terça-feira, 31 de março de 2009


BOM DIA
hoje é dia da estrela....
CLARICE LISPECTOR

“PRECISA-SE”
Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la.
Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar.
P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.
Clarice Lispector


Esse poeta é demais...Fabrício Carpinejar

DESANDO A RIR. É difícil explicar uma alegria. É fácil explicar uma tristeza. Uma alegria é descoberta. Tristeza é invenção. Queria dormir como uma criança que não quer dormir. Há dias tão cansados que me escapa o sono. O rosto de quem dorme demais é o mesmo rosto de quem dorme de menos. As olheiras são fundas como um convés inclinado. Quando não penso, desando a rir. Amar um corpo não é deixar acontecer, amar um corpo é concentração. É procurar no corpo o que o corpo não vê. É enxergar onde a respiração se repete em música. Ser natural é mais do que ser espontâneo. Ser natural é esquecer. Ser espontâneo é tentar esquecer. Existir é uma violência. A gente escreve para existir menos. Ao escrever, a gente escolhe. Ao existir, a gente é escolhido. Ter consciência não me fez mais prevenido. Minhas mãos são joelhos sentados. Não sou o que aprendi. Sou o que falta aprender.

Fabrício Carpinejar



Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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