quinta-feira, 28 de outubro de 2010


Quem tem boca.
Soube recentemente que a expressão “Quem tem boca vai a Roma”, é incorreta.
O certo é “Quem tem boca vaia Roma”.
Confesso que, neste caso, gosto mais do equívoco, pois, quando ouvíamos este dito popular, entendíamos que, por mais difícil que fosse nossas dificuldades, ao tentar comunicá-las, alcançaríamos nossos objetivos.
Lembro-me também da expressão que o Chacrinha usava em seu programa de televisão: ”Quem não se comunica, se estrumbica”(sic).
No entanto, atualmente, parece que estamos vivendo uma descrença em relação à linguagem como um meio de sermos compreendidos e de manifestar nossas diferenças.
Embora preconizemos a importância do diálogo em nossas relações afetivas e sociais, muitas pessoas sentem-se cansadas, desanimadas e desacreditadas em relação ao diálogo, quando enfrentam situações de conflito. É comum ouvirmos as seguintes queixas:
“Estou cansada(o), não consigo fazer-me entender por ele(a)”, ou “Não adianta falar, é sempre a mesma coisa, ele(a) acaba invertendo toda a história”.
Talvez o ditado “quem tem boca vaia Roma”, represente melhor as atuais condições de comunicação entre nós.
Com freqüência, usamos formas agressivas, críticas ou mesmo intolerantes em relação á ideia do “Outro”, o que causa grandes prejuízos no entendimento e na solução dos problemas.
O calar-se tem sido outra opção feita por muitas pessoas, e o resultado, geralmente, é o ressentimento , pois estabelece-se um crescente distanciamento emocional e físico entre os envolvidos.
É sabido que a consequência do “não dito” é a construção de um buraco profundo e, em cima de buraco, não se constrói nada.
Além da rudeza no “falar” ou do “não falar”, outro fator que impede o bom entendimento entre as pessoas é a dificuldade de compreender o “Outro” em sua alteridade. Geralmente, agimos baseados nas interpretações que elaboramos do comportamento ou da fala de uma pessoa.
Às vezes, estamos tão certos das “razões” que tiramos das interpretações que fazemos , que acabamos tornando-nos cegos e surdos a qualquer outra suposição que possa haver.
Nossas crenças acabam por definir a “verdade”, e, consequentemente , a busca e a compreensão de outro ponto de vista dá lugar ao julgamento .
Assim, apesar de o avanço tecnológico ter- nos possibilitado recursos fabulosos de comunicação, estamos cada vez mais sozinhos. Vivemos como linhas paralelas, que embora próximas, não são capazes de encontrarem-se .
E existe solidão pior do que falar e não ser entendido?
autoria: Eliete T. Cascaldi Sobreiro


Um comentário:

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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