TEMPO DE CRIANÇA
Valdemiro Mendonça
O tempo que as princesas tinham tempo,
se foi no tempo das horas que já passou,
entre bordados, pincéis e bailes da
corte.
ficou curto o tempo para coisas que amou.
Até o caramanchão de erva de passarinho
que eu fiz obedecendo à sua real
quimera
não rebrotou com as chuvas
deste verão
também não quer florescer nesta
primavera.
Quem sabe seja este jardineiro sem
pratica
que não sabe cuidar de flores tão belas assim,
Ou quem sabe seja o doce olhar da
princesa
Que não passeia mais pelo seu triste jardim.
Por isto desesperado plantei um canteiro
trevos de quatro folhas e arruda do norte,
quem sabe a princesa se lembre do jardim
e possa vir nos dar um pouquinho de sorte.
Pois ela nos mais loucos desejos se
espalha
e suspira inebriada em seu sonho
proibido,
tenta um reencontro da alma e seu encanto
na musica antiga que não tem mais sentido.
Hoje a torre norte não tem aquele doce canto
a voz bem timbrada saudando o brilho do luar,
pois fizeram um feitiço para a nossa
princesa
trocar o jardim sem flores pela estrela
do mar.
O cavalo alado que o príncipe deu de
presente
anda tristonho, com saudade no esquecimento,
pois sua princesa nunca mais desejou
cavalgar
voando nas nuvens brancas ao sabor do vento.
Vou fazer promessas para o São Jorge lá da Lua
para ele quebrar o feitiço desmanchando a
teia,
para que toda noite que ela olhar da torre
norte
veja sempre o brilho prateado de uma
lua cheia.
Assim ela há de ver o jardim e talvez se
lembre
da gangorra que eu fiz no pé de ipê
antes florido,
quando eu empurrava e ela gritava, mais
alto vai,
hoje até ele não floresce pois se acha
esquecido.
Que fez a princesa mudar modificando
todo o seu ser,
e agora ela só fica sonhando aqueles sonhos
malucos
por culpa desta tal natureza que fez
a menina crescer.