domingo, 29 de março de 2009

LIBERDADE E SEGURANÇA: UM ETERNO CONFLITO
"O homem civilizado trocou uma parcela de suas possibilidades de felicidade por uma porção de segurança", afirmou Freud em O mal-estar na civilização.
A felicidade, observou Freud, "vem da satisfação das necessidades que foram represadas em um nível mais profundo.Assim a liberdade significa liberdade para agir conforme os impulsos.
Esse é o tipo de liberdade que tende a ser severamente restringida, pelo bem de "uma porção de segurança", acreditava Freud.
A segurança só pode ser oferecida se a vazão caprichosa dos desejos for substituida pela ordem.
A liberdade sem segurança não tende a causar menos infelicidade do que a segurança sem liberdade.
Os humanos necessitam tanto da liberdade como da segurança-e o sacrifício de qualquer um deles causa sofrimento. Mas o sacrifício não pode ser evitado, e assim a ânsia por felicidade está destinada a ser frustrada.

Freud postulava que o perfeito equilíbrio entre liberdade e segurança é uma impossibilidade prática.
O desaparecimento de normas e limites era uma visão sedutora quando a vida era vivida com um temor diário de transgressão.
O que nossos ancestrais não previram, era que o reino da liberdade tem um alto preço.
O preço em questão é a insegurança-um desconforto muito mais complexo que inclui incerteza e falta de proteção ;um preço alto ao se considerar o número de escolhas com que uma pessoa deve se confrontar todos os dias.
A individualização veio para ficar, ela traz para um número crescente de pessoas, uma liberdade sem precedentes mas também traz uma tarefa sem precedentes de lidar com suas consequências.
O grande problema é que por causa da endêmica incerteza , um controle sobre o presente é algo que claramente não existe na condição dos homens contemporâneos.A confiança, aquela condição indispensável para todo planejamento racional e toda ação confiável, está flutuando, procurando em vão um terreno firme o bastante para lançar âncora.

O estado de precariedade, transforma todo o futuro em incerto e assim proíbe qualquer antecipação racional- e em particular não permite aquele mínimo de esperança no futuro que é necessário para se rebelar, ainda mais para se rebelar coletivamente.
Temos boas razões para suspeitar que a reconciliação e a coexistência pacífica completa e livre de conflitos entre a liberdade e a segurança é um objetivo inalcançável.
Mas existem razões igualmente fortes para supor que o principal perigo, tanto para a liberdade como para a segurança, está em abandonar a busca por tal coexistência ou em diminuir a energia com que tal busca é conduzida.
Fonte: Zygmunt Bauman em A Sociedade individualizada
Ficamos assim no eterno conflito: se lutamos pela liberdade temos como resultado a perda da segurança; se optamos pela segurança precisamos abrir mão da nossa liberdade.Tensão que segundo Freud tende a se internalizar e depois a confrontar o indivíduo "por dentro"-na forma da luta entre o superego e o id levada a cabo no campo de batalha do "ego".
Você sabe dizer se dá para escolher?





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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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