quarta-feira, 28 de julho de 2010


NO MUNDO HÁ MUITAS ARMADILHAS

No mundo há muitas armadilhas e o que é armadilha pode ser refúgio e o que é refúgio pode ser armadilha.
Tua janela por exemplo aberta para o céu e uma estrela a te dizer que o homem é nada ou a manhã espumando na praia a bater antes de Cabral, antes de Tróia (há quatro séculos
Tomás Bequimão tomou a cidade, criou uma milícia popular e depois foi traído, preso, enforcado).
No mundo há muitas armadilhas e muitas bocas a te dizer que a vida é pouca que a vida é louca .
E por que não a Bomba? te perguntam.
Por que não a Bomba para acabar com tudo, já que a vida é louca?
Contudo, olhas o teu filho, o bichinho que não sabe que afoito se entranha à vida e quer a vida e busca o sol, a bola, fascinado vê o avião e indaga e indaga.


A vida é pouca a vida é louca mas não há senão ela.
E não te mataste, essa é a verdade.
Estás preso à vida como numa jaula.
Estamos todos presos nesta jaula que Gagárin foi o primeiro a ver de fora e nos dizer: é azul.

E já o sabíamos, tanto que não te mataste e não vais te matar e aguentarás até o fim.
O certo é que nesta jaula há os que têm e os que não têm há os que têm tanto que sozinhos poderiam alimentar a cidade e os que não têm nem para o almoço de hoje .
A estrela mente o mar sofisma.
De fato, o homem está preso à vida e precisa viver ; o homem tem fome e precisa comer o homem tem filhos e precisa criá-los.
Há muitas armadilhas no mundo e é preciso quebrá-las.
Ferreira Gullar

Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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