quarta-feira, 22 de junho de 2011


COM A PERMISSÃO DE VIVIAN FERNANDES
O mágico
Angelo contemplava o horizonte, sonhando acordado, enquanto seus pais treinavam seu número de malabaristas. Nascera no circo, mas não havia herdado o talento dos pais. Era distraído e descoordenado demais para os malabares. Possuía um carisma único, e atraía a todos , mas nunca percebia o efeito que causava nas pessoas, tentara quase todos os números do circo, mas não conseguiu se encontrar em nenhum, seu talento dormia fundo em sua alma. Nunca ficava triste ou desanimado, sua tenacidade era espantosa, e assim seguia procurando. Numa de suas observações reparou que o mágico estava ficando cansado, sua idade avançada impedia a precisão de movimentos, solidário foi conversar com ele, percebendo que era a primeira vez que entrava na tenda do mágico . E o deslumbramento o ofuscou por um instante, jamais sentira nada parecido, não sabia se sonhava ou estava desperto.

O mágico percebendo sua reação, começou a contar sua vida de grande mágico, que fora intensa e prazerosa, vinha de uma antiga linhagem de mágicos, e não havia um só descendente que não possuía o dom, mas que infelizmente era o ultimo, como não se casara , não tinha filhos. Mas que ficaria contente em passar os segredos da mágica adiante, precisava de um aprendiz. Angelo nem respirava com a intensidade da emoção que o tomava por inteiro e sem pestanejar se ofereceu como aprendiz. A nova rotina não era fácil, os pais não viram com bons olhos mais esta tentativa, mas conseguiu convence-los que nascera para isso. Acordava muito cedo e passava o dia com o mágico, que ia lhe ensinando o ofício, a sua famosa distração lhe causou muitos contratempos, perdia o baralho e não o encontrava na hora certa, o coelho nunca estava na cartola, quando ia retirá-lo, mas não esmorecia, estava fascinado e mesmo depois de meses sem um progresso não aceitava que não possuía o dom. Tinha certeza que faria um grande número, e ninguém conseguia demove-lo.

Com muito esforço aprendeu os números básicos, para uma pequena apresentação, mas em seu intimo ansiava por um número que o consagraria como O Mágico, e sabia que conseguiria. Insistiu em aprender o desaparecimento no palco, não adiantava o mestre lhe dizer que era muito difícil e não estava pronto, relutante o ensinou, mas lhe avisou que deveria ser treinado com cuidado e muita concentração. Treinou exaustivamente, todos os dias, mas não permitia que ninguém o visse, queria fazer uma surpresa. No dia do espetáculo final, convenceu o dono do circo que estava pronto, e como era amável e encantador nunca lhe negavam nada. O circo estava lotado, seria o último a se apresentar, fecharia a temporada, nesta pacata cidade. Precisou de todo o seu carisma para prender a atenção dos expectadores, e executou de forma tranquila tudo o que aprendera, deixando o desaparecimento para o final. De forma teatral fez a grande apresentação e ante o olhar abismado do público desapareceu sem nem se esconder atrás de um pano, simplesmente sumiu, deixando a platéia enlouquecida, pedindo bis, como não retornou foram todos embora, comentando sobre o maravilhoso espetáculo, principalmente do número final. No dia seguinte as manchetes de todos os jornais , só falavam da espetacular proeza do Mágico. Naquela noite, os integrantes do circo, fizeram uma busca, mas Angelo não foi encontrado, no final ele conseguira seu intento e seu feito jamais foi esquecido. Falavam dele, com voz baixa , cheia de admiração e espanto,o grande Mágico que sumiu.
Vivian Fernandes do blog: http://floresnojardimdavida.blogspot.com/

Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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