quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Brasil - As raízes da paz e da justiça
Marcelo Barros
artigo publicado no site:
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=40804
Em plena Semana da Pátria, Goiânia se torna centro de atenções do mundo todo, não por causa de algum desfile militar, ou uma exaltação nacionalista e sim porque, nestes dias, se torna sede do 2º Festival Mundial da Paz. De 04 a 07 de setembro, pessoas vindas de todo o mundo se reunirão no Centro de Cultura e Convenções de Goiânia para celebrar a Paz, como objetivo sagrado que congraça todos os seres humanos em uma sociedade nova e um estilo de vida sustentável e feliz.

Quando se fala de paz, logo se pensa na paz interior, equilíbrio profundo do espírito e estado de "amorização" que põe o ser em sintonia com todo o universo. As tradições espirituais antigas ensinam que esta conquista do coração depende também da paz social, capacidade de construir nas relações pessoais e na sociedade uma cultura de justiça e solidariedade. O Conselho Mundial de Igrejas que reúne 340 confissões cristãs diferentes define este objetivo como "Paz, Justiça e Integridade do Universo".
Esta é a visão do 2º Festival Mundial da Paz, coordenado por uma maravilhosa equipe de educadoras e de pessoas espirituais, que não só pregam o tema da paz, mas o vivem no cotidiano de suas vidas e de seus trabalhos. Já na manhã da sexta-feira 04 de setembro, a Caminhada Mundial da Paz sairá da Praça do Trabalhador e ao chegar na Praça Cívica se realizará o grande Abraço da Paz sobre a cidade e o mundo. Esta caminhada acolherá a tocha da Paz que, durante este tempo anterior ao Festival, percorreu várias cidades. Assim, uniu muita gente sedenta de paz e justiça em nossa região e no mundo.
O Festival contará com a organização de muitas palestras, fóruns, mesas redondas, eventos e shows já confirmados. O 11º Congresso Holístico Internacional, a ser realizado dentro do Festival, terá como tema o celebrar de uma nova consciência e a opção de uma cultura de paz e sustentabilidade planetária.

Em cidades importantes como Florença e Pisa, universidades públicas mantêm cursos de "ciências para a Paz". Ali, as pessoas aprendem a pensar a economia, a sociologia ou a diplomacia internacional, a partir da opção pela paz e em vista da paz. Estes cursos representam passos importantes na construção de uma sociedade nova. Sem justiça internacional e sem uma ciência respeitadora da vida e da solidariedade, a paz não é possível. Entretanto, de nada adianta uma árvore frondosa e florida, se as raízes não estiverem sadias. A raiz deste problema é o que chamamos de "mística da paz", cultura do cuidado amoroso com a vida, nossa e dos outros. Trata-se de um aprendizado de convivência solidária com todo ser humano e com as sociedades, assim como com a terra e todos os seres vivos. Esta atenção da vida doada nos compromete em uma verdadeira peregrinação às fontes mais profundas do nosso próprio eu, na descoberta e aprofundamento de uma forma de amor mais altruísta, no qual cada um se descobre à medida que se abre ao outro e à vida.

Neste longo aprendizado, as tradições religiosas e espirituais podem ajudar muito. Desde os caminhos espirituais mais antigos, o amor à Paz e o cuidado com ela, se revelam como métodos eficazes de intimidade com o Mistério divino, presente em nós mesmos e atuantes na realidade do mundo. As tradições afro-descendentes falam do Axé, energia vital que nos põe divinizados, quando o acessamos. As tradições indígenas a descobrem no cuidado e na veneração da natureza. O Islã chama a paz de "misericórdia". É um atributo divino que o ser humano alcança pela justiça e bondade com seus semelhantes.
Na Bíblia, Shallom é um conceito básico da aliança de intimidade com o Divino. Comumente se traduz por paz, mas pode significar saúde, bem-estar, alegria e amor. É uma plenitude de vida que se encontra na solidariedade e na justiça social, assim como no cuidado atencioso consigo mesmo e com todo o universo, criação divina. Nesta espiritualidade ecológica, somos chamados a, junto com a Sabedoria Divina, brincar e dançar diante da natureza que resiste, renasce e se rejuvenesce (Pv 8, 22).
O Evangelho de Mateus nos diz que Jesus Cristo nos chama a ser "pessoas construtoras da paz" (Mt 5, 9), bem-aventuradas por fazerem o que Deus faz. Entretanto, esta força ou capacidade não vem de nós mesmos. Nós a recebemos do alto. Por isso, cada vez que Jesus ressuscitado se manifesta aos seus, a primeira palavra é sempre "paz para vocês" (Cf. Jo 20, 19- 23).

O Festival Mundial da Paz durará quatro dias, mas precisa ser enraizado no coração de cada pessoa, para desabrochar em uma convivência baseada na colaboração e não na concorrência e na competição de uns contra os outros. A paz se realizará progressivamente na construção social e política de uma sociedade mais justa e igualitária. Só assim, como dizia o profeta Isaías:

"a paz se estenderá sobre o mundo, como uma torrente transbordante. A alegria de todos se concretizará. Então, toda pessoa se sentirá acariciada no colo e tratada como uma mãe trata seus filhinhos. Assim, vocês receberão consolação e força" (Cf. Is 66, 12 - 14).
* Monge beneditino e escritor

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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