sexta-feira, 30 de julho de 2010

LUXO
O luxo continua sendo uma raridade. O que é raro?
Primeiro o TEMPO.


Segundo, a AUTONOMIA

terceiro, o SILÊNCIO.

Quarto, a BELEZA

quinto, o ESPAÇO


São esses os cinco elementos de luxo para Domenico de Masi.

Para o psicanalista e médico psiquiátrico Jorge Forbes,o luxo está ligado ao amor e à recusa do amor que passa. No amor há o desejo da eternidade. A eternidade com aquilo que não muda, com o Real de que nos falou lacan, gerador de um presente tão intenso que se torna inesquecível.
fonte:Você quer o que deseja? Jorge Forbes

quarta-feira, 28 de julho de 2010


NO MUNDO HÁ MUITAS ARMADILHAS

No mundo há muitas armadilhas e o que é armadilha pode ser refúgio e o que é refúgio pode ser armadilha.
Tua janela por exemplo aberta para o céu e uma estrela a te dizer que o homem é nada ou a manhã espumando na praia a bater antes de Cabral, antes de Tróia (há quatro séculos
Tomás Bequimão tomou a cidade, criou uma milícia popular e depois foi traído, preso, enforcado).
No mundo há muitas armadilhas e muitas bocas a te dizer que a vida é pouca que a vida é louca .
E por que não a Bomba? te perguntam.
Por que não a Bomba para acabar com tudo, já que a vida é louca?
Contudo, olhas o teu filho, o bichinho que não sabe que afoito se entranha à vida e quer a vida e busca o sol, a bola, fascinado vê o avião e indaga e indaga.


A vida é pouca a vida é louca mas não há senão ela.
E não te mataste, essa é a verdade.
Estás preso à vida como numa jaula.
Estamos todos presos nesta jaula que Gagárin foi o primeiro a ver de fora e nos dizer: é azul.

E já o sabíamos, tanto que não te mataste e não vais te matar e aguentarás até o fim.
O certo é que nesta jaula há os que têm e os que não têm há os que têm tanto que sozinhos poderiam alimentar a cidade e os que não têm nem para o almoço de hoje .
A estrela mente o mar sofisma.
De fato, o homem está preso à vida e precisa viver ; o homem tem fome e precisa comer o homem tem filhos e precisa criá-los.
Há muitas armadilhas no mundo e é preciso quebrá-las.
Ferreira Gullar

segunda-feira, 26 de julho de 2010


Um velho no momento da morte revela a seus filhos a existência de um tesouro enterrado em seus vinhedos. Os filhos cavam, mas não descobrem qualquer vestígio do tesouro. Com a chegada do outono, as vinhas produzem mais que qualquer outra na região. Só então compreenderam que o pai lhes havia transmitido uma certa experiência: a felicidade não está no ouro, mas no trabalho.

sábado, 24 de julho de 2010


DORMIR PARA SONHAR!
Walt Disney
E assim, depois de muito esperar,
num dia como outro qualquer, decidi triunfar...
Decidi não esperar as oportunidades e sim, eu mesmo buscá-las.
Decidi ver cada problema como uma oportunidade de encontrar uma solução.
Decidi ver cada deserto como uma possibilidade de encontrar um oásis.





Decidi ver cada noite como um mistério a resolver.















Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz.








Naquele dia descobri que meu único rival não era mais que minhas próprias limitações e que enfrentá-las era a única e melhor forma de as superar.






Naquele dia, descobri que eu não era o melhor e que talvez eu nunca tenha sido.

Deixei de me importar com quem ganha ou perde, agora, importa-me simplesmente saber melhor o que fazer.








Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima, e sim deixar de subir.




Aprendi que o melhor triunfo que posso ter, é ter o direito de chamar a alguém de 'Amigo'.


Descobri que o amor é mais que um simples estado de enamoramento, 'o amor é uma filosofia de vida'.
Naquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados e passei a ser a minha própria tênue luz deste presente.



Aprendi que de nada serve ser luz se não vai iluminar o caminho dos demais.
Naquele dia, decidi trocar tantas coisas...

Naquele dia, aprendi que os sonhos são somente para fazer-se realidade.


E desde aquele dia já não durmo para descansar...




Agora simplesmente durmo para sonhar

sexta-feira, 23 de julho de 2010


Ninguém coça as costas da cadeira

Ninguém chupa a manga da camisa

O piano jamais abana a cauda

Tem asa, porém não voa, a xícara

De que serve o pé da mesa se não anda?

E a boca da calça se não fala nunca?

Nem sempre o botão está na sua casa

O dente de alho não morde coisa alguma.

Ah! se tratassem os cavalos do motor...

Ah! se fosse até o circo o macaco do carro....

Então a menina dos olhos comeria

Até o bolo esportivo e bala de revóver.

José Paulo Paes

quarta-feira, 21 de julho de 2010

“Aos que vierem depois de nós”
“Realmente, vivemos muito sombrios!
A inocência é loucura.Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade.Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.
Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranquilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigosque precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: “Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!”

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
e o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo.Mas
evitar a violência,retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria
.E eu não posso fazê-lo.
Realmente,vivemos tempos sombrios.

Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.
No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam,sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.
As forças eram escassas.E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,

ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais frequentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência.
(Bertolt Brecht, na tradução de Manuel Bandeira)

terça-feira, 20 de julho de 2010

UM CANTEIRO
Quem sabe um dia um milagre me leve a me tornar íntima das plantas. E me dê um fim de vida com a pá no bolso, de olho nas folhas secas e ervas daninhas. As mãos calejadas sujas de terra, a roupa surrada e macia, o rosto enrugado entretido pelo prazer. E a corcunda a olhar para baixo em busca do que cresce, contemplando o passado-futuro. Terra, terra e Terra. Finalmente amiga da vida. E, como aquela minha querida, uma morte plena e repente pra virar um bom adubo.
Amém.
Publicado por Pequena em 27 de maio de 2010
http://amoreponto.blogspot.com/

segunda-feira, 19 de julho de 2010


Festa no outro apartamento

Anos atrás a cantora Marina compôs com o irmão dela, o poeta Antônio Cícero, uma música que dizia: "eu espero/acontecimentos/só que quando anoitece/é festa no outro apartamento". Passei minha adolescência inteira com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar, porém eu não havia sido convidada.Até aí, nada de novo. Não há um único ser humano que já não tenha se sentido deslocado e impedido de ser feliz como os outros são - ou aparentam ser. O problema está em como a gente reage a isso. A grande maioria que espera "acontecimentos" fica ligada demais na festa do vizinho, se perguntando: como fazer para ser percebido? A resposta deveria ser: percebendo-se a si mesmo. Mas é o contrário que acontece: a gente passa a se vestir como todo mundo, falar como todo mundo, pensar como todo mundo. Só então consegue passe livre: ok, agora você é um dos nossos, a casa é sua.As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação tão infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias de jornal. As pessoas alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim.É preciso amadurecer para descobrir que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. Só que os motivos pra se refugiar no escuro não costumam ser revelados. Pra consumo externo, todos são belos, lúcidos, íntegros, perfeitos. "Nunca conheci quem tivesse levado porrada/todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo". Fernando Pessoa sacando que nada é o que parece ser.Sua solidão, sua busca por paz interior, seus poucos e leais amigos, seus livros, suas músicas, fantasias, de desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na sua biografia, e pode ser mais divertido que uma balada em algum lugar distante. Pegar carona na alegria dos outros é preguiça, e quase sempre é furada. Quer festa? Promova-a dentro do seu apartamento.
Martha Medeiros

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A modernidade é o que é - uma obsessiva marcha adiante -, não porque queira sempre mais, mas porque nunca consegue o bastante; não porque se torna mais ambiciosa e aventureira, mas porque as suas aventuras são mais amargas e as suas ambições frustradas. (...) Estabelecer uma tarefa impossível não significa amar o futuro mas desvalorizar o presente. O presente está sempre "a querer", o que o torna feio, abominável e insuportável."
"Modernidade e Ambivalência" de Zygmunt Bauman.

Os tempos modernos não começam de uma vez por todas.
Meu avô já vivia numa época nova.
Meu neto talvez ainda viva na antiga.
A carne nova come-se com velhos garfos.
Época nova não a fizeram os automóveis
Nem os tanques
Nem os aviões sobre os telhados
Nem os bombardeiros.
As novas antenas continuaram a difundir as velhas asneiras.
A sabedoria continuou a passar de boca em boca.
Tempos Modernos"Bertolt Brecht

terça-feira, 13 de julho de 2010


O Bêbado e o Equilibrista
Começa assim...
De repente um nó na garganta e um pequeno desassossego.
A sensação é que o tênue fio que o segura, o fio condutor, o fio mestre, aquele que lhe dá a razão de existir, está prestes a romper.
Sorrateiramente, uma voz começa a lhe questionar: Para quê tudo isso, aonde vai te levar?
Aumenta o atordoamento. Um ligeiro desequilíbrio e o cansaço de tudo. As cores da vida desbotam, e os olhos não querem mais abrir.
Agora, não mais uma voz, e sim uma nuvem espessa cresce paulatinamente encobrindo todas as coisas, toda a alegria. O fio condutor, por uns momentos, parece fugir de seus pés, e perto da exaustão sai de suas entranhas um grito rouco: “ Pare, isso vai levar-lhe para dentro do buraco!” .
“Hoje é domingo, pé de cachimbo,
o cachimbo é de ouro, bate no touro
o touro é fraco, cai no buraco,
o buraco é fundo, acabou-se o mundo”.
Movimento estranho, um redemoinho vai carregando tudo para o buraco sem fundo.
A estranha força, o fio condutor que assegura a tranquilidade e a beleza da vida, por pouco não rompe.
Às vezes , essa sensação dura dias ou meses e, às vezes, vai embora ligeiro, mas sempre deixa seus rastros de medo e perdição.
O grito rouco, o sopro enigmático disparou e mais uma vez salva esse equilibrista da vida.
Loucura, depressão, acídia, marasmo, que nome dar para isso?
Com certeza ”embriaguez do mundano”, síndrome ocasionada toda vez que nos vemos impossibilitados de tirar um pé do chão para trocar de passo, sem o contato com o Provedor da Vida-Deus.


participação de JULHO : Fabrica de Letras
Tema: DISPAROU

domingo, 11 de julho de 2010

MEMÓRIA AGRADECIDA
" A ressurreição de Jesus para a condição humana
alarga o espaço e a estreiteza da morte".

Pe. Dalton Barros de Almeida

"O tempo é feito para os ritos da relação e não da produção"

Pe. Dalton Barros de Almeida





"O cotidiano não deve significar mesmice .

Rotina em latim, significa "rodinha/ engrenagem necessária para a vida fluir.

Para que a vida não seja àspera nós criamos rodinhas.

O cotidiano deve ter Sentido, Valor e Prazer".

Pe. Dalton


fotos: Centro Pastoral Santa Fé/ São Paulo

sábado, 10 de julho de 2010


Sou mesmo um crítico triste; conheço melhor a tristeza do demônio do que a beleza do mundo
É COMUM se dizer, sobre o filósofo Kant (1724 – 1804), que duas coisas o encantavam: no universo, a lei da gravidade e, no mundo, a lei moral. Para mim, duas coisas me assombram: no universo, a solidão dos elementos e, no mundo, a misericórdia.
Não me refiro à falsa misericórdia, aquela que mais é uma alegria mesquinha que sentimos diante da miséria alheia e que é, na realidade, uma espécie de gozo infame a serviço dos recantos mais obscuros de nossa frágil alma.Perdão, mas hoje vou falar de cabala (a mística medieval judaica). Digo “perdão” porque, hoje em dia, ela está na moda.“Meu Deus, como amo a moda”, dizia a madame de Sévigné, em agonia. Deve-se evitar a moda. Infelizmente, “ensina-se” cabala por aí como se fora ela uma forma de escravizar Deus e o universo aos nossos desejos mesquinhos de sucesso.
Cara leitora mística, atenção: se alguém se disser “professor de Cabala”, cuidado! Antes de pagar as aulas, cheque se ele tem um profundo conhecimento de hebraico (não basta ser fluente na língua). Se não for o caso desista.Se quiser escravizar o universo aos seus mesquinhos desejos de sucesso, restrinja-se a alguma técnica energética barata.
Deve haver uns dez caras no mundo que entendem de cabala e nenhum deles mora na Vila Madalena ou atende via web.Um dos “galhos” da árvore da cabala é chamado “Hod”, que é traduzido por especialistas em história da cabala como “agradecimento”

.É nisso que penso quando lembro que respiro, que minha mulher e meus filhos respiram, que meus (poucos) amigos respiram e, às vezes, sorriem.Muitos teólogos sejam judeus, sejam muçulmanos ou sejam cristãos afirmam que a única teologia verdadeira é aquela que agradece. O leitor pergunta: “Mas este colunista deve ser bipolar. Como pode escrever hoje isto, se, nas semanas passadas, parecia habitado pelo demônio da crítica triste do mundo?”.Fácil responder essa. Não tenho diagnóstico de bipolaridade, mas quase sempre sou mesmo um crítico triste do mundo.
Conheço melhor a tristeza do demônio do que a beleza do mundo (acalme-se, leitor, uso a palavra “demônio” como metáfora) e, por isso, é que me sinto parte da humanidade.Os humores variam, como as águas de um mar que responde a fúria da fortuna. Pela tradição judaica, Davi é o especialista na maior virtude hebraica antiga: a humildade. Em seus belos Salmos, ele canta a beleza de Deus e Sua misericórdia que escorre do Céu.Muitos localizam esta misericórdia na mesma “árvore”, como sendo “Hesed” (as vezes também traduzida como “piedade”). Davi respira essa misericórdia, por isso ele é considerado o “preferido de Deus”.Comentários rabínicos ao primeiro livro da Torá, “Bereshit” (na tradição cristã, Gênesis), contam uma história interessante sobre a relação entre a Justiça, a Verdade e a Misericórdia na origem da Criação.
Faço aqui a minha versão preferida dessa tradição: para mim a Verdade de Deus é Sua misericórdia. Estava Deus prestes a criar o homem e a mulher quando foi assolado por dúvidas terríveis. Chamou então alguns de seus assessores, a Justiça (próxima à ideia de julgamento ou “Din”, outro atributo divino na cabala) e a Misericórdia.Pergunta Deus a eles se valeria a pena criar o homem e a mulher, levando-se em conta o que nós faríamos (o pecado). A Justiça se coloca contra a empreitada dizendo que nós não valemos o “investimento”.Somos mentirosos, infiéis e orgulhosos. Seu voto seria contra. Já a Misericórdia vota a nosso favor. Diz que, mesmo sendo como somos, daríamos grande alegria a Deus nos poucos momentos em que seriamos capazes de ver, em meio à impenetrabilidade assustadora do nosso orgulho, Sua beleza.Deus pensa e decide a nosso favor.Todavia, talvez como forma de castigar a Misericórdia, que O convenceu a nos criar, Ele a despedaça contra o chão e a dispersa pelo mundo.Assim sendo, ficamos submetidos, desde o alto, à desconfiança eterna da Justiça divina, ao mesmo tempo em que desesperados, arrastando pelo chão, buscamos os cacos da Misericórdia (ou da Verdade) que habita os recantos distantes do mundo e os detalhes infinitos da vida.Por isso, dirão os sábios, Deus está no detalhe. Felizes aqueles que conseguem ainda contemplar a delicadeza desses detalhes. Toda vez que vejo a Misericórdia no gesto de alguém, me calo.

Artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, 17/05/2010 LUIZ FELIPE PONDÉ

domingo, 4 de julho de 2010


PROMESSA DE VIDA

Tem trechos que a vida amolece a gente.
Guimarães Rosa


É senso comum entre nós, brasileiros, que o ano inicia, de fato, depois do carnaval, quando começamos a colocar em andamento os planos traçados.
Apesar das chuvas, que castigam anualmente muitas cidades, trazendo problemas tão graves para tantas famílias, não são destas águas e sim das águas de Tom Jobim que quero falar.
“....são as águas de março fechando o verão,
é a promessa de vida no teu coração”.
Águas que chegam para lavar e arrastar os percalços do caminho, anunciando novos sonhos, novos projetos de vida.
Somos cientes de que estamos vivendo momentos difíceis, tempo de transição, com crises irrompendo em todas as dimensões das nossas vidas e, como consequência, um atordoamento constante.
Há muito pau, pedra ,resto de toco, caco de vidro,estrepe, prego,lama no caminho.
Não é possível fecharmos os olhos e negar a realidade impiedosa em que vivemos: desemprego aumentando em todo o mundo, guerras, terrorismos, terremotos financeiros e geográficos, desagregação familiar e muito mais.
No entanto, a capacidade de sonhar, acreditando que é possível mudar essa situação, precisa correr muito forte em nossas veias, pois não podemos propagar o negativismo e desacreditar em nossas forças e no poder do nosso Criador. É preciso lutar com os sentimentos de impotência, apatia, temor e conformismo ( doenças da modernidade tardia) que acabam surgindo em todos nós.
Precisamos, frente ao mistério profundo que é a vida, seguir a marcha estradeira e crer que há sol, regato, fonte , peixe ,lenha, um pedaço de pão. Que as condições necessárias existem e estão ao nosso dispor, desde que façamos o projeto da casa juntos, com a firme convicção de que ela deve ser para todos.
Afinal há tijolos chegando. isto é, há recursos intelectuais e humanos sempre disponíveis , se utilizados com criatividade e alojados éticamente para o bem comum . Sempre haverá tijolos chegando, se nossas disposições para o belo, para o bem e para o certo forem orientadas pelos ensinamentos do grande arquiteto, Jesus Cristo.
Um belo horizonte e a “Terra Prometida” serão por todos vislumbrados se não levantarmos trincheiras com nossas atitudes , se não provocarmos exclusões e separações de qualquer ordem.
A promessa de vida em teu coração é o convite para voltar a sonhar, acreditar e lutar pelos ideais que estão sendo abortados e sufocados em nossas vidas.
Esta tarefa de” limpar o terreno” não é tarefa para indivíduos (aqueles que se fecham em si mesmos) e sim, para cidadãos( os que se abrem para o bem comum).
Quando, verdadeiramente, nos conscientizarmos de que o egoísmo, o individualismo, o consumismo, e todos os “ismos” são o carro enguiçado dos nossos tempos, então conseguiremos alcançar o fim da ladeira, o fim da canseira, a luz do amanhã.
Um mundo melhor é tarefa desafiadora ,pois exige que fiquemos lado a lado, João, José, Eu e Você.
Todos unidos nos mesmos ideais seremos as águas de março, fechando esses tempos difíceis e trazendo a esperança de um mundo melhor às próximas gerações.
Inspiração:
Águas de março: Tom Jobim (letra e música)
crônica escrita em março/2009 para a revista Ranking Social
autoria: Eliete T. Cascaldi Sobreiro

quinta-feira, 1 de julho de 2010


Certas coisas

Affonso Romano de Sant’Anna

Certas coisas não se podem deixar para depois.
Muitos poemas perdi pensando:
“depois escrevo”,“agora estou almoçando”
ou “consertando a porta”.
Assim, adiei-perdio melhor? de mim.
Certas coisas não se podem deixar para depois,
e nisto incluo: frutos no galho,mudanças sociais,
certas coxas e bocas e esta manhã que se esvai.
Certas coisas não se podem deixar para depois.
O amor não se adia como se adiam o imposto,
a viagem, a utopia.
O desejo sabe o que quer,detesta burocracia.
Feito depois, o amor é murcha lembrançado que,
não sendo, seria.
Certas coisas não se podem deixar para depois.
Como o amor e as pessoas,
não se pode recuperar- a poesia.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Não durmo para descansar...
simplesmente durmo para sonhar.

Walt Disney





"Não deixe que os seus medos
tomem o lugar dos seus sonhos"
Walt Disney

segunda-feira, 28 de junho de 2010

domingo, 27 de junho de 2010


A liberdade é realmente um jogo maior que o poder.

O poder diz respeito ao que você pode controlar.

A liberdade diz respeito ao que você pode desatar.

Harriet Rubin

quinta-feira, 24 de junho de 2010


MA-RA-VI-LHO-SO...
ESTOU AMANDO...
Em busca do Tempo Perdido (No caminho de Swann) ,Proust
"Muitos anos fazia que, de Combray, tudo quanto não fosse o teatro e o drama do meu deitar não mais existia para mim, quando, por um dia de inverno, ao voltar para casa, vendo minha mãe que eu tinha frio, ofereceu-me chá, coisa que era contra meus hábitos. A princípio recusei, mas, não sei por que, terminei aceitando. Ela mandou buscar um desses bolinhos pequenos e cheios chamados madalenas e que parecem moldados na valva estriada de uma concha de São Tiago. Em breve, maquinalmente, acabrunhado com aquele triste dia e a perspectiva de mais um dia tão sombrio como o primeiro, levei aos lábios uma colherada de chá onde deixara amolecer um pedaço de madalena.
Mas no mesmo instante em que aquele gole, de envolta com as migalhas do bolo, tocou meu paladar, estremeci, atento ao que se passava de extraordinário em mim. Invadira-me um prazer delicioso, isolado, sem noção de sua causa. Esse prazer logo me tornara indiferente às vicissitudes da vida, inofensivos seus desastres, ilusórios sua brevidade, tal como o faz o amor, enchendo-me de uma preciosa essência: ou, antes, essa essência não estava em mim, era eu mesmo. Cessava de me sentir medíocre, contingente, mortal. De onde me teria vindo aquela poderosa alegria? Senti que estava ligada ao gosto do chá e do bolo, mas que o ultrapassava infinitamente e não devia ser da mesma natureza.
De onde vinha? Que significava? Onde apreendê-la?
Bebo um segundo gole que me traz um pouco menos que o segundo.
É tempo de parar, parece que está diminuindo a virtude da bebida.
É claro que a verdade que procuro não está nela, mas em mim. A bebida a despertou, mas não a conhece, e só o que pode fazer é repetir indefinidamente, cada vez com menos força, esse mesmo testemunho que não sei interpretar e que quero tornar a solicitar-lhe daqui a um instante e encontrar intato a minha disposição, para um esclarecimento decisivo. Deponho a taça e volto-me para meu espírito.
É a ele que compete achar a verdade. Mas como? Grave incerteza, todas as vezes em que o espírito se sente ultrapassado por si mesmo, quando ele, o explorador, é ao mesmo tempo o país obscuro a explorar e onde todo o seu equipamento de nada lhe servirá.
Explorar? Não apenas explorar: criar.
Está diante de qualquer coisa que ainda não existe e a que só ele pode dar realidade e fazer entrar em sua luz.”

quarta-feira, 23 de junho de 2010


Tristeza, sim, tem fim
Músicas que ampliam a angústia do adeus nos lembram dos améns que dizemos para ficar junto de alguém.
QUANDO SOFREM pancadas que atingem o coração, as pessoas se perguntam por que, para corrigir os erros e se preparar para acertos.Mas o vazio que sentem é tão profundo que as paralisa.Provoca autopiedade, não autoanálise; depressão, não determinação. Ironicamente, um mergulho no desespero é um meio de se recuperar.Eu, quando estava de coração partido, ouvia baladas de Sinatra sobre a agonia do abandono: confirmavam e ampliavam o que eu já sentia.Se ele, em "I'm a Fool to Want You"(sou um tolo de te querer), podia implorar a alguém incapaz de amá-lo "Take me back!"(volte pra mim!), por que eu, mero mortal, não poderia ter a mesma fantasia? Deixava Sinatra me arrastar para o fino da fossa, onde podia exaurir minha dor e me erguer de novo.Ouvir música de autoajuda como "Amanhã é Outro Dia" me afundaria mais. Precisava me sentir como o personagem sem amor do livro "Tanto Tempo na Pior que o que Pintar é uma Boa".Quem se nega a fazer esse mergulho emocional tem medo de sentir. Alguns se protegem da dor do abandono depreciando-a. Comparam quem os deixou a bondes e dizem: outro logo vai passar.Outros fingem que o amor é indolor. Basta pensar em um recém-largado que tenta ser o mais animado da festa.Brasileiro também usa música de fossa para curar o coração, da desesperadora "Me Dê Motivo", de Tim Maia, à dilacerante "Atrás da Porta", na voz de Elis.Mas bossa nova melancólica também pode ser trilha de cena de amor ou animar baile. Casais mais velhos dançam agarradinhos ouvindo sucessos como "Tristeza Não Tem Fim" ou "Eu Sei que Vou te Amar", que evoca a dor de cada despedida.É o mesmo com a canção de Cole Porter, "Ev'ry Time We Say Goodbye", que sussurro para a minha mulher em momentos românticos.Essas músicas, ampliando a angústia do adeus, lembram-nos dos améns que dizemos por estarmos juntos."Futuros Amantes", de Chico Buarque, também investiga por que as músicas sobre amores que já se foram criam um clima romântico.Os vestígios do amor que a canção menciona (fragmentos de cartas, poemas, mentiras, retratos) vão contagiar quem quer que os descubra.A mensagem da música? O amor é uma força que se autorregenera. Como a fênix mitológica, pode morrer em um clarão, mas se levanta das cinzas e nasce mais uma vez.


MICHAEL KEPP, jornalista norte-americano radicado há 27 anos no Brasil, é autor do livro de crônicas "Sonhando com Sotaque- confissões e desabafos de um gringo brasileiro" (ed. Record).

segunda-feira, 21 de junho de 2010


Tenho comigo que chorar é nobre, expressão maior dos melhores sentimentos que habitam nosso interior.
Quando as lágrimas insistem em cair, quando os olhos ficam vermelhos e o nariz dá sinais de que fez seu esforço máximo para conter tal emoção, é a linguagem mais clara de que aquela pessoa está em contato com sua alma. As máscaras vão, como geleiras, despencando gradativamente.
É a pessoa em seu estado nu e cru; à flor da pele. Totalmente sem defesas, entregue, demasiadamente humana.
Talvez seja por sentir-se assim que, ao chorar, escondemos nossos rostos com as mãos; uma tentativa de proteger-nos frente a fragilidade que rompe : imperativa e retumbante.
Os olhos fecham-se, tentam comprimir-se com muita intensidade, mas os soluços saem do peito como vulcão. Nesses momentos, as lágrimas parecem gotas resignadas e caladas, que evadem envergonhadas daquela tempestade assustadora, procurando ,quem sabe, pelo mar...
Chorar é o melhor do nosso Ser; é como o dormir, onde todos são inocentes e puros.
É a alma que, com o seu soluço, tenta expressar a angústia perante o viver; é a confirmação da fragilidade ; é o entregar as armas.
Talvez, cobrir o rosto seja uma tentativa para que o outro não fique contagiado com essa aflição ou, quem sabe, porque desejamos viver nossa dor intimamente.
De qualquer forma, penso que não devemos dizer para uma pessoa não chorar, ou que pare com seu choro. Permita a expressão desse milagre ,e se quiser dizer alguma coisa, diga: chore quanto quiser ou precisar,e saiba que estarei aqui, bem perto de você.
Eliete Cascaldi Sobreiro


“Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne,e sangra todo dia.”
José Saramago (R.I.P.)

domingo, 20 de junho de 2010

Meu adeus a José Saramago
Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma.

Revista do Expresso, Portugal (entrevista), 11 de Outubro de 2008
Na categoria
Outros Cadernos de Saramago
José Saramago pelas lentes do fotógrafo SebastiãoSalgado


quinta-feira, 17 de junho de 2010

Nossa família está em festa...


Nossos corações celebram...

os 80 anos de nossa mãe: MARIA IGNEZ

faremos uma linda festa "SURPRESA"

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Mais surpresas na caminhada de domingo...
...há um pedacinho do campo
onde é sempre feriado...
Seu relincho estremece as raízes

e ele ensina aos ventos
a alegria de sentir livres seus movimentos.

trechos da poesia de Cecília Meireles :Cavalinho branco

DOMINGO: CLARICE LISPECTOR

Que perfume, é domingo de manhã. O terraço está varrido. Liga o rádio, então. Almoçar tarde dá pensamentos, ele ri e dá-lhes uma forma. Se bebe água,mas domingo ninguém tem sede. E começa a beber vinho sem a ânsia da sede. Às quatro horas da tarde hastearão a bandeira no pavilhão.(Mas do que ele tem mesmo medo é dessas noites felizes de domingo) .

Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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