sexta-feira, 26 de junho de 2015
Pois versos não são, como as pessoas imaginam, sentimentos (a esses, temos cedo demais) –
são experiências. E por causa de um verso é preciso ver muitas cidades, pessoas e coisas, é
preciso conhecer bichos, é preciso sentir como voam os pássaros, e saber com que gestos
flores diminutas se abrem ao amanhecer. (...) E também não basta ter recordações. É preciso
saber esquecê-las, quando são muitas, e ter a grande paciência de esperar que retornem por si.
Pois as lembranças em si ainda não o são. Só quando se tornarem sangue em nós, olhar e
gesto, sem nome, não mais distinguíveis de nós mesmos, só então pode acontecer que numa
hora muito rara brote do meio delas a primeira palavra de um poema.
Rainer Maria Rilke
Os cadernos de Malte Laurids Brigge
sábado, 13 de junho de 2015
imagem da internet: goth 07.jpg
Temporal em
minha alma
Quando a alma fala, já não fala a
alma.
Friedrich Schiller
Estou sombria; acho que vou chover e
parece que é chuva pesada.
Sinto medo, não gosto de sentir o
tempo carregado; não sei se terei capacidade para dar vazão a todo fluxo que
cairá. Descuidei-me dos bueiros, devem estar abarrotados de lixo que, com o
tempo, fui depositando,
Sempre, com a desculpa de que
“depois eu vejo isto”.
Agora, anuncia-se a chuva e sei que
não será uma chuva leve, gostosa e calma. Os ventos estão cada vez mais fortes
e carregam todas as certezas que pareciam tão firmes no meu solo. Tudo parece
ir pelos ares e a visão é turva devido à poeira levantada daqueles lugares tão
esquecidos e tão pouco cuidados . As
nuvens das palavras não ditas, dos sentimentos estancados querem desabar e
arrasar tudo. A fúria é grande.
Será que os telhados suportarão;
restarão fantasias e sonhos? Ou todos serão engolidos pelas águas salgadas do
meu mar?
Para quem eu dei o melhor de mim?
O que será o melhor de mim? Como
será o meu verão, onde estará o meu sol, em que estrela guardei o meu tesouro?
Quem sabe de mim? Meus pais, irmãos,
amigos?
Como refazer-me após a tempestade,
como reconstruir o que for desabado?
Valerá à pena restaurar, tal como
sou agora? Eu sou o quê?
Eu quero o quê? Eu amo o quê?
Acho que não consegui decifrar-me e a tempestade me devorará .
Nem ao espelho poderei recorrer, dizem
que não é bom ficar perto dele em noites de tempestades.
Quem me dirá quem sou , quem me
salvará? Onde estará o pedaço de mim que é bom, que é belo e que é meu?
E, quando encontrá-lo, para quem
ofertar?
texto: Eliete T. Cascaldi Sobreiro
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Apontadora de Idéias

- Eliete
- São Paulo, Brazil
- "A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)
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