quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Às vidas na UTI


É comum ouvir por aqui e por acolá: “Fulano está nas últimas. Foi parar até na UTI, coitado”. É como se o destino de quem precisasse da unidade de emergência máxima de um hospital já estivesse selado e o calcanhar do cidadão já começasse a afundar na cova. Parar ali seria como se apresentar na antessala de são Pedro.
Essa aberrante história da médica do Paraná que, ao que tudo indica, dormia fora da casinha e adotava procedimentos heterodoxos na unidade que chefiava, pelo menos pode servir para chamar mais a atenção para aqueles que precisam, em algum momento, ficar em um local de tratamentos intensivos.
Como ex-hóspede de UTIs por três vezes (após serviços de funilaria na coluna e nas pernas tortas), penso que as unidades não devem jamais ser vistas como o pavilhão da morte, como a porta de entrada do além.
Os locais são, sim, as esferas máximas da ciência e da inteligência humana em prol da vida, em prol da recuperação da carcaça abatida, da mente desgastada, de ajuste após uma pane no sistema de controle de poder acordar e fazer tudo igual ou não.
É na unidade de terapia intensiva que os médicos mais profundamente agarrados aos valores humanos deveriam trabalhar. Para eles, fazer diferenciação no modo de tratar os que ali estão seria impensável, impraticável e impossível.
No sangue desses profissionais só correria garra de fazer mais, os batimentos cardíacos só gritariam “para a frente, para a frente” e suas pressões arteriais, equilibradíssimas, empurrariam para caminhos de esperança, de novas possibilidades.
Na UTI, só deveriam entrar aqueles capacitados para serem incansáveis em acreditar na recuperação dos outros, aqueles mais sensíveis para entender que, para cada um dos internos de sua unidade, há uma família aflita por esperança e por boas-novas.
Quando alguém entra em um serviço de tratamento intensivo, fica do lado de fora um caminhão de dúvidas: quantas vezes vão escovar seus dentes e cuidar dos cabelos? Quem fará os movimentos do seu corpo enquanto a mente estiver descansando? O clima lá dentro é de esperança ou é insosso?
Já ouvi relatos de barbaridades ditas por profissionais que atuam com pessoas que supostamente estavam “para lá de Bagdá”, entubadas, aparelhadas, sedadas ao máximo, mas, em alguns casos, conscientes.
Mais uma vez, aqui, penso que essa área hospitalar teria de, permanentemente, relembrar entre a equipe suas funções, suas missões, suas obrigações médicas, morais e de humanidade.
Ir “parar na UTI” deveria ser entendido como o momento em que tudo será feito para que você tenha uma nova chance de seguir adiante. E quem é bem acolhido em uma situação dessas, quem resgata a existência após uma experiência dessas, tende a ser agraciado com pacotes imensos de esperança a ser distribuída.
Há vidas nas UTIs. Há pessoas agarradas à fé de que a evolução do homem é tão maravilhosa que é capaz de resgatar qualquer um de seu suposto ponto final. Xô aos incrédulos que querem abreviar o caminho de quem brecou em uma curva, mas que ainda tem muita estrada adiante!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


Santo Antão vivia no deserto, quando se aproximou um jovem:
“Padre, vendi tudo que tinha e dei aos pobres. Guardei apenas umas poucas coisas para me ajudar a sobreviver aqui. Gostaria que me ensinasse o caminho da salvação”.
Santo Antão pediu que o rapaz vendesse as poucas coisas que havia guardado, e – com o dinheiro – comprasse carne na cidade. Na volta, devia trazer a carne amarrada em seu corpo.
O rapaz obedeceu. Ao voltar, foi atacado por cachorros e falcões, que queriam um pedaço da carne.
“Eis-me de volta”, disse o rapaz, mostrando o corpo arranhado, mordido, e as roupas em frangalhos.
“Aqueles que dão um passo novo e ainda querem manter um pouco da vida antiga, terminam dilacerados pelo próprio passado”, foi o comentário do santo.
 “Melhor livrar-se de tudo, antes de dar o próximo passo, e acreditar que pode sobreviver apenas porque teve coragem”.
Paulo Coelho

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O Lado Obscuro de cada um de Nós
 
Passou no seu casamento por aquilo que é quase um facto universal - os indivíduos são diferentes uns dos outros.
 Basicamente, constituem um para o outro um enigma indecifrável. Nunca existe acordo total. Se cometeu algum erro, esse erro consistiu em ter-se esforçado demasiadamente por compreender totalmente a sua mulher e por não ter contado com o facto de, no fundo, as pessoas não quererem saber que segredos estão adormecidos na sua alma. Quando nos esforçamos demasiado por penetrar noutra pessoa, descobrimos que a impelimos para uma posição defensiva e que ela cria resistências porque, nos nossos esforços para penetrar e compreender, ela sente-se forçada a examinar aquelas coisas em si mesma que não desejava examinar. Toda a gente tem o seu lado obscuro que - desde que tudo corra bem - é preferível não conhecer.

Mas isto não é erro seu. É uma verdade humana universal que é indubitavelmente verdadeira, mesmo que haja imensas pessoas que lhe garantam desejar saber tudo delas próprias. É muito provável que a sua mulher tivesse muitos pensamentos e sentimentos que a tornassem desconfortável e que ela desejava ocultar de si mesma. Isto é simplesmente humano. É também por este motivo que tantas pessoas idosas se refugiam na própria solidão, onde não serão incomodadas. E é sempre sobre coisas de que elas não desejariam estar muito cientes. O senhor não é, obviamente, responsável pela existência destes conteúdos psíquicos. Se, apesar disto, ainda for atormentado por sentimentos de culpa, reflicta então sobre os pecados que não cometeu e que gostaria de ter cometido. Isto poderá eventualmente curá-lo dos seus sentimentos de culpa relativamente à sua mulher.

Carl Jung, in 'Cartas'

figura: da intenet

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Quaresma - Frei Beto/2012






 
Entro nessa Quaresma sem fantasia, disposto às abstinências que resgatam, no mais íntimo de mim mesmo, a minha verdadeira identidade.
Calarei a língua ferina e não macularei a fama alheia exposta em público no varal de minhas cordas vocais.
Não darei ouvidos a inconfidências, nem ao ruído ensurdecedor das palavras vãs de quem só escuta a própria voz.
Fecharei o olhos para ver melhor e abrirei as janelas à revoada dos anjos.
Contemplarei as montanhas ocas de minha terra e derramarei uma lágrima por seus úteros arrancados e sonegados ao meu povo.
Nesta Quaresma, riscarei de meu dicionário o vocábulo competitividade e com aquarelas de utopias gravarei no coração solidariedade.
Irei ao encontro de quem ainda luta por direitos animais: comer, beber, educar a cria e abrigar-se das intempéries.
Só assim costurarei minha humanidade esgarçada.
Jejuarei da ânsia consumista e ofertarei meu supérfluo tão necessário ao próximo.
Abrirei a janela do carro e afagarei as crianças de rua, filhos de minha imobilidade frente a tantas injustiças.
Pagarei, com juros, a minha dívida social.
Farei de Jesus parceiro de aventuras e deixarei que o seu Espírito engravide o meu.
Buscarei o silêncio orante e meditarei para inebriar-me da espiritualidade do conflito.
Adotarei o Sermão da Montanha como estatuto pessoal e acertarei meus passos nas trilhas de Gandhi, Che Guevara e Luther King.
Arrancarei toda erva daninha - ciúme, inveja, ira - do canteiro de meus amores e cultivarei copas frondosas de quaresmeiras coloridas de ternura.
Serei perdulário com o bom humor e espalharei alegria como o ar que nos é dado a respirar.
Nesta Quaresma, participarei da Campanha da Fraternidade e direi não às drogas - as que me consomem horas de vida no cuidado envaidecido de meu corpo e as que me aprisionam no medo de lutar contra as iniqüidades.
Desfraldarei a bandeira de minha indignidade e revelarei esperanças que, olhos no futuro, me fazem acreditar num belo horizonte.
Peregrino solitário e solidário, irei às fontes do transcendente.
Ao encontrar meu próprio poço,mergulharei como um menino em suas águas profundas, até que o Pai de Amor me acolha em seus braços, dando-me de beber o vinho pascal do homem novo.













quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Feliz por receber  de presente o selo da minha querida mestra Cláudia do blog Claudiaroma que vale à pena conferir...


As regras a serem seguidas são as seguintes:
Agradecer à pessoa que te deu essa nomeação e incluir um link para o seu blog.

Escrever 7 coisas a meu respeito:
.Acredito em Deus Pai ,Deus Filho e Deus Espírito Santo
.Sou devota de Nossa Senhora
.Amo e sou fiel à minha família
.Minha vocação é ser Psicóloga
.Tenho amigos que são preciosos
.sou uma leitora voraz
.gosto de ficar em casa
 

Temos que escolher 15 blogs e presenteá-los com o The Versatile Blogger Award.
Minhas escolhidas são muito especiais .Sintam-se a vontade quanto a aceitar.
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Última regrinha, visitar os amigos e avisá-los que tem presentinho por aqui...ah e não deixe de visitar esses blogs amigos.
 

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Psicanálise e poesia
“A psicanálise nasceu com a descoberta de que as palavras são cheias de silêncio. Aqueles que só entendem o que é falado ou escrito não entendem coisa alguma: a letra mata.


O corpo fala línguas ininteligíveis: glossolalia. Babel deve dar lugar a Pentecostes. A verdade vive no avesso daquilo que é conhecido com familiaridade. Sabedoria é loucura, loucura é sabedoria. Como o Deus Absconditus, a verdade também vem escondida, sob um disfarce. Ela usa máscaras.
 
 Todas as palavras, tomadas literalmente, são falsas. A verdade mora no silêncio que existe em volta das palavras. Prestar atenção ao que não foi dito, ler entre as linhas. A atenção flutua: toca as palavras sem cair em duas armadilhas, sem ser por elas enfeitiçadas. Cuidado com a sedução da clareza! Cuidado com o engano do óbvio!
[...]

A psicanálise é um ouvir atento do silêncio que mora nos interstícios das palavras, a fim de ouvir o que não foi falado.Mas isso não foi invenção da psicanálise: a psicanálise apenas acreditou naquilo que já havia sido conhecido por milhares de anos e depois varrido para fora do salão como lixo, pela etiqueta das ideias claras e distintas.
Muito antes da psicanálise, os poetas buscam as palavras que moram no silêncio.”



Rubem Alves em Lições de Feitiçaria

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes. (Exausto)
Adélia Prado

Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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