quarta-feira, 20 de abril de 2011



Existem momentos em nossa vida em que parecemos “estar num beco sem saída”, como nos diz o ditado popular, no qual tudo aquilo pelo qual lutamos, trabalhamos e vivemos se encerra ali, sem ao menos restar uma fagulha de esperança na qual deter nosso coração inquieto a procurar um novo sentido para continuar a viver. Parece que não há para onde fugir. Diante de tal acontecimento cabe apenas perguntar-nos: E agora?
O poeta mineiro, Carlos Drummond de Andrade, traduziu em palavras muito bem colocadas (não sendo a intenção dele) o sentimento que passava pelo coração dos discípulos, quando aparentemente uma cruz aquietou a voz do mestre, quando um túmulo lhes pareceu sepultar suas próprias vidas, quando uma pedra não apenas sepultou Jesus, mas sepultou de cada qual a melhor parte da vida que tinham, afinal de contas Jesus conseguiu transformar de maneira profunda a vida de cada pessoa que com Ele se encontrava.
Drummond escreveu um de seus mais belos poemas em torno de várias perguntas endereçadas a José, que, sendo um nome bastante corriqueiro, parece questionar também a nossa condição humana; parece falar claramente às nossas crises existenciais. Ele diz: “E agora, José? A festa acabou, a luz se apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? E agora você?” Ao colocar a dureza da vida diante de José ( podemos nos colocar no lugar José!), o que o autor pretende não é fomentar em nossos corações o desânimo ou a tristeza que possa parecer conter nossos questionamentos; na verdade, o autor pretende nos mover para uma reação. Já que não há onde se esconder precisamos ter a coragem de não deixar morrer tudo aquilo que experimentamos de nobre e belo em nossa vida.
No coração dos discípulos, diante do sepulcro, parece apenas restar a dupla saudade: primeiro, saudade daquele que se foi, Jesus; e a segunda, saudade de suas antigas vidas de pescadores. Mas, mesmo que sentissem saudades, já não podiam ser iguais ao que eram antes, pois o encontro profundo que tiveram com Cristo tinham lhes mudado o coração de tal forma que já não cabia em suas novas vidas os velhos homens.
Mas, eis que ao terceiro dia, para a surpresa e espanto de seus corações tristes e desconfiados, “o túmulo está vazio”! Novamente enchem os seus e os nossos corações de esperança, sabor e vida. O amor falou mais alto do que o silêncio do sepulcro, a vida brotou na dureza do tumulo do coração humano, a presença do Cristo novamente pode ser sentida. A alegria da ressurreição anima, alegra e faz o sol nascer em cada coração frio, escuro, pois se tirarmos o amor do mundo resta só o sepulcro frio e sem vida. Tirem de mim Jesus Cristo e não me sobra mais nada, pois Cristo é tudo em mim e eu não sei viver a minha vida se não tiver a presença amorosa e norteadora do amor feito gente.
Para encerrar lembro um trecho das catequeses de Jerusalém que está na liturgia das horas, da quinta-feira na oitava da páscoa: “ó maravilha de amor pelos homens! Em seus pés e mãos inocentes, Cristo recebeu os cravos e suportou na dor; e eu sem dor nem esforço, mas apenas pela comunhão em suas dores, recebo gratuitamente a salvação”.
Por fim, poderíamos perguntar: E agora, Jesus? O que sou sem tua presença a me iluminar? O que sou sem teu amor a me humanizar? Sem ti, nada sou; contigo sou mais livre, vivo e feliz!
Bruno Luiz Ferreira da Silva – seminarista do 1ºAno de TEOLOGIA

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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