quarta-feira, 27 de abril de 2016



Instante de amor

 

(Ao meu neto,  João Vicente)

 

Mas os gestos úteis não devem ocultar os gestos agradáveis.

Gaston Bachelard

 

Como traduzir um instante de amor?

Como explicar um gesto que abraça e integra todo o seu ser, que é capaz de unir o Céu e a Terra, o corpo e a alma, em questão de segundos?

E para que interpretar, explicar ou traduzir a comunhão de um instante?

Por que não sentir, somente?

Não é suficiente o sentimento capturado e vivido com a máxima intensidade?

Respondo que Não! Concordo com Hannah Arendt, filósofa alemã, quando afirma: “Humanizamos o que ocorre no mundo e em nós mesmos apenas ao falar disso, e no curso da fala aprendemos a ser humanos”.

Narrar esse instante de amor é prolongá-lo, é voltar a sentir, é eternizá-lo...

A memória deste gesto – sua mãozinha procurando pela minha- reafirma a certeza de que um amor maior está sendo construído. O calor e a carícia resultante do encontro de nossas mãos,  criaram uma intimidade profunda e fecunda que atravessou todos os poros, uniu gerações e confirmou o sentido da minha vida.

Mãos que se transformaram em ninhos de alegria, de confiança e de esperança.

É o impalpável sentimento brotando do palpável roçar das palmas de nossas mãos que velará meus sonhos e despertará as raízes de minha vida.

 

quinta-feira, 14 de abril de 2016




“Te quero verde...”

 

Na esperança, a alma ultrapassa a realidade.

Hanna Arendt

 

Sabe o anzol? O peixe vai direto e abocanha-o; essa é a sua má sorte!

Assim, podemos pensar em palavras como anzol, que nos fisga, às vezes, negativa e, às vezes, positivamente.

Entretanto, vou falar de palavras que “fisgam” nossas vísceras que de tão profundas e deliciosas, se tornam alimentos para os nossos pensamentos.

Frequentemente, fico cativa de frases, expressões ou palavras que considero belíssimas, como, por exemplo: açucena, jasmim, fascinação, azul...

Ou como agora! Acabo de ser fisgada por uma expressão de Hanna Arendt, filósofa alemã.

“Quando a esperança era verde”!

A esperança é aquele guindaste de metal que nos puxa para cima e nos joga para um futuro auspicioso. Quando a perdemos, a vida torna-se uma agonia-sentimento terrível que tem origem na consciência da não temporalidade, ou melhor, a pessoa é atravessada por um sofrimento tão grande que parece não ter fim. È a captura da pessoa pelo desespero.

A esperança é a luz no fim do túnel; é a certeza de que uma situação desfavorável acabará e que tudo dará certo: é a crença num futuro diferente.

Como o arco-íris a esperança pode apresentar-se com várias nuances e cores: mais forte, não tão forte, bem fraquinha...

Mas, a esperança verde... refere-se àquela certeza de que o mal findará, de que a tempestade está diminuindo e que o sol com seus raios de luz trará  um novo amanhecer.

Essa convicção nos dará força, foco e energia para ir em frente e, os arredores adquirem uma tessitura diferente- ficam mais viçosos.

Em assim sendo, por que não desejar, ardentemente, um amor vermelho na soleira de nossas portas, um azul anil entrando pelas janelas anunciando dias melhores e brotos e mais brotos de esperanças verdes sendo plantadas por braços humanos?

Neste fim de ano , que venham cestas de esperanças verdes adubando nossos corações e que, desse terreno fértil, a fé, que anda tão fraquinha no mundo, possa florescer em abundância.

Artigo publicado no jornal O COMBATE em dezembro de 2015
autoria: Eliete T. Cascaldi Sobreiro
imagem : da internet

 

 

segunda-feira, 4 de abril de 2016




Viagem
 
Vim me esticar, relaxar e fugir da indecisão entre ter de ser e ter de fazer.
Vim circular, respirar, soltar as asas, escutar o silêncio e viver intensamente cada segundo.
Vim contemplar a noite a qual seduz a luz do dia, a relva ser acariciada pelo vento e os pássaros saírem em revoada.
Entro em pausa...
Respiro o lento correr do tempo, escancaro minhas portas e janelas para tragar o cheiro do jasmim, ouço o trepidar do fogo na lareira e o assovio do vento; tudo embala meu coração!
Vida sentida, refletida e renovada vai brotando, lentamente, tal como uma flor que se abre ao nascer do sol.
Há dias em que estou aqui seguindo o movimento da natureza, aprendendo a delicadeza e a força da vida que se manifesta em cada árvore, em cada bichinho que tem como única preocupação o ser.
Há dias em que converso com Deus, com o meu companheiro de vida, com o sol, com as estrelas e escuto a poesia concreta das montanhas...
Agora a chuva bate no telhado e eu a recebo alegremente. Exponho-me totalmente; quero que ela me lave e purifique. Sinto que dissipei minhas nuvens negras e densas; a saudade me diz que é hora de voltar.
Outra estação está chegando, o tempo de aflição e cansaço se foram.
Vim, agora voo, sou ave migratória...

Jornal O Combate/ 25/03/2016

Apontadora de Idéias

Minha foto
São Paulo, Brazil
"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

Arquivo do blog