segunda-feira, 27 de abril de 2009


SERTÃO DA ALMA
Convidada por um amigo a conhecer o sertão de Carlinhos Brown e Marisa Monte- Segue o Seco, mais do que depressa tomei minhas precauções; do lado direito do peito tenho Riobaldo que vai logo me explicando: “o sertão está em toda a parte” e do lado esquerdo , Bernardo Soares,o instigante guardador de livros que me sussurra:“a paisagem é um estado da alma”.
Corajosa ou medrosamente ouso contrariar o grande mestre Guimarães Rosa que já alertava :“o deserto é uma experiência avessa à convivência”.
Mas iniciemos a travessia...


A boiada seca
Na enxurrada seca
A trovoada seca
Na enxada seca
Segue o seco sem sacar que o caminho é seco
Sem sacar que o espinho é seco
Sem sacar que seco é o Ser Sol
Sem sacar que algum espinho seco secará
E a água que sacar será um tiro seco
E secará o seu destino secará
Ô chuva, vem me dizer
Se posso ir lá em cima prá derramar você
Ô chuva, preste atenção
Se o povo lá de cima vive na solidão
Se acabar não acostumando
Se acabar parado calado
Se acabar baixinho chorando
Se acabar meio abandonado
Pode ser lágrimas de São Pedro
Ou talvez um grande amor chorando
Pode ser o desabotoado céu
Pode ser coco derramando

Ufa! A experiência do sertão é a experiência de um NÃO, de uma negação à continuidade da vida. É a carência de tudo que é básico .
O sertão está na terra, na natureza, na vida, nos sentimentos, está em toda a parte.” O sertão está no mundo”.O sertão está dentro do homem. O sertão está dentro de mim e de você.
E estamos cada vez mais nos embrenhando no grande sertão! Vidas povoadas de vazios e de medo.Veredas ambíguas que mais confundem do que clareiam os caminhos.
Instaura-se a insegurança na ausência da força de uma ação e de uma fé firme, e o NÃO é cada vez mais seco.
É a vida vibrando na frequência mais baixa, frequência da escassez de sentimentos, sem sacar que a falta de carinho, de amor, de encontro, seca o caminho e esteriliza o destino.É o sertão avesso à convivência,é a vida seca e sem mistério.
Parados,calados ou chorando baixinho, seremos sertanejos de emoções seguindo o seco.
Coração não pulsa, as cores desbotam , tudo se arrasta perdendo o viço.A alma se esvai e fica só a boiada seca.
O sertão da alma? É esse que Rosa nos diz: “No sertão, o homem é o eu que ainda não encontrou um tu; por ali os anjos e o diabo ainda manuseiam a língua”.
Mas ainda há tempo, chama-nos o mestre. “Perto de muita água, tudo é feliz”.
A chuva é a água que se doa, aquela que renova a vida; a esperança dos sertanejos que ficam à espera dela, pois através dela, haverá o que comer.
A chuva, é o amor -lugar transformador, a terra pródiga que deve ser desbravada em nossos sertões particulares diáriamente, incessantemente e incansávelmente .






Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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