segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Queridos amigos blogueiros, quero desejar-lhes um Feliz Natal e um ano novo repleto de emoções.

Estou saindo de férias do blog - por um tempinho,mas estarei visitando-os.

beijos...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011



A felicidade (Jorge Luis Borges)


O que abraça a uma mulher é Adão.

A mulher é Eva.

Tudo acontece pela primeira vez.

Hei visto uma coisa branca no céu.

Dizem-me que é a lua,mas que posso fazer com uma palavra e com uma mitologia.

As árvores me dão um pouco de medo.

São tão formosas.

Os tranquilos animais se aproximam para que eu lhes diga seu nome

Os livros da biblioteca não têm letras.

Quando os abro surgem.

Ao folhear o atlas projeto a forma de Sumatra.

O que acende um fósforo no escuro está inventando o fogo.

No espelho há outro que está à espreita.

O que olha o mar vê à Inglaterra.

O que profere um verso de Liliencron há entrado na batalha.

Hei sonhado a Cartago e as legiões que desolaram a Cartago.

Hei sonhado a espada e a balança.

Louvado seja o amor no qual não há possuidor nem possuída,mas os dois se entregam.

Louvado seja o pesadelo, que nos revela que podemos criar o inferno.

O que descende a um rio descende ao Ganges.

O que olha um relógio de areia vê a dissolução de um império.

O que joga com um punhal pressagia a morte de César.

O que dorme é todos os homens.

No deserto vi a jovem Esfinge que acabam de lavrar.

Nada há tão antigo baixo o sol.

Tudo acontece pela primeira vez, mas de um modo eterno.


O que lê minhas palavras está inventando-as.
(Tradução de Héctor Zanetti)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011




Francisco Daudt: Como escolher um psicanalista



Meu assunto é como escolher um psicanalista, alguém que vai cuidar de você com o instrumental que Freud inventou. Você o contrata e consome um serviço de saúde.
“Que barbaridade, pensar no cliente como consumidor!” Sinto muito se feri suscetibilidades, mas acompanhe.


Clínica: do latim, “inclinar-se”, para observar e entender. Pratico clínica psicanalítica há 35 anos. Fui consumidor do serviço por oito, com dois psicanalistas diferentes. É prestação de serviço mesmo: eu pagava (caro) e recebia 50 minutos de suposta atenção. Assim como quando fui pai tentei me lembrar do que, quando criança, funcionava ou não no jeito de meus pais, quando me tornei analist prestei atenção no que me fez bem e mal como cliente. Aprendi com erros e acertos de meus psicanalistas.
Gosto de clareza, transparência, do que é lógico, razoável. Se você gosta de obscuridades e esoterismos pule este artigo. Não é tua praia.
Afinal, psicanálise veio para explicar ou confundir? A coisa é simples: quantos psicanalistas são necessários para trocar uma lâmpada? Um só, mas é preciso que a lâmpada queira muito ser trocada.
Procurei a psicanálise porque me sentia mal comigo mesmo e queria me sentir bem. A pergunta seguinte era: o profissional teria o mesmo objetivo? Queria me fazer sentir melhor com o seu instrumento terapêutico? Parece uma pergunta besta? Não é! Há vários psicanalistas não comprometidos com a melhora dos seus pacientes (que dirá com a cura dos seus sintomas).
Eles têm como meta “a reflexão sobre os enigmas do seu funcionamento psíquico” ou, pior, “a sua aceitação da castração” (calma, explico, é assim: “O mundo é duro mesmo e você deve aceitá-lo como é, sem esperar colinho de mãe, que é o mesmo que querer roubá-la de seu pai, representante do mundo cruel. Tenha horror do incesto, o complexo de Édipo”).


Escolher um psicanalista não é mesmo fácil. Aqui vão algumas sugestões, se você ainda não largou a leitura deste blasfemo insolente, desta pessoa desprezível pela sua linguagem chã que qualquer um pode compreender.


INDICAÇÃO
Pode vir de um amigo que tem se sentido melhor com seu tratamento. Pode vir de artigos que você leu e te deram alívio e compreensão, assinados pelo cara. Ou de livros que ele escreveu, entrevistas que ele deu etc.
PRIMEIRO CONTATO
Em geral, é pelo telefone. Impressionante o que se pode aprender sobre o outro num telefonema: se é acolhedor; se é pomposo ou simples; se você se sente bem ou constrangido; se vai te atender logo ou “talvez, se abrir uma vaga nos próximos meses”. Só vá à entrevista se você se sentir bem com ele ao telefone. De desconforto basta a tua vida, você não precisa pagar (caro) por ele!
PERPLEXIDADE
Se o doutor Fulano te disser algo que você não entenda, se falar complicado a ponto de você achar que é burro, desista: não serve para você.
MUDEZ
Se doutor Fulano ficar te olhando quando você quiser saber algo na entrevista, as chances são de que ele ficará mudo durante a terapia. Por que você há de pagar (caro) para quem não diz nada? É teu trabalho se entender? Então fale para o espelho. É mais barato.
CONTRATO
Sinta-se confortável com um contrato claro sobre tempo de sessão e custos. Pergunte sobre férias (suas e dele). Pergunte sobre pontualidade (há poucas coisas mais constrangedoras do que encarar colegas numa sala de espera). Você tem mais o que fazer na vida, e é uma falta de respeito fazer cliente esperar tendo hora marcada.
AO FIM DA SESSÃO
Não deixe ninguém te convencer que sair aos prantos e arrasado significa que a sessão foi “funda e produtiva”. Só significa que o terapeuta colocou mais dor naquilo de que você já se acusava. Ele quer que você se arrependa. É mais barato procurar o confessionário da igreja católica.
SENSO DE HUMOR
Se sentir falta de humor na sua terapia, significa que seu analista gosta de drama, e o drama é parte integrante e agravante dos seus sintomas. Vá embora! Parte da cura é não se levar tão a sério, não se achar (e a ninguém) tão importante. Dentro de cem anos, lembre-se, estaremos todos mortos. E faz parte do meu imaginário aparelho humildificador: amanhã este artigo será papel de embrulhar peixe...
FRANCISCO DAUDT, psicanalista e médico, é autor de “Onde Foi Que Eu Acertei?”


Folha de São paulo/ Equilíbrio 27/09/2011

terça-feira, 6 de dezembro de 2011



Liberdade nada mais é do que a consciência das alternativas e da possibilidade de escolhas.


Nilton Bonder

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011





Considero este artigo de Eliane Brum uma aula para todos nós- pais .




Meu filho você não merece nada


A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada

ELIANE BRUM


Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço.



Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.


Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.


Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.


Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.


Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.


É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?


Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.


Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.


Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente.



Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.


A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”?


É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.


Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado?



Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.


Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar.



E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.


Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.


Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia.



É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.


O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.


Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é.



Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.

Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”.



Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.


Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele.

E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.


Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011



Uma das orações matinais do poeta Juan Ramón Jiménez :


LIVRE-ME DE ADERÊNCIAS , AURORA.

Que hoje seja apenas hoje!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011



Um nenhum (Viviane Mosé)


(Publicado no site da agência Carta Maior, na sequência de cartas endereças “Ao arqueólogo do futuro”.)


Senhor arqueólogo, foi muito difícil encontrar um lugar a partir do qual pudesse me dirigir ao senhor. Infinitas são as perspectivas que nosso tempo nos permite, desintegrado que está por tantas razões que não caberiam nesta cartinha. Então, resolvi falar de um lugar comum.




O lugar de um homem. Todo homem é comum mesmo não sendo. O não ser comum do homem parece estar em sua forma própria de ser comum. Em seu jeito singular de sofrer, brincar, envelhecer. Em sua necessidade de construir, simbolizar, criar. Um homem não deixa de ser comum mesmo entre letras, livros, máquinas, sistemas, signos.


Um homem é sempre uma trajetória que declina.


Que ascende, mas que declina. O comum do homem é sua aparição relâmpago, o seu constituir e o seu perecer. O comum do homem é sua necessidade de dizer, manifestar, inscrever, perpetuar. Ao mesmo tempo sua impossibilidade de permanecer. Todo homem constitui-se na tensão entre viver e morrer, entre dizer e calar, entre subir e descer. Mas, por razões extensas e difíceis, a história humana parece ter se ordenado em torno da vontade de não ser.




Não envelhecer, não sentir dor, não se cansar, não se aborrecer. O homem parece envergonhar-se de ser: pequeno, sensível, mortal, humano. E organiza-se em torno de um ideal de homem, sem corpo. O homem envergonha-se de seu corpo. Não de seu sexo ou de seu prazer, mas de suas vísceras, de seus excrementos, de seus sons e odores, de seu processo bioquímico, fisiológico, orgânico. O homem envergonha-se de morrer e vai acuando-se, escondendo-se, perdendo-se em torno de uma idéia, de uma imagem.




Em sua luta por não ser comum, o homem tornou-se nenhum. Todo homem virou nenhum. Nenhum homem na rua, em casa. Nenhum homem na cama. Nenhum homem, mas um nome. O homem se reduziu a um nome. Não um nome próprio, mas um substantivo. Mas um homem é sempre maior que um nome mesmo que não queira. E uma outra história foi sendo tecida por trás desse desejo de não ser. Enquanto construía seus mecanismos de não corpo, enquanto se constituía como idéia, pensamento, imagem, a humanidade proliferava em seus excessos contidos, em suas angústias não canalizadas, em suas paixões não vividas, em seus pavores maquiados. E um corpo invertido, nascido de tantos corpos abafados, foi constituindo-se socialmente, foi ganhando força e vida.




Uma vida invertida, mas uma vida. Tóxica, ela foi se alastrando pelas casas, pelas ruas, em forma de morte. A morte negada, as perdas e dores abafadas, saíram às ruas reivindicando seu espaço. O que antes esteve circunscrito aos campos de batalha, às margens, aos guetos, agora ganha as escolas, os metrôs, os restaurantes, as praias. Não há mais lugar seguro, carros blindados, condomínios fechados. Agora todos somos igualmente passíveis.


Vivemos a democratização da violência. Vivemos o predomínio daquilo que foi por tanto tempo obstinadamente negado. A violência trouxe-nos de volta a urgência pelo corpo, pela vida, pelo tempo. E apartou-nos de nosso sonho de perenidade, de futuro, de verdade. Agora, todos estamos órfãos de nosso medíocre projeto de felicidade. Agora é preciso viver, temos urgência do instante, precisamos do corpo, mesmo gordo, magro, estrábico. E aqui, de meu lugar comum, de mulher comum, enquanto lavo a louça do café olhando a cor insistente da tarde que passa, me pergunto por quê? Por que não os dias nublados, as dores do parto, os serviços domésticos? Por que não o escuro, o delírio, a solidão? As lágrimas, os espinhos no pé, as quedas?



Dizem que o homem, como conhecemos, tende a desaparecer. É possível que uma espécie mais forte possa surgir, uma espécie capaz de um dia divertir-se com este nosso hábito demasiadamente humano de negar o inexorável, de controlar o incontrolável, e, não conseguindo, de esconder-se em cápsulas virtuais, em psicotrópicos de ultima geração, em imagens. Um homem que talvez tenha sempre existido pode começar enfim a surgir. Um homem capaz de viver a dor e a alegria de ser mortal, singular, sozinho, comum. Um homem capaz de gritar sua dor impossível.


Um homem capaz de cantar. Um homem capaz de viver.
Viviane Mosé, 2005

terça-feira, 22 de novembro de 2011



imagem: Calmeiro Matias


O silêncio de Deus impera onde a sede de poder converteu o homem em um ser hostil ao ministério da sua própria criação.



O silêncio diante de Deus, por sua vez, reina onde o homem, liberado de sua despótica ânsia por deter a supremacia, consegue se reconhecer como criatura e recupera, assim, a presença de seu Criador.



(KOVADLOFF, Santiago. O Silêncio Primordial – Ensaios. RJ: José Olympio, 1993, pp. 115-120) .




domingo, 20 de novembro de 2011

imagem da internet


Aprendimentos


O filósofo Kierkegaard me ensinou que cultura é o caminho que o homem percorre para se conhecer. Sócrates fez o seu caminho de cultura e ao fim falou que só sabia que não sabia de nada. Não tinha as certezas científicas. Mas que aprendera coisas di-menor com a natureza.


Aprendeu que as folhas das árvores servem para nos ensinar a cair sem alardes. Disse que fosse ele caracol vegetado sobre pedras, ele iria gostar. Iria certamente aprender o idioma que as rãs falam com as águas e ia conversar com as rãs. E gostasse mais de ensinar que a exuberância maior está nos insetos do que nas paisagens. Seu rosto tinha um lado de ave. Por isso ele podia conhecer todos os pássaros do mundo pelo coração de seus cantos.

Estudara nos livros demais. Porém aprendia melhor no ver, no ouvir, no pegar, no provar e no cheirar. Chegou por vezes de alcançar o sotaque das origens. Se admirava de como um grilo sozinho, um só pequeno grilo, podia desmontar os silêncios de uma noite!Eu vivi antigamente com Sócrates, Platão, Aristóteles – esse pessoal.



Eles falavam nas aulas: Quem se aproxima das origens se renova. Píndaro falava pra mim que usava todos os fósseis linguísticos que achava para renovar sua poesia. Os mestres pregavam que o fascínio poético vem das raízes da fala.


Sócrates falava que as expressões mais eróticassão donzelas. E que a Beleza se explica melhor por não haver razão nenhuma nela. O que mais eu sei sobre Sócrates é que ele viveu uma ascese de mosca.
Do livro: “Memórias Inventadas – As infâncias de Manoel de Barros”.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011



Quero ser jogada para cima e ter dois braços firmes me esperando.
Quero a certeza de ser esperada e muito amada.
Quem me roubou aqueles braços?

E.T.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011



...receber é estabelecer uma relação com a natureza ou com o universo.Se experimentamos o recebimento como um fenômeno unilateral, que se limita a algo que nos é dado, separamos-nos gradativamente da troca que, em última instância, representa vida.



...receber não é o fim de um processo,mas o início de outro sem o qual não há verdadeiro recebimento.



Para estarmos sadios, precisamos manter desobstruídas tanto as aberturas para iniciar o recebimento, como as aberturas para completar este recebimento.



Nilton Bonder/ A cabala da comida

segunda-feira, 14 de novembro de 2011



É preciso se despir da vaidade das certezas para alcançar a dor do outro – movimento imprescindível para o amor.”

Eliane Brum

domingo, 13 de novembro de 2011








A beleza, conquanto avara e rara, não é nunca amarga.







Assim como dizem que o riso faz bem à saúde, acho que um dia descobrirão que, servida desde cedo em doses certas, a beleza debela o cancêr da alma.



Tempo de delicadeza/Affonso Romano de Sant'Anna
Meu Deus, dai-me olhos e mãos amorosas para amar e servir a quem está proximo de mim.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011



"O que é doloroso demais lembrar, simplesmente escolhemos esquecer". O inconsciente pessoal se revela em lapsos da língua e em reações emocionais fortes (tanto positivas como negativas) a outras pessoas. Na maioria das vezes, expressa o seu conteúdo na produção de sonhos, arte, poesia e outros símbolos espontâneos.



Fonte: Despertando na meia-idade(Tomando consciência do seu potencial de conhecimento e mudança) de Kathleen A. Brehony

terça-feira, 8 de novembro de 2011



Quando quero ficar humilde eu visito os açougues,entro em um em um, pra ver as mulheres de chinelo de borracha, apertando os pedaços com aqueles dedos grossos que não merecem anéis.

Dizem que todo mundo tem uma crucificaçãozinha particular que é muito boa pra abaixar o orgulho e é mesmo.



A simplicidade é aquela que em todas as leis divinas deixa para os que vão perecer toda verbosidade, ostentação e preciosidade, enfeites e curiosidade, e vai atrás da medula e não da casca, do conteúdo e não do continente".(escritos de São Francisco).



Fonte: Adélia Prado /Solte os cachorros / Record editora








sexta-feira, 4 de novembro de 2011






A boa manhã
Rubem Braga




Apenas passo os olhos pelos jornais; jogo-os fora, alegremente, porque eles pretendem dar-me notícia de muitos problemas, e eu não tenho nem quero problema nenhum.


Acordei um pouco tarde, abri todas as janelas para o sábado louro e azul, e o mar me deu bom-dia. Passa um pequeno barco branco no mar de safira: como vai ligeiro, como vai contente, com seu bigodinho de espumas brilhantes! Uma ave se detém um instante peneirando, depois mergulha na vertical em grande estilo; quando volta, um pequeno peixe brilha em seu bico.


Chupo uma laranja, e isto me dá prazer. Estou contente. Estou contente da maneira mais simples - porque tomei banho e me sinto limpo, porque meus braços e pernas e pulmões funcionam bem; porque estou começando a ficar com fome e tenho comida quente para comer, água fresca para beber.


Nenhuma tristeza do mundo nem de meu passado me pega neste momento. Tenho prazer em ver que a Ilha Rasa está lá direitinha, em seu lugar, com o farol branco. Vejo ao longe, saindo da praia, dois amigos; estão conversando e rindo. Tomaram seu banho de mar, vão almoçar; estou contente porque os amigos vão bem e suas mulheres esperam crianças. Saúde e prosperidade! Estou contente porque recebi uma boa notícia. Nada de extraordinário, mas uma notícia muito simpática.

Sei que o mundo está cheio de horríveis problemas - e eu mesmo, pensando bem, tenho alguns bem chatos. Mas não estou pensando neles; estou vivendo nesta fresca manhã um momento de bem-estar, de felicidade.
Ora, considerando que a felicidade é uma suave falta de assunto, eu me despeço de todos com um cordial bom-dia e vou almoçar.



Não quero contar prosa, mas tenho arroz, feijão, carne, alface, laranja, pão, tudo o que um ser humano necessita para viver bem.


Um velho amigo vem honrar a minha mesa; falaremos com simpatia das mulheres bonitas desta formosa capital. Conversa de brasileiros! Bom dia, passem bem todos com suas mulheres, com seus amigos, com suas amantes também.

(“Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

imagem da internet




Do que eu preciso?

Anna Veronica Mautner*


A fronteira entre acumular pensando no futuro e o vício de guardar coisas inúteis parece tênue e é preciso saber reconhecê-la. Desde pequenos, quando ganhamos nossa primeira caixinha ou gaveta para guardar brinquedos, até adultos, donos de nossas casas, temos de exercer constantemente o poder de decisão -saber o que guardar e o que jogar fora, sem chorar depois.


Viver rodeado do passado pode ser confortável, mas afundar nele é pesado e acaba tendo como resultado a sensação de que o nosso futuro -os sete palmos de terra- já está aqui. Com espaço, é fácil manter ordem e encontrar o que procuramos. Cada coisa tem um tempo de vida -e há também a hora certa de se desfazer delas.


Vivendo em tempos de obsolescência precoce, como no caso dos aparelhos eletroeletrônicos, desfazer-se é imposição, com tempo previsto pelos fabricantes. Rádio velho poucos guardam. De roupas, louças e engenhocas ninguém sabe quando é hora de se desfazer. Nem estou falando ainda sobre o mar de papéis a nos inundar o cotidiano, cujo prazo de guarda é estabelecido pelo governo e por estatais.


A Receita Federal exige que todo cidadão guarde por uns tantos anos recibos de tudo que descontou. Eis um campo em que não se confia em computador. Para recibos ou procurações, é o papel que vale. E, quando o cidadão morre, cabe aos herdeiros, no que costuma ser um dia dos piores, remexer as intimidades oficiais do falecido. Aí, os sobreviventes decidem o que fica com quem e o que vai.


Nós, vivos, donos únicos das nossas coisas, resolvemos a cada dia o que vai e o que fica. "Será que um dia ainda vou receber para jantar ou posso passar adiante as minhas travessas?" Esse tipo de pergunta faz parte do amadurecimento, não só do envelhecimento. Quando é hora de jogar fora velhas cartas de amor? É sempre triste imaginar que ninguém vai curtir as fotografias que tanto significam para mim.


Viraram notícia os casos extremos de inutilidades acumuladas por certas pessoas, sempre gente solitária. O mau cheiro, os insetos e as queixas dos vizinhos acabam decidindo pelo indeciso acumulador. Li até um caso de uma pessoa que dormia na garagem, dentro do próprio carro (que também não era usado), por falta de outro espaço livre.

Não é só a morte a ameaça temida por aquele que acumula. Criança odeia quando jogam fora seus brinquedos, mesmo os velhos e quebrados. Freqüentemente o espaço privativo dos jovens vira depósito de camisetas, tênis, meias, CDs e engenhocas que eles pretendem reciclar um dia -que nunca chega. Numa kitchenette de jovem, encontramos dois copos e dois pratos, mas no corredor estão penduradas dez mochilas pelo menos.

O apego nem sempre resulta de escassez, traumas ou carência. É muito mais uma forma de protelar a chegada do dia de amanhã e de continuar fazendo de conta que hoje é ainda ontem.


A síndrome de "juntar coisas" com a falta de espaço gera um estresse que nos torna mais indecisos ainda e menos seguros para jogar fora. O que importa para usar amanhã, esse dia tão desconhecido?


Para não jogar nada fora, basta ter medo do amanhã.

[...] Cada coisa tem um tempo de vida, e há também a hora certa de se desfazer delas

*Anna Veronica Mautner, psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, é autora de "Cotidiano nas Entrelinhas" (ed. Ágora)
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Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq0507200701.htm

terça-feira, 1 de novembro de 2011



Artigo publicado em: 20/03/08 por Antonio Ricardo Nahas


Picolé da alma

Quando criança adorava os picolés.
O meu recorde foram oito picolés em poucos minutos. Cada um de um sabor! Morango, abacaxi, creme holandês, limão, chocolate, coco queimado e uva. Que delícia!
Os picolés são mágicos. O vendedor de picolés é um grande vendedor de cores e sabores, quem sabe de verdades metafísicas.
Aquele carrinho carregava dentro de si sonhos e paisagens. Cada gosto me levava para um lugar diferente.
Enquanto chupava o picolé, minha mente viajava pelo mundo todo. Meditava nos mistérios da vida e do universo.
Cada pingo que caia fazia-me lembrar o quanto a vida é transitória.
Quando a gente chupa picolés não se pode perder tempo. Isso porque o calor também gosta dos picolés.
Talvez sejamos picolés! Cada um tem o seu sabor e a sua cor. Alguns são doces como o creme holandês, outros azedos como tamarindo.
Ou quem sabe somos todo o carrinho, lotado de picolés com todos os sabores e cores.
Mas todos os picolés têm o seu tempo. Alguns derretem mais rapidamente, outros demoram mais.
O fato é que todos nós derretemos no calor do tempo e da vida.
A cada dia um pingo de vitalidade se perde no calor da temporalidade.
Ficamos mais velhos e mais líquidos. O tempo tem o poder de derreter a solidez de nossos egos picolés.
O sólido ego no fluxo da existência vai transformando-se no líquido “self” da essência.
Todos os dias nós derretemos um pouquinho mais no calor da vida. E a vida é quente, muito quente.
Alguns derretem com sabedoria. Mas a maioria briga com os pingos coloridos que caem na terra.
Envelhecer não é nada fácil. Aceitar a transitoriedade da vida e o fato de que somos “hebreus”, para muitos, é experiência de terror.
Hebreu significa aquele que está de passagem. Somos passantes. Somos picolés.
A única coisa que não derrete é o palito. Mas o que é o palito?
O palito é a estrutura dos picolés. A coluna vertebral que dá suporte e base para o sólido que tem como destino o líquido.
O palito não derrete e pode até ser reaproveitado.
O que em nós não derrete com o tempo?
O que em nós permanece quando tudo é transitório?
Naqueles tempos já sabia que os picolés eram metáforas humanas. Brincar com os picolés é arte iniciática. É penetrar nos mistérios da vida e da morte.
Cabe a nós derreter com sabedoria e amor.
Porque cada gota que cai na terra será um dia uma nuvem no céu.
http://www.intirp.com.br/index.php

domingo, 30 de outubro de 2011

foto da internet


Vista cansada
Otto Lara Resende


Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa idéia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou.

Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver.


O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar.


Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe.


De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos, nunca o viu.


Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho.


Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.


Texto publicado no jornal “Folha de S. Paulo”, edição de 23 de fevereiro de 1992.Mais sobre Otto Lara Resende e sua obra em "
Biografias".

sexta-feira, 28 de outubro de 2011



A Cruz e o Ícone de Nossa Senhora em nossa cidade









Uma grande emoção











Alegria e muitas lágrimas de felicidade e de fé





Encontro Mundial da Juventude/Rio 2013

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

imagem: rockwellmirror



Vá em busca de si mesmo!







Entre o sono e o sonho, entre mim e o que em mim é o quem eu me suponho, corre um rio sem fim. Fernando Pessoa, inspirado poeta, leitor sensível da alma humana, pode traduzir com sutileza o desafio de cada existência.




Onde se dará nosso despertar de compreensão?


Vamos de crises em crises, aprendendo aos tropeços, sofrendo de ansiedade, estresse e cansaço. É preciso compreender que não é a crise que nos encontra, somos nós que a produzimos. Isso se dá porque não fluímos bem nos movimentos da mudança, nesse rio sem fim, que costumamos chamar de vida.


A mudança é o ritmo no qual o mundo caminha e só há um jeito de se dar bem com ela, aprendendo a mudar também. O maior paradoxo, a contradição mais coerente da mudança é que é preciso mudar para ser quem se é.




É preciso deixar de ser quem não somos, de fazer o que não queremos e viver o que não gostamos. Se olharmos atentamente nossa realidade, vamos perceber que muitas coisas em nosso dia a dia se encaixam nessa definição que é contrária à nossa natureza.É urgente nos armarmos de coragem e irmos a busca de nós mesmos.




É prioritário definir o que vamos fazer com o tempo que nos foi dado. É fundamental acordarmos do sono ilusório da realidade para vivermos na prática o sonho que nos comove. A crise é apenas um sinal na estrada dizendo que é hora de rever o caminho.



Vá em busca de si mesmo e não tenha medo dos desafios e das incertezas, pois as asas só aparecem quando o chão desaparece.



Texto retirado do site www.work.com.br de Dulce Magalhães - palestrante do Congresso Felicidade Autêntica

terça-feira, 25 de outubro de 2011



23/10/2011 10:54
Estado de São Paulo (SP)






De onde vêm as desigualdades - Suely Caldas


O Brasil é campeão em desigualdades. Exemplo: o governo investe míseros R$ 7,5 bilhões por ano em saneamento básico para atender o País inteiro, onde só 55% dos municípios coletam esgoto, mas em 2011 vai deixar de arrecadar R$ 116,1 bilhões isentando ou reduzindo tributos de empresas e instituições ricas. São as chamadas renúncias fiscais concedidas pelo governo federal a pretexto de desenvolver um setor econômico ou região, mas cujos resultados são duvidosos e nunca mensurados, já que não passam por nenhuma avaliação.

Dois estudos divulgados nos últimos dias questionam a eficácia da renúncia fiscal como meio de levar progresso ao País e à população. Baseado em números da Receita Federal, o cientista político do Instituto Universitário do Rio de Janeiro (Iuperj) Marcelo Sobreiro Maciel calculou em R$ 116,1 bilhões o tamanho da "generosidade" dos incentivos fiscais concedidos pelo Executivo federal em 2011. Em 2012 a cifra aumenta para R$ 146 bilhões. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) chegou ao mesmo número em 2011, mas o ampliou para R$ 137,2 bilhões ao adicionar isenções na área da Previdência.

Esse valor é mais que o dobro do orçamento de R$ 63,7 bilhões do Ministério da Educação, 10 vezes mais do que é gasto com 53 milhões de pobres do programa Bolsa-Família e 18 vezes o que o governo investe em saneamento. São desses nacos de distribuição perversa da renda nacional que os governantes acentuam as desigualdades sociais no País. É assim que - constata pesquisa do IBGE
- há mais de 20 anos os Estados do Pará, Piauí, Maranhão e Rondônia têm menos de dez cidades com esgoto sanitário e, nas centenas de outras, crianças sofrem de doenças infecciosas em contato com esgoto a céu aberto.

Além de campeão em banalização e tolerância com a corrupção, o governo Lula ergue também o troféu da liderança em generosidades fiscais. Segundo a pesquisa de Maciel, em 2003, quando Lula chegou ao poder, os incentivos fiscais somavam R$ 23,2 bilhões. Desde então foram multiplicados em ritmo acelerado e, em 2012, a conta chegará a R$ 146 bilhões, um salto de 529%. A renúncia por meio da Cofins, por exemplo, foi de R$ 1.182 bilhão, em 2002, para R$ 41.278 bilhões, em 2012, um crescimento de 4.400% em apenas dez anos.

Em geral os beneficiados são empresas de setores industriais com força política e acesso fácil ao Planalto. Formam-se lobbies em que empresários se aliam aos sindicatos de trabalhadores fortes e barulhentos e conseguem aprovar seus privilégios, com custo alto para todo o resto da população. O exemplo mais recorrente é o da indústria automobilística atuando em dobradinha com os metalúrgicos do ABC, de onde saiu Lula.

A caneta do presidente basta para conceder o incentivo, já que a decisão não passa pelo Congresso. E a eficácia do resultado é desconhecida porque o governo, único com poder de aferi-la, não se preocupa em avaliar. É o que o cientista político chama em sua pesquisa de "renascimento do capitalismo de Estado". Ou seja, o poder do Estado - aí representado pelo presidente - em distribuir generosidades de capital fiscal, logicamente com dinheiro do contribuinte, que, aliás, não é o único a perder.

O Ipea constatou que 59,42% das renúncias fiscais vêm do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos Industrializados, justamente os tributos que o governo federal divide com Estados e municípios, por meio dos fundos de participação. Portanto, governadores e prefeitos também perdem dinheiro.

Há, ainda, outros riscos. Além de premiar empresas poderosas, a renúncia também financia a classe política. Como se trata de um benefício setorial, pontual, em que a escolha dos eleitos é feita sem critérios transparentes e deixa a maioria de fora, o incentivo fiscal abre janelas para a corrupção e o suborno da troca de favores entre o público e o privado, que acabam abastecendo os cofres dos partidos políticos. Foi o que a ex-governadora do Rio Benedita da Silva encontrou, por exemplo, ao rastrear os incentivos fiscais concedidos por seu antecessor, Anthony Garotinho. E, infelizmente, não é um caso isolado.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

imagem da internet


O custo das coisas é a quantia do que chamo vida que se paga em troca dessas coisas,imediatamente ou a longo prazo.



Henry David Thoreau, Walden

sábado, 22 de outubro de 2011



"Arthur Rubinstein, um grande pianista do séc.XX certa vez foi questionado sobre como conseguia usar as notas com tanta maestria, de maneira calma ele respondeu: "Eu uso as notas do mesmo jeito que os outros pianistas, mas as pausas...Ah!


É aí que está a arte.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011



"Redes de segurança genuínas deveriam atuar como um trampolim".


Zygmunt Bauman em A sociedade individuallizada:Vidas contadas e histórias vividas

quarta-feira, 19 de outubro de 2011



Impossível deixarmos de nos lembrar de J.P. Sartre e aquilo que designou como má-fé; a ilusão à qual a pessoa se apega de que tem um destino predeterminado, procurando assim eximir-se de qualquer responsabilidade sobre seus atos. Essa atitude dificulta, impede e é, ao mesmo tempo, uma defesa contra a necessidade de escolher o próprio destino, o que torna a pessoa um escravo em potencial das circunstâncias , dos papéis sociais e profissionais, de outro ser humano, de um certo "Deus" tirano, de si própria, perdendo a ascendência sobre tudo, tornando-se uma "coisa".


Livro: Psicologia do Sagrado/Psicoterapia Transpessoal de Eliana Bertolucci

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Achei muito interessante a afirmação do poeta sueco ganhador do Nobel de 2011, Tomas Transtömer em entrevista a Antonio González Iglesias, publicada ontem no jornal O Estado de São Paulo. Photo © Ulla Montan. Courtesy: Albert Bonniers Förlag




"Existe aquele que é bom

existe aquele que pode ver tudo sem odiar".

Do livro No Delta do Nilo

sexta-feira, 14 de outubro de 2011



"Uma flor nasceu na rua


Uma flor ainda desbotada


Ilude a política, rompe o asfalto.


Façam completo silêncio


Paralisem os negócios


Garanto que uma flor nasceu


Furou o asfalto e o tédio."



DRUMMOND

quinta-feira, 13 de outubro de 2011




Lao-tse dizia: "As cinco cores tornam um homem cego.Os cinco tons tornam um homem surdo."



Isso significa que, se você acha que só existem cinco cores, você está cego e, se acha que só existem cinco tons, está surdo. Como você sabe, existe um contínuo infinito de som e de cor, e o espectro é simplesmente uma questão de conveniência na classificação.


Livro:Taoísmo:muito além da busca Alan Watts

terça-feira, 11 de outubro de 2011






O Deus de bondade que pelo Filho da Virgem Maria quis salvar todos os homens, vos enriqueça com sua benção.

Seja-vos dado sentir sempre e por toda parte a proteção da Virgem, por quem recebestes o autor da vida.

Amém




foto: Basílica Nossa Senhora Aparecida

Eliete

Oração:Edições PRG-SP

domingo, 9 de outubro de 2011

Uma menina no caminho simples, disse à sua mãe:



"Estou seguindo as suas pegadas, mãe, e não quero cair.



Algumas vezes eu as vejo nítidamente.



Outras, mal posso enxergá-las



Caminhe um pouco mais firme, mãe!



Para eu poder segui-la.




Eu sei que há muitos anos você percorreu caminhos



Que não queria percorrer.



Conte-me tudo sobre este tempo, mãe,



Pois eu preciso saber.



Porque, às vezes, quando eu duvido,



Eu não sei o que fazer.



Caminhe um pouco mais firme, mãe!



Para eu poder seguí-la.





Um dia, quando eu crescer,



Você é quem eu gostaria de ser.



Então, terei uma pequena garotinha,



Que vai querer me seguir.



Eu quero poder saber conduzí-la à verdade!



Caminhe um pouco mais firme, mãe!



Para eu poder segui-la".






Livro: Normose/A patologia da normalidade



Pierre Weil/Jean -Yves Leloup/ Roberto Crema



Verus Editora






Como é bom ter mãe


Como é bom ser mãe


Como é bom ter filha


Como é bom ser filha

Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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