terça-feira, 26 de maio de 2015



Moderno peregrino


Eu quase nada sei. Mas desconfio de muita coisa.
Guimarães Rosa


Se compreendêssemos profundamente nossa condição de peregrinos neste mundo, saberíamos vivenciar intensamente cada minuto desta estrada, cada direção escolhida, cada inclinação assumida, cada oferta recebida.

Se compreendêssemos profundamente nossa condição de peregrinos neste mundo, estenderíamos nossas mãos, esgarçaríamos nossas dúvidas, saberíamos dimensionar nosso tamanho, e aproximar-nos-íamos  de todos os  que também peregrinam .

Se compreendêssemos profundamente nossa condição de peregrinos neste mundo, exploraríamos melhor os imensos tesouros de nossas almas, debruçar-nos-íamos atentamente nos ditames do coração e não temeríamos nossas sombras.

Se compreendêssemos profundamente que o importante não é a distância percorrida nem a bagagem  adquirida , acumularíamos a sabedoria do caminho, desataríamos os nós do egoísmo, respiraríamos profundamente os momentos de repouso, abrigar-nos-íamos no silêncio de nosso interior ...

Se compreendêssemos profundamente que a vida é, em essência, movimento e transformação, despojar-nos-íamos das cargas do medo, dos mecanismos de proteção e ficaríamos de mãos estendidas  para as alquimias necessárias.

Se compreendêssemos que o dínamo  que nos dá vitalidade é o amor, espalharíamos e multiplicaríamos suas sementes, e deixaríamos nossas  marcas pelo caminho.
Se compreendêssemos que a esperança é a força que nos faz erguer os olhos para o alto e que fortalece novos passos, faríamos desta travessia uma epifânia .
Viver mais profundamente  é uma questão de decisão que só vem com a compreensão profunda do verdadeiro sentido da vida .  A vida é muito mais do que se vê , é muito mais do que se suspeita, é uma bênção que dorme esperando a salvação .

texto: Eliete T. Cascaldi Sobreiro
imagem: internet:pecksing_popud





terça-feira, 19 de maio de 2015


Primeiro levaram os negros,
mas não me importei com isso.
Eu não sou negro.
Em seguida, levaram alguns operários,
mas não me importei com isso.
Eu também não sou operário.
Depois prenderam os miseráveis,
mas não me importei com isso,
porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados,
mas como tenho meu emprego,
também não me importei.
Agora estão me levando,
mas já é tarde.
Como não me importei com ninguém,
ninguém se importa comigo
Bertold Brecht, dramaturgo alemão (1898-1956)
Imagem: Ellen Kooi (internet)

sábado, 16 de maio de 2015






RITA LISAUSKAS
15 Maio 2015 | 09:00

Malala, a menina que queria ir para a escola. Ilustração: Bruna Assis Brasil
Malala, a menina que queria ir para a escola.
Ilustração: Bruna Assis Brasil
Ela não perdeu muito tempo se lamentando pelos cantos quando se sentiu injustiçada. Nem esperou que um príncipe a resgatasse. Malala até chorou um pouco, é verdade, mas quem não choraria ao ver seu país invadido pelos talibãs que, de quebra, ainda decretaram que as meninas não podiam mais estudar? Quem não choraria ao ver mais de 400 escolas destruídas? Malala logo botou a boca no mundo. “Como o Talibã se atreve a tirar meu direito à educação?”, discursou publicamente em 2008, quando tinha apenas 11 anos. Depois, usando um pseudônimo, escreveu um blog contando ao mundo como era sua vida durante a ocupação. Chamou a atenção por defender o acesso das mulheres à educação formal e, por isso, foi ameaçada e baleada pelos barbudos extremistas em outubro de 2012, quando voltava da escola.
A repórter especial do Estadão, Adriana Carranca, embarcou para o Paquistão logo depois que o Talibã tentou matar Malala, com uma missão: descobrir mais sobre a menina e contar essa história em um livro para o público adulto. Mas voltou de lá com um livro para as crianças. “Ficou claro para mim que esta era uma história incrível para os pequenos, por Malala ser também apenas uma menina, uma jovem de uma zona tribal que acreditou nos seus sonhos. Por ser uma história de amor à escola, aos professores, aos livros”, conta. Adriana se hospedou com moradores da cidade para entender o lugar onde Malala nasceu e cresceu. Conheceu a escola onde a menina estudou, conversou com amigas e colegas de classe. Falou com os médicos que a atenderam depois do atentado, parentes, vizinhos, e conheceu o quarto de Malala que, na época da visita de Adriana, lutava pela sobrevivência em um hospital da Inglaterra.
Ilustração: Bruna Assis Brasil
Ilustração: Bruna Assis Brasil
“Malala, a menina que queria ir para a escola”, da Companhia das Letrinhas, é um livro-reportagem que apresenta essa personagem tão contemporânea. “Todas as crianças provavelmente já ouviram falar de Malala, mas ninguém ainda tinha contado essa história para elas”, afirma Adriana. Chega a ser um bálsamo que uma menina tão forte e real seja apresentada aos nossos filhos que, muitas vezes, são levados a acreditar cegamente em princesas frágeis e em príncipes machões. “Ela não sonhava em encontrar um príncipe encantado, mas em ir para a escola; não queria se realizar por meio do casamento, mas por si própria com o mundo de possibilidades que a educação oferece. É uma anti-Cinderela”, completa.
Meu filho ainda não sabe ler, mas ao me ver uma tarde inteira debruçada sobre a história de Malala, quis saber do que se tratava o livro. “É sobre uma menina que foi proibida de ir para a escola, Samuca”. E ele, intrigado, arriscou uma teoria para a tal proibição. “Por que ela era muito bagunceira, mamãe?”. Eu expliquei que não, que existiam lugares onde as meninas eram impedidas de ir à escola por alguns homens maus. Ele, que já começa a achar as meninas legais, reclamou. “Nossa! Que lugar injusto esse!”
No livro, que será lançado neste sábado, 16/05 ,as crianças aprendem também que na cidade de Malala não é apenas na escola que as mulheres não eram bem-vindas. “No mercado de rua de Mingora, cidade da Malala, há uma faixa: Proibida a circulação de mulheres”, conta Adriana. Mostrar questões áridas para quem ainda está em processo de formação de caráter, pode ser uma boa forma de promover a tolerância religiosa, racial e cultural, segundo a autora. “Nós explicamos o que é uma igreja, uma sinagoga, uma mesquita, um templo; o hijab, o quipá, a cruz”, afirma. “É uma forma de ajudá-los a compreender o tempo em que vivemos”, completa. E no tempo em que vivemos, ainda bem, é possível também que um Prêmio Nobel da Paz seja dado a uma adolescente paquistanesa, como Malala. No discurso de recebimento do prêmio, Malala justificou sua luta. “Eu tinha duas opções, a primeira era permanecer calada e esperar para ser assassinada. A segunda era erguer a voz e, em seguida, ser assassinada. Eu escolhi a segunda. Eu decidi erguer a voz.”
Malala
“Malala, a menina que queria ir para a escola”
Autora: Adriana Carranca
Ilustradora: Bruna Assis Brasil
Idade: 6 a 11 anos
Lançamento: 16/05, 16hs
Local: Livraria da Vila. Alameda Lorena, 1.731
fonte: http://vida-estilo.estadao.com.br/blogs/

quinta-feira, 14 de maio de 2015




OUVIR ESTRELAS

E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes.
Cecília Meireles

Ouvir o outro está muito difícil em nosso dia a dia. É motivo de riso o comentário: ”Que pessoa chata, eu só perguntei como ela estava e ela se pôs a explicar”.
Não há mais tempo para o outro, não há mais por que ficar perdendo tempo com “conversa fiada”, afinal tempo é dinheiro.
É interessante observarmos nossa irritação com adolescentes , quando ficam horas ao telefone ou ao computador, conversando com seus amigos; vamos logo chamando-os , para “irem tratar da vida”.
Há vários motivos que explicam esta dificuldade em ouvir as pessoas. Frequentemente, ouvimos de uma forma muito seletiva ou distorcida. Escolhemos alguns pontos que nos são convenientes e ignoramos todo o resto. Isso quando não caímos no velho hábito de julgar, ou tentar convencer que  nosso ponto de vista é o correto. Geralmente, carregamos preconceitos, entendendo-os como sendo verdades.
Ouvir de uma forma sensível, empática, concentrada e imparcial é cada vez mais raro, mesmo porque isto requer um tempo maior, e este tem sido objeto raro!
Está distante o tempo em que as pessoas se sentavam na varanda para conversar, ou paravam no vizinho para um cafezinho e um bocadinho de conversa.
Às vezes, sentimos até o desejo de ir à casa do amigo, mas logo hesitamos, pois poderemos atrapalhá-los, ou tirá-los do descanso, ou,  então, nós é que ficaremos atrasados,  e no outro dia é preciso acordar cedo.
É triste constatar que estamos, cada vez mais, sem disponibilidade interna para cultivar amizades, parcerias, e  os encontros vão sendo frequentemente adiados.
Talvez, precisássemos  criar escolas com janelas bem amplas, para que aprendêssemos novamente contemplar o céu, ouvir estrelas e ver a banda passar .
Será que é uma utopia, será que não mais teremos a paz que tínhamos?
 Será que mudamos tanto assim?
Será....
Escrito por Eliete T. Cascaldi Sobreiro
imagem: Internet


domingo, 10 de maio de 2015



SAIBA

Saiba! todo mundo tem mãe: ausente ou presente, conhecida ou desconhecida, carinhosa ou agressiva.
Trazemos parte dela em nós... querendo ou não, desejando ou não, gostando ou não.
Saiba! todos nós procuramos por ela: achando-a ou não, encontrando-a ou não, subindo em seu colo ou não.

Saiba, toda infância é melhor se há casa, família e um lar onde brincar.
Se os pais têm trabalho e valentia e, com a família, vivem em harmonia.
Saiba, toda infância é favorecida quando o amor se manifesta com alegria.
Saiba, todo mundo tem medo, tristeza e pavor de pensar que a família pode morrer.
Todo mundo tem vergonha, desalento e aflição de ver a infância nas esquinas, em total solidão.
Saiba, todo mundo tem a ver com tudo isso, SIM!
E a solução não pode esperar mais, NÃO!

Saiba! Todo mundo vai morrer, nossos pais também.
Mas se a família não se distrair, não se dividir, não se extinguir...
a vida continuará e o mundo sempre terá
PAIS para semear um futuro com muita PAZ.


Inspiração: “Saiba” - música de Arnaldo Antunes
escrito por: Eliete T. Cascaldi Sobreiro






Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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