sábado, 13 de junho de 2015


imagem da internet: goth 07.jpg

Temporal em minha alma

Quando a alma fala, já não fala a alma.
Friedrich Schiller

Estou sombria; acho que vou chover e parece que é chuva pesada.
Sinto medo, não gosto de sentir o tempo carregado; não sei se terei capacidade para dar vazão a todo fluxo que cairá. Descuidei-me dos bueiros, devem estar abarrotados de lixo que, com o tempo, fui depositando,
Sempre, com a desculpa de que “depois eu vejo isto”.
Agora, anuncia-se a chuva e sei que não será uma chuva leve, gostosa e calma. Os ventos estão cada vez mais fortes e carregam todas as certezas que pareciam tão firmes no meu solo. Tudo parece ir pelos ares e a visão é turva devido à poeira levantada daqueles lugares tão esquecidos e  tão pouco cuidados . As nuvens das palavras não ditas, dos sentimentos estancados querem desabar e arrasar tudo. A fúria é grande.
Será que os telhados suportarão; restarão fantasias e sonhos? Ou todos serão engolidos pelas águas salgadas do meu mar?
Para quem eu dei o melhor de mim?
O que será o melhor de mim? Como será o meu verão, onde estará  o meu sol,  em que estrela guardei o meu tesouro?
Quem sabe de mim? Meus pais, irmãos, amigos?
Como refazer-me após a tempestade, como reconstruir o que for desabado?
Valerá à pena restaurar, tal como sou agora? Eu sou o quê?
Eu quero o quê? Eu amo o quê?
Acho que não consegui decifrar-me  e a tempestade me devorará .
Nem ao espelho poderei recorrer, dizem que não é bom ficar perto dele em noites de tempestades.
Quem me dirá quem sou , quem me salvará? Onde estará o pedaço de mim que é bom, que é belo e que é meu?
E, quando encontrá-lo, para quem ofertar?

texto: Eliete T. Cascaldi Sobreiro




5 comentários:

  1. Eliete, que texto forte, profundo, cheio de questionamentos.Lindo ! bj, tudo de bom,lchica

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  2. Oi, Eliete , a noite escura da alma, como dizem os místicos, é de dura travessia...mas depois na água benfazeja se dilui toda a mágoa e lava os desafetos que escorrem .pelos desvãos e o sol de novo vai brilhar

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  3. Adriane Fenerichdomingo, 14 junho, 2015

    Transportei-me para as entrelinhas dessa profunda reflexão... senti até o corpo estremecer... com o temporal se formando dentro do peito... tentando me decifrar...
    Belíssimo texto amiga! Beijos

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  4. Oi Eliete, nossa que texto profundo!
    Várias questões que você colocou me fizeram pensar...para algumas também não tenho resposta.
    Talvez para encontrá-las seja preciso desacelerar um pouco para poder prestar atenção nas sensações e sentimentos.
    Lindo post.
    Bjs

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  5. Eliete querida!
    Entrei neste texto de alma, me identifiquei muito nisso tudo...a visão fica turva de tanta poeira levantada, mas é hora de chover muito, para lavar, limpar, e quem sabe um novo caminho enxergar. Este é o caminho da psicanálise, que amo tanto...às vezes penso não aguentar, mas sempre encontro um bueiro que dá conta à toda esta água...amei amada! um beijo grande e até mais!

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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