunham a paisagem, e estavam naqueles mesmos lugares, há milhares de anos.
De repente, um minúsculo ponto surge neste mar branco. Parece um borrão de tinta em uma folha branca, mas o frio intenso traz novamente o Mar, do qual não há como fugir. Percebe-se agora, claramente, um homem tentando guiar seu barco por entre paredes de gelo.
A expressão era de dor, seus gestos de terror, pois sentia a inutilidade de suas ações. Sabia o quanto ele era pequeno, e  vãs suas tentativas em estabelecer qualquer sinal de ajuda.
Quanto mais lutava, mais paredes imensas de gelo colocavam-se em seu caminho. Impassíveis, elas ignoravam as necessidades daquele pobre homem que,  apavorado,  rogava por ajuda.
Nada! Nenhum movimento, nenhum sinal indicando Vida. Era pura desolação branca!
Em seu desespero, o homem busca por forças; sabe que sua salvação está em enfrentar,  a qualquer custo, aquelas paredes de gelo  que impediam a passagem.
Teria de olhar as geleiras, correr o risco de cegar-se, mas era preciso...
Ao fixar os olhos nos picos daquelas paredes, um fenômeno inesperado acontece.
Contrário ao que temia e esperava, sua visão tornou-se nítida e, assustado,  reconhece os rostos de amigos e familiares em cada cume daqueles paredões de gelo. Não é mais o branco que turva  seu olhar e,  sim, suas lágrimas que correm abundantes, ao entender, perfeitamente, o que estava acontecendo –lhe.
Aquela imensidão branca, gélida, vazia, era a sua vida. Uma vida de indiferença à dor e  às necessidades do “Outro”.
Insensíveis, incapazes de sensibilizarem-se uns com os outros, os homens constroem, com seus remos-atitudes, paredes de gelo que acabam por obstruir seus caminhos e fazendo o mundo um lugar cada vez mais difícil à sobrevivência da espécie.
Aquele homem só consegue chorar! Suas lágrimas abrem fendas nas paredes de gelo, permitindo –lhe a passagem.
Suas forças crescem cada vez mais, porque agora quer chegar depressa ao seu destino e contar a todos a grande revelação.
Mas, eis que, neste misto de alegria e tristeza, surge à sua frente, imponente e assustador, um paredão imenso.  Por alguma razão misteriosa, o homem luta internamente, pois entende que é preciso conhecer seu maior inimigo. Tem medo, muito medo, como se pressentisse  que a grande revelação ainda estava por acontecer.
Uma sensação de peso vai tomando todo seu ser e, de repente é ele, o imenso paredão de gelo.
A vertigem é enorme, suas forças  cedem; sente-se oco, vazio e começa a cair rapidamente naquele abismo.
Sobressaltado , acorda assustado e suando daquele horrível pesadelo!

texto: Eliete T. Cascaldi Sobreiro
Imagem: internet




domingo, 5 de abril de 2015




 O olhar para o humano  atravessado
 por lentes .





Photography Annual/ 1961
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sexta-feira, 3 de abril de 2015

Homilia do Frei Raniero Cantalamessa


Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco presidiu, nesta Sexta-feira Santa (03/04), na Basílica de São Pedro, a Celebração da Paixão do Senhor. Nesse dia, não se celebra a Santa Missa, mas as funções da Sexta-feira da Paixão com a Liturgia da Palavra, Adoração da Cruz e Comunhão Eucarística.


A homilia da celebração foi feita pelo Pregador da Casa Pontifícia, Frei Raniero Cantalamessa, que baseou a sua reflexão nas palavas de Pilatos: “Eis o homem”, recordando os muitos “Eis o homem” de nossos dias vítimas da fome, pobreza, injustiça e exploração.

“Desses males já se fala muitas vezes, embora nunca o suficiente, e há o risco de se tornarem abstrações. Categorias, não pessoas.

Pensemos agora no sofrimento dos indivíduos, das pessoas com nome e identidade concreta; nas torturas decididas a sangue frio e infligidas voluntariamente, neste exato momento, por seres humanos contra outros seres humanos, inclusive crianças”, frisou Frei Cantalamessa.

“Quantos "Eis o homem" no mundo! Meu Deus, quantos Eis o homem”! Quantos prisioneiros na mesma condição de Jesus no pretório de Pilatos: sozinhos, algemados, torturados, à mercê de soldados ásperos e cheios de ódio, que se entregam a todo tipo de crueldade física e psicológica, divertindo-se em ver sofrer. "Não podemos dormir, não podemos deixá-los sós!", disse ainda o capuchinho.

“A exclamação "Eis o homem!" não se aplica somente às vítimas, mas também aos carnífices. Ela quer dizer: eis aqui do que o homem é capaz! Com temor e tremor, digamos ainda: eis do que somos capazes nós, homens! Muito distante da marcha inexorável do Homo sapiens sapiens, o homem que, segundo alguns, nasceria da morte de Deus e tomaria o seu lugar”, frisou.

Recordando o sofrimento dos cristãos, Frei Cantalemessa destacou que eles “não são, certamente, as únicas vítimas da violência homicida que há no mundo, mas não se pode ignorar que, em muitos países, eles são as vítimas marcadas e mais frequentes. Jesus disse um dia aos seus discípulos: "Chegará uma hora em que aqueles que vos matarem julgarão estar honrando a Deus". Talvez estas palavras nunca tenham achado na história um cumprimento tão pontual quanto hoje”, disse ele.

“Os mártires perfeitos celebraram a mais esplêndida das festas pascais ao ser admitidos no banquete celeste. Será assim para muitos cristãos também na Páscoa deste ano, 2015 depois de Cristo.”

Disse ainda o capuchinho, "então, indagará alguém, seguir a Cristo é sempre um resignar-se passivamente à derrota e à morte? Pelo contrário! "Tende coragem", disse Ele aos apóstolos antes da Paixão: "Eu venci o mundo". Cristo venceu o mundo vencendo o mal do mundo. 
“Os verdadeiros mártires de Cristo não morrem com os punhos cerrados, mas com as mãos juntas. Tivemos tantos exemplos recentes”, disse Frei Cantalamessa, recordando que foi Cristo quem deu aos 21 cristãos coptas mortos pelo Estado Islâmico na Líbia, em 22 de fevereiro passado, a força para morrerem murmurando o seu nome. (MJ)
(from Vatican Radio)
http://www.news.va/pt/news/paixao-do-senhor-quantos-prisioneiros-na-mesma-con
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quarta-feira, 1 de abril de 2015


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A feminilidade não é branca

Há tempo (põe tempo nisso) namoro a idéia de parar de tingir meus cabelos. No fim do ano decidi. Já pensando nisso, há mais de dez anos, troquei a tinta por colorante, imaginando que, quando o dia chegasse, o colorido fosse se esvaindo, deixando o branco ou o grisalho emergir naturalmente. 
Pensava eu tratar-se de uma decisão de foro íntimo. Mas que nada! Não ouvi nenhuma palavra de apoio nem da família, nem de amigos, nem de conhecidos: "Você não pode!". "Não combina!". "Grisalho não é jovial!". "Branco põe para baixo!". Na minha santa ingenuidade, não atinava que estava afrontando um tabu. Entendi que a mulher não pode ser grisalha, mas no homem isso é charme e distinção. Existem brancos azulados, bem tratados, que inspiram respeito e até veneração. São os da matriarca, da veneranda chefe de família que ostenta um poder, mas não os da sexualidade.


Exibir os cabelos grisalhos é ostentar a fêmea morta no corpo vivo de uma mulher: é tabu



A questão não está apenas em "aparentar idade" -há quem defenda as rugas. Mas a transformação natural dos cabelos com a idade é uma afronta. Não chega a ser crime, mas senti que estava perto de cometer uma transgressão. Um homem -inteligente e humanista- chegou a enunciar, com todas as letras, que mulher não pode deixar de pintar os cabelos. "Põe uma hena", disse ele. E eu aqui pergunto a mim e a você: por quê?
Olhando a minha volta, só vejo cabelos tintos. É bem verdade que meu círculo de amizades inclui poucas figuras estilo "vovozinha". Minhas amigas são profissionais, além de mães e avós. Conheço algumas exceções, mas elas chamam mais atenção e atraem mais comentários desairosos do que uma "vamp". Escrevo esta coluna em 22 de janeiro. Veraneando à beira-mar desde 23 de dezembro, estou com os cabelos descolorados, de um jeito desgrenhado, caminhando para o grisalho e, portanto, a caminho de uma auto-exclusão social. Trata-se de uma condenação cruel. Podemos envelhecer, mas não tentar nem disfarçar é descaso.
Ostentar a fêmea morta no corpo vivo de uma mulher é tabu. Os homens grisalhos são charmosos, enquanto as mulheres grisalhas parecem lembrar alguma coisa da qual todos queremos esquecer. O cabelo grisalho parece remeter a alguma "cena temida" que conhecemos, mas não queremos rever.
Um colega baiano com o qual eu comentava minha desdita me contou um ditado local. Segundo ele, pêlos pubianos grisalhos, lá no sertão, eram o primeiro sinal de impotência senil. 
A voz desse povo pode ser aquela que está me forçando a continuar a tingir os cabelos. Lembrei-me ainda do livro "Amêndoa", da autora muçulmana Nejdma, no qual a personagem principal relata sua dificuldade ao reencontrar um antigo amante. Dizia ela que o que mais a amedrontava em voltar para a cama com ele, 30 anos depois, era sua púbis esbranquiçada e rala. Será que vale para nós também? O grisalho é, sem dúvida, um movimento entre a cor e o branco. Ostentar o grisalho seria uma confissão de deserotização? Mas e o grisalho na cabeça do homem, por que pode? Tenho muitas questões e poucas certezas.
Continuando a pensar, parece-me pouco freqüente (se é que existe) a imagem de uma púbis envelhecida na iconografia universal. Na pornografia é claro que não há, mas nem nas belas-artes me lembro de ter visto -e na história da humanidade a maioria dos pintores é de homem. Não tenho respostas, aceito contribuições. Dentro de dois dias tingirei meus cabelos. Se a cena é temida, abdico de agredir meus semelhantes com a minha presença. 
A experiência foi válida. Conheci na pele o que é pretender quebrar um tabu e, ao mesmo tempo, conheci um tabu que eu não sabia que existia.



ANNA VERONICA MAUTNER é psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e autora de "Cotidiano nas Entrelinhas" (ed. Ágora). 



Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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