sábado, 18 de abril de 2009

CURTO-CIRCUITO DAS LEMBRANÇAS
O site da SBPC (http://www.jornaldaciência.org.br/) traz uma matéria que também foi tema de reflexão da neurocientista Suzana Herculano -Houzel na Folha Equilíbrio (Folha de São Paulo-16/04/09) sobre substâncias que poderiam supostamente apagar memórias ,mesmo as antigas e que em teoria estariam "consolidadas" no cérebro.
Um tipo de droga seria o dos betabloqueadores, normalmente usados para o controle da pressão alta. O ZIP substância estudada pelo neurocientista Yadin Dudai, bloqueia uma enzima implicada nas mudanças celulares que possibilitam a formação de memórias.
Assim se você deseja esquecer um trauma de infância,ou o enjoo da gravidez ou um ex-namorado,zip nelas.
— A possibilidade de alterar e editar a memória abre uma série enorme de possibilidades e levanta sérias questões éticas — alerta Steven E. Hyman, um neurobiologista da Universidade de Harvard.Ele adverte que se memórias traumáticas podem ser torturantes, lembrar que coisas ruins existem é essencial para a formação da consciência moral.

A neurocientista Suzana Herculano-Houzel cita em seu artigo uma palestra com Thomas Murray , especialista em ética, onde ele relatou uma experiência pessoal e muito dolorosa que foi a morte de sua filha de 16 anos, assassinada pelo namorado sociopata.
Na época já se falava dessa possiblidade do ZIP e ao ser indagado se usaria uma substância como essa,para apagar as memórias dolorosas associadas à filha, ele respondeu que não.
"A dor de perdê-la era uma parte integral do que lhe restava da filha: a memória.Esquecer essa dor seria uma desonra à vida breve da filha e às marcas que ela deixou nele".
Concordo integralmente com a opinião da neurocientista quando finaliza sua matéria dizendo :"(...)Talvez algumas dores devam de fato ser deixadas para trás-objetivo, aliás, de tantas terapias:ressignificar as dores."
Recorrer ao ZIP seria apagar a nossa essência, a nossa identidade.Isso no meu ponto de vista já é demais!


Contardo Calligaris, psicanalista, comentando este estudo diz o seguinte:
"Trauma não é uma lembrança muito forte.É um evento lembrado de forma insuficiente".
(...) "A solução do trauma não consiste em apága-lo, mas ao contrário, em lembrá-lo melhor".

Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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