quarta-feira, 1 de julho de 2015


Na roda da vida

Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu.
Chico Buarque

Há dias e mais dias...
Há dias em que a gente questiona se é isso mesmo: se estamos vivendo bem, fazendo o certo, se estamos fazendo bem o Bem, se é assim que queremos viver.
Há dias em  que a gente interroga a vida: as voltas e rodopios que ela dá.

Para que isso, por que assim, o que afinal está acontecendo?
“Viver é negócio muito perigoso”, “viver é um descuido prosseguido”, dizia Guimarães Rosa. Mesmo assim, não desistimos de querer ter voz ativa sobre a vida, sobre os acontecimentos e sobre o tempo. Tal como os amantes que mesmo discordando e brigando não abrem mão de ficarem juntos, acreditando que um dia, um mudará o outro e, aí sim, serão felizes para sempre. Essa  é nossa postura frente à vida .

Há  dias em que a roda-vida mostra-se uma bela dama, dá-nos  liberdade de escolha, deixa-se conduzir por nossas mãos e nos seduz com seu encanto. É a mais pura paixão!

Um enorme arco-íris de emoções nasce em nossos corações, e nós bailamos com leveza e graça.
Há dias em que ela parece mais preguiçosa, menos voraz em relação às  horas, permitindo que respiremos devagar.
Proporciona-nos poucas novidades e, quando amantes das pequenas coisas, absorvemos  tudo com mais sabor .
É pura magia e diversão!

Há dias em  que se mostra generosa, a cada volta que ela dá, uma surpresa boa nos espera, um presente que chega de repente, uma dádiva que nos escolhe para dar a mão.
Mas há dias em que a roda parece enlouquecida, é um verdadeiro ciclone, vira tudo de cabeça para baixo, arranca aquilo que está em desenvolvimento. Sentimos medo e atordoamento e não sabemos para onde correr. Nem sequer somos ouvidos, pouco importa nosso querer. A gente reage, “vai contra a corrente” , tranca as mãos, emperra, estanca, mas ela é soberana.
É só desolação!

Nesses momentos, a roda é uma roca ceifando desejos e ilusões. O cotidiano, com seus sonhos e projetos acalentados, é mexido e remexido, não deixando pedra sobre pedra. É  a roda girando e levando para longe nosso sossego e segurança.

“Na volta do barco é que sente,
O quanto deixou de cumprir...”

Dias passam, outros vêm, e nós não cansamos de nos perguntar: onde erramos, o que deveríamos ter feito e  que não fizemos, o que poderíamos ter evitado e que não evitamos?

“Roda mundo...”

Seu giro é impessoal e indiferente ao nosso querer.
Seus propósitos nem sempre conseguimos entender, e ela vai desenhando figuras fantásticas sempre diferentes no ar. Será moinho, será pião, roda gigante?
Capturados pela grande aventura, fascinados por sua força de atração e pelas lembranças dos momentos vividos, respiramos fundo e mergulhamos como crianças, seduzidos novamente pela velha cantiga de roda tão bela e tão louca chamada Vida.

Há um dia em que uma força mansa e tenaz nos tira da roda.
A volta foi completada e é o momento de voltar para casa.
Esse passo não é ensinado a ninguém. Quem dançou com altivez e coragem todos os movimentos da roda, com certeza, saberá soltar as mãos e  se deixar levar para o definitivo encontro amoroso com o seu Criador e se  tornar, assim, encantado .

Texto: Eliete T. Cascaldi Sobreiro

Imagem: Internet






Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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