sexta-feira, 5 de março de 2010



Necessitamos investir no universo psíquico interior, tão vasto quanto o exterior, da mesma forma como temos investido, nos últimos séculos, no mundo da matéria. Conquistar qualidade na ecologia do Ser é um passo prioritário para sua natural transpiração e extensão na ecologia social e ambiental. Onde lograr paz e harmonia se elas não habitarem o interior de nossas moradas?"
Roberto Crema

"Vanessa Redgrave, num filme que peguei pela metade e nem sei o nome, sai do banho e se olha no espelho. Assombro nos olhos que redescobrem sua própria velhice. "Eu me esqueço...", ela diz.A gente se esquece.... Recordei a cena numa conversa com uma amiga sobre nosso envelhecimento. Não falávamos disso, um ano atrás. É estranho pensar que há um relógio contando o tempo do qual nos distraímos.
Não posso dizer que o clima da conversa fosse a melancolia nem propriamente a tristeza -ou, ainda, a agonia da perda de um rosto jovem e de um corpo firme. Nem entramos naquele papo de que desejaríamos ter a sabedoria de agora com um corpinho de 20.Estávamos preocupadas com garantias para um bom futuro e uma boa velhice. Minha amiga quer mudar o ritmo do trabalho. Quer mais horas para o lazer, os amigos, o filho, os parentes, o papo pro ar. Dizia que o fôlego, que aos 40 anos tinha de sobra, começava a faltar.Acho que é verdade que o vigor vital diminui, mas o desejo por essas coisas às quais, quando nos tornamos adultos, nos entregamos com voracidade, acaba.
Mais dinheiro, reconhecimento, bens, status, poder...Isso tudo vai perdendo a graça.A vontade muda de rumo.Mas que a vontade refaça seu destino pode até ser bom. O que angustia é não saber se poderemos garantir nosso próprio sustento, numa época em que teremos menos força de trabalho e mais carências. Se haverá quem cuide de nós, se precisarmos. E que nos ame.Vinga na sociedade a ideia de que a velhice é um mal, um acidente e está sempre acompanhada de penúria e solidão.Nossos receios caminhavam por aí, até que minha amiga se deu conta de que não podia impingir à sua velhice uma indigência que ela não teria. Bem ou mal, tem casa, INSS e condições de comprar um imóvel para renda. E pode gastar menos sem ter que viver em privação!Essa constatação nos trouxe alívio, pois temos situação parecida.
De repente, nos pareceu que poderíamos ter algum controle sobre a velhice. Antecipá-la na imaginação era poder nos prover um bom viver.Preparar o cenário da própria velhice é muito diferente do que já fiz até agora. Aprontar uma profissão, uma casa, um pecúlio... Tudo tem o tom de mais vida, de pujança, de produção. Preparar a velhice é arrumar a proteção.Minha amiga tem razão quando diz que não podemos nos impor uma indigência que não teremos, mas, ainda assim, não podemos afastar de nós a fragilidade e a finitude.Entendi, agora, o que no filme "Feitiço da Lua" uma senhora, cujo marido a traíra com uma mulher mais jovem, quis dizer com isso: "Ele me trai porque tem medo da morte".Apaixonar-se é começar. E todo amor se quer eterno.
A paixão nos faz jovens, e a vida parece ficar mais longa e infinita. Por isso, a gente gosta mesmo é de preparar novos começos e se sente desajeitada em cuidar de fins."
Dulce Critelli/ Folha de São Paulo/Equilíbrio 11-02-2010

terça-feira, 2 de março de 2010

QUANDO O SILÊNCIO FALA MAIS ALTO
( este texto faz parte do tema proposto para o mês de Março pela Fábrica de Letras:O silêncio)

Palavras seduzem, palavras explicam.
Palavras deixam suas marcas para sempre em nossas almas. Podem ferir- nos , como podem levantar –nos .
Adoro entrar no reino das palavras e nele navegar.
Palavras inspiram, palavras expiram.
Palavras sopram seus aromas que ficam impregnados em nossos corações. Palavras azedam relações.
Mas, em certos momentos, mil palavras não dão conta do momento, e o melhor então é sem palavras. É quando o silêncio fala mais alto.
O silêncio fala mais alto quando vem acompanhado de um abraço forte que aninha nosso coração em outro coração.
O silêncio fala mais alto quando as lágrimas e a dor se fazem intensas, e é preciso calar-se para escutar o lamento.
O silêncio fala mais alto quando vem acompanhado de um grande sorriso,
que abre todas as formas de entendimento e aceitação.
Frente à imensidão do universo e a todas as imensidões de sentimentos e experiências, o silêncio fala mais alto.
Palavras são lindas, palavras são doces, palavras são tantas e tão poucas para expressar os desejos da alma.
Alma que quer revelar -se, rebelar –se , ser entendida .
O silêncio fala mais alto e machuca, quando esperamos uma palavra de conforto e de incentivo e nada vem do outro.
O silêncio fala mais alto e machuca quando vem acompanhado de um olhar de reprova ou de curiosidade.
O silêncio é bem-vindo em momentos intensos, decisivos; só ele pode acalmar e afugentar o medo que nesses momentos as palavras trazem.
O silêncio é precioso quando precisamos entrar em nosso interior e ali ficar para conhecer -nos.
Há momentos em que é preciso silenciar e há momentos em que é preciso falar: o que não dá, é não compartilhar. Quiçá nunca venhamos a culpa–nos pelas palavras não ditas e pelos silêncios não feitos.

Acreditem...Este blog está completando 200 postagens...

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)
Ponto de vista. VEJA, Rio de Janeiro, 29 de setembro 2004
Na semana passada comemorei trinta anos de casamento. Recebemos dezenas de congratulações de nossos amigos, alguns com o seguinte adendo assustador: "Coisa rara hoje em dia". De fato, 40% de meus amigos de infância já se separaram, e o filme ainda nem terminou. Pelo jeito, estamos nos esquecendo da essência do contrato de casamento, que é a promessa de amar o outro para sempre. Muitos casais no altar acreditam que estão prometendo amar um ao outro enquanto o casamento durar. Mas isso não é um contrato.

Recentemente, vi um filme em que o mocinho terminava o namoro dizendo "vou sempre amar você", como se fosse um prêmio de consolação. Banalizamos a frase mais importante do casamento. Hoje, promete-se amar o cônjuge até o dia em que alguém mais interessante apareça. "Eu amarei você para sempre" deixou de ser uma promessa social e passou a ser simplesmente uma frase dita para enganar o outro.
Contratos, inclusive os de casamento, são realizados justamente porque o futuro é incerto e imprevisível. Antigamente, os casamentos eram feitos aos 20 anos de idade, depois de uns três anos de namoro. A chance de você encontrar sua alma gêmea nesse curto período de pesquisa era de somente 10%, enquanto 90% das mulheres e homens de sua vida você iria conhecer provavelmente já depois de casado. Estatisticamente, o homem ou a mulher "ideal" para você aparecerá somente, de fato, depois do casamento, não antes.

Isso significa que provavelmente seu "verdadeiro amor" estará no grupo que você ainda não conhece, e não no grupinho de cerca de noventa amigos da adolescência, do qual saiu seu par. E aí, o que fazer? Pedir divórcio, separar-se também dos filhos, só porque deu azar? O contrato de casamento foi feito para resolver justamente esse problema. Nunca temos na vida todas as informações necessárias para tomar as decisões corretas.
As promessas e os contratos preenchem essa lacuna, preenchem essa incerteza, sem a qual ficaríamos todos paralisados à espera de mais informação. Quando você promete amar alguém para sempre, está prometendo o seguinte: "Eu sei que nós dois somos jovens e que vamos viver até os 80 anos de idade. Sei que fatalmente encontrarei dezenas de mulheres mais bonitas e mais inteligentes que você ao longo de minha vida e que você encontrará dezenas de homens mais bonitos e mais inteligentes que eu.

É justamente por isso que prometo amar você para sempre e abrir mão desde já dessas dezenas de oportunidades conjugais que surgirão em meu futuro. Não quero ficar morrendo de ciúme cada vez que você conversar com um homem sensual nem ficar preocupado com o futuro de nosso relacionamento. Nem você vai querer ficar preocupada cada vez que eu conversar com uma mulher provocante. Prometo amar você para sempre, para que possamos nos casar e viver em harmonia". Homens e mulheres que conheceram alguém "melhor" e acham agora que cometeram enorme erro quando se casaram com o atual cônjuge esqueceram a premissa básica e o espírito do contrato de casamento.
O objetivo do casamento não é escolher o melhor par possível mundo afora, mas construir o melhor relacionamento possível com quem você prometeu amar para sempre. Um dia vocês terão filhos e ao colocá-los na cama dirão a mesma frase: que irão amá-los para sempre. Não conheço pais que pensam em trocar os filhos pelos filhos mais comportados do vizinho. Não conheço filho que aceite, de início, a separação dos pais e, quando estes se separam, não sonhe com a reconciliação da família. Nem conheço filho que queira trocar os pais por outros "melhores". Eles aprendem a conviver com os pais que têm.
Casamento é o compromisso de aprender a resolver as brigas e as rusgas do dia-a-dia de forma construtiva, o que muitos casais não aprendem, e alguns nem tentam aprender. Obviamente, se sua esposa se transformou numa megera ou seu marido num monstro, ou se fizeram propaganda enganosa, a situação muda, e num próximo artigo falarei sobre esse assunto. Para aqueles que querem ter vantagem em tudo na vida, talvez a saída seja postergar o casamento até os 80 anos. Aí, você terá certeza de tudo.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010



BENDITAS

Benditas coisas que eu não se

Os lugares onde não fui

Os gostos que não provei

Meus verdes ainda não maduros

Os espaços que ainda procuro

Os amores que eu nunca encontrei

Benditas coisas que não sejam benditas

A vida é curta

Mas enquanto dura

Posso durante um minuto ou mais

Te beijar pra sempre

o amor não mente, não mente jamais

E desconhece do relógio o velho futuro

O tempo escorre num piscar de olhos

E dura muito além dos nossos sonhos mais puros

Bom é não saber o quanto a vida dura

Ou se estarei aqui na primavera futura

Posso brincar de eternidade agora

Sem culpa nenhuma

Zèlia Duncan
Adoro esta música, adoro esta letra. Adoro pensar que podemos brincar de eternidade agora, sem culpa nenhuma...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010


Os pés do silêncio.
Não me lembro mais os protagonistas desta história, nem quem a contou. Data doinício dos anos 60, quando começou o cerco americano a Cuba. Embora de personalidades diferentes, Che Guevara e Fidel Castro reinavam na cena política com grande e igual liderança. À curiosidade de uma professora que fora a Cuba para um congresso sobre como o povo sentia na prática a diferença entre eles, alguém lhe deu esta resposta: "Quando Guevara fala, nós sentamos para escutá-lo,e quando Fidel fala, nos levantamos para fazer o que ele quer".A primeira vez que contei essa história, uma pessoa concluiu: "Sempre achei mesmo que Fidel Castro era melhor". Fidel incitava à ação. Guevara, ao pensar.Esse comentário sempre me remete ao preconceito vigente na cultura ocidental, que opõe o pensar ao agir, e o desqualifica.Temos um fascínio pela atividade e pela atividade que fabrica resultados tangíveis. Por isso valorizamos tanto a ciência, uma modalidade de pensar que produz teorias, conceitos, instrumentos, remédios, aparelhos, coisas... Já a reflexão, por ser uma forma de pensamento que não produz nada palpável e porque sua atividade é invisível, não só é tida como fútil, mas, também, de certa forma se tornou incompreensível para nós.O pensamento da ciência não é invisível, porque consiste da aplicação de métodos objetivos, com regras de procedimentos, fórmulas de aplicação e análise, que devem ser comuns a todo cientista. O pensar científico é um agir. Já a reflexão,além de não gerar produtos tangíveis, não pode se pautar por regras de raciocínio comuns. Assim como Guevara, na história, ela nos faz parar para ouvir. Ela nos faz suspender nossas idéias e raciocínios corriqueiros, nos desprender deles, nos abrir para uma nova revelação.O que estamos aqui chamando de reflexão coincide com o que os orientais conhecem por meditação.Para os filósofos gregos, todo ato de pensar começa com o que chamavam de espanto. Um acontecimento em que nos sentimos surpreendidos pela revelação de algo, de seu ser. Esse espanto é o que na linguagem diária se diz cair a ficha ou ainda insight e intuição. Quando cai a ficha, ficamos emudecidos, paralisado sem nosso agir, mesmo que por frações de segundo. Ficamos desarmados, pois os raciocínios que fazíamos e as verdades anteriores já não servem mais. Ao mesmo tempo, sentimo-nos iluminados e abertos para essa nova compreensão. Não nos parece ter tido participação ativa em tal descoberta, mas atingidos pela forçade uma revelação. A nós, compete simplesmente deixar a coisa ser como ela é. Sem forçá-la a nada: a um princípio, crença, desejo, necessidade...Esse espanto é um lugar de silêncio. Só o silêncio possibilita o desvelamento do que quer se mostrar a nós. O silêncio é uma clareira, uma luz sob a qual pode se refletir aquilo que antes vivia nas trevas. O espanto, o silêncio, a luz se unem para refletir (daí a reflexão) o quê e como as coisas são. Só depois é que sentiremos a necessidade de sair do silêncio. De ir em busca de palavras para exprimir e comunicar nossa descoberta. Palavras que a guardem e a protejam do esquecimento.Como nossa cultura ocidental não valoriza a reflexão, mas a ação, como ela não autentica o recolhimento, mas a atividade produtiva, é sempre muito difícil entender o que é parar de raciocinar para refletir. É difícil tanto entender o que é esse silêncio, quanto silenciar. Não temos, como os orientais, um ritual culturalmente desenvolvido para nos levar ao silêncio, como a meditação. Temos que nadar contra a maré.Mas o primeiro passo pode ser dado. Trata-se de desmistificar a crença de que só o pensamento produtivo vale alguma coisa. Trata-se de acreditar, como Heidegger,que "...os grandes pensamentos sempre chegam com os pés do silêncio".

Dulce Critelli, professora de filosofia da PUC-SP, autora dos livros "Educação eDominação Cultural" e "Analítica do Sentido" e coordenadora do Existentia -Centro de Orientação e Estudos da Condição Humana.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Um lugar para chamar deMeu”.

É bom viajar, sair de casa e descobrir novos lugares e novas belezas.
Descansar a vida de seu cotidiano; revitalizar o olhar, acalmar a mente e oxigenar a alma.
É muito bom esmiuçar outro pedacinho deste vasto mundo e conhecer o jeito de viver de pessoas diferentes e tão iguais a nós.
É bom desarmar-se frente à imponência das montanhas que se mostram para nós pela primeira vez; ouvir o mar que se esparrama preguiçosamente pela praia, ser instigado por uma ruela que se insinua com suas sombras e luz, e palpitar o coração no centro de uma metrópole.
É muito bom observar pessoas indo e vindo, e imaginar suas histórias de vida, seu cotidiano, suas alegrias e medos.
Como é bom viajar pelas entranhas de nosso País ou de um país estrangeiro e experimentar suas comidas, conhecer a expressão cultural de seu povo, seus costumes, e tentar decifrar seus amores.
Mas nada se compara ao que sinto quando vejo uma igreja.
Não importa se é uma capela ou uma catedral, só sei que suas torres atingem de cheio meu coração .
É uma sensação de aconchego e proteção, pois simboliza a presença viva de Deus em nosso meio. Sei que ali naquela cidade, ou naquele povoado, há pessoas que acreditam e procuram viver a lei do amor.
Quando tenho a oportunidade de entrar nessas igrejas e conhecê--las por dentro, a felicidade é muito grande! Posso assimilar o silêncio pacífico de seu interior, orar, cantar e louvar a Deus com as mesmas músicas, com os mesmos rituais, com tudo aquilo que conheço e sei de cor. Alimento–me do que há de mais sublime, e a sensação de pertencimento e de continuidade produz-me uma grande paz. Sinto-me em casa e experimento o Eterno.
Posteriormente, ao sair para o“lá fora”, o diferente e transitório, vou renovada e apaziguada.
Inoculada pela chama da vida, passo a entender profundamente o escritor alemão Novalis, que assim se interroga: ”Então,a onde vamos? Sempre para casa”.
Texto: Eliete T. Cascaldi Sobreiro
Foto: Igrejas de Jaboticabal (Catedral Nossa Senhora do Carmo e Igreja Nossa Senhora Aparecida)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010


Pai Nosso

Pai... Mãe de olhos mansos.

Sei que estás invisível em todas as coisas.

Que o teu nome me seja doce, a alegria do meu mundo,

.Traze-nos as coisas boas em que tens prazer:o jardim, as fontes, as crianças, o pão e o vinho,os gestos ternos, as mãos desarmadas, os corpos abraçados..

.Sei que desejas dar-me o meu desejo mais fundo, desejo cujo nome esqueci...Mas tu não esqueces nunca.

Realiza, pois, o teu desejo para que eu possa rir.

Que o teu desejo se realize em nosso mundo,da mesma forma como ele pulsa em ti.

Concede-nos contentamento nas alegrias de hoje,o pão, a água, o sono...

Que sejamos livres da ansiedade.

Que nossos olhos sejam tão mansos para com os outros como os teus o são para conosco .

.Porque se formos ferozes não poderemos acolher a tua bondade.E ajuda-nos para que não sejamos enganados pelos desejos maus.

.E livra-nos daquele que carrega a morte dentro dos próprios olhos.

Amém.
Rubem Alves
pintura: Ronaldo Mendes dos Anjos

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010






"O ambiente é de suma importância, pois funciona como a arena na qual o indivíduo se debate pelo ajustamento.
Mas encarar o ambiente como causa não é correto, nem vantajoso.
O ambiente fornece o tabuleiro de xadrez, e mesmo a maior parte das peças com as quais se joga. Com o tabuleiro e as peças, não se pode, contudo, predizer como a partida será jogada". Rollo May


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010


Obra: Tarsila do Amaral


Pelo sonho é que vamos
Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos?
Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos?
Não chegamos?
- Partimos.
Vamos.
Somos.
http://www.azeitao.net/Sebastiao/museu.htm
Sebastião Artur Cardoso da Gama (Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal, 10 de Abril de 1924 - Lisboa, 7 de Fevereiro de 1952), foi um poeta e professor português, licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1947. Foi professor em Lisboa, (Escola Veiga Beirão, hoje, Fernão Lopes), Setúbal e Estremoz (Escola Industrial e Comercial).
Dentro de cada um de nós há um outro que não conhecemos. Ele fala conosco por meio dos sonhos."
(Carl Jung)




sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010


APRENDIZES DAS ESTRELAS
O caminho da vida humana geralmente é dividido em fases: infância, adolescência, maturidade e velhice.
Assim compreendido, pode dar-nos a impressão de que a vida consiste numa série de fases, perfeitamente distintas e independentes, que se movem em direção a um final- a morte.
Mas se apurarmos um pouco mais nossa percepção, vemos que cada vida é um deslizar gradual e imperceptível de condição para condição, assim como a transição do dia para a noite.
Mesmo acompanhando minuto por minuto, não somos capazes de determinar a hora exata que o dia termina e a noite começa.
Apesar disso, chega um momento em que está completamente escuro, e então sabemos que é noite, e aí é possível contrastá-la com o dia.
Assim acontece com as pessoas.
Chega um momento em que o indivíduo já adquiriu tantas características da maturidade que a juventude faz parte de suas lembranças;podemos então dizer que essa pessoa atingiu a maturidade.
E como deve ser vivido esse percurso?
Goethe dizia que “ Nós viajamos não apenas para chegar , mas para viver enquanto viajamos”.
Assim deve ser nossa postura diante da vida.
Olhar cada período de nosso viver como tendo seus encantamentos, evitando, assim, cair no senso comum de acreditar que a aurora é mais fértil que o entardecer.
São momentos diferentes, sim, mas cabe a cada um de nós descobrir e aceitar o propósito de cada momento. Entardecer em nossas vidas pode assim ser visto como uma etapa que não prenuncia a escuridão total cheia de medos, mas a beleza das estrelas.
Aprendizes das estrelas traz, metaforicamente, uma visão de como olhar e aprender com a velhice e os idosos: como estrelas que pontuam nossa existência e que , muitas vezes, nem olhamos.
Estrelas que tiveram sempre a função de orientar os seres humanos em suas viagens.
Que tem luz própria, indicando o percurso de uma vida, e que ,ao contemplá-
las , estamos também contemplando seu passado.
Velhos-estrelas: vê-los, ouvi-los, amá-los, deixar-nos envolver pela sua luz, pelo seu passado, pela sua biografia, pelo seu presente, só nos enriquece, pois indica-nos a direção que devemos tomar e... o que não devemos repetir.
Texto publicado no âmbito do desafio Velhice para Fábrica de Letras









terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Contardo Calligaris
Volta com pôr do sol . A viagem seduz os viajantes, mas seu desejo é nostalgia do que eles deixaram atrás .
No sábado passado, no aeroporto de Chicago, esperava o voo que me levaria de volta a São Paulo. Diante de mim, uma longa parede de vidro mostrava, além dos aviões estacionados, um pôr do sol glorioso e dilacerante. Por alguma sabedoria (consciente ou não), meus companheiros de espera estavam quase todos sentados de costas para a janela. Alguns poucos, pela posição de seus assentos, teriam condição de contemplar o pôr do sol, mas não levantavam os olhos de seu notebook.
Oscar Wilde afirmava que o pôr do sol só passou a existir com as pinturas de William Turner, no começo do século 19; era um jeito de dizer que a natureza está lá desde sempre, mas é a arte que nos ensina a enxergá-la. Concordo. E há outras razões pelas quais o pôr do sol é uma experiência especificamente moderna. Nos últimos 300 anos, atribuímos mais importância à existência individual de cada um do que à vida de grupos, tribos e nações, ou seja, salvo momentos vacilantes de fé em ressurreição ou reencarnação, nossa morte nos parece acabar com tudo o que importa.
Somos, portanto, especialmente sensíveis ao fim do dia, cujo espetáculo acarreta consigo a lembrança dolorosa do fim de nossa jornada, que se aproxima. A psicopatologia reconhece, aliás, a existência, em alguns indivíduos, de variações sazonais do humor: depressão no outono e no começo do inverno e, às vezes, exaltação maníaca na primavera. Pode ser que a alternância das estações, sobretudo onde elas são mais marcadas, longe do Equador e dos trópicos, produza mudanças no metabolismo. Mas pode ser, simplesmente, que a alternância das estações lembre o ciclo de nossa vida, e o outono seja o equivalente anual do fim da tarde de cada dia.
No caso do pôr do sol de sábado, em Chicago, visto da sala de espera de um aeroporto, era como se a iminência da viagem tornasse a experiência mais triste. Por quê? Há um quadro de Jean-François Millet, que todo mundo conhece, “O Ângelus“, pintado em 1859.
Nele, um casal de camponeses, no meio da lavoura, ouve os sinos do ângelus vespertino (à distância, vê-se o campanário de uma igreja). Os sinos dizem que é a hora de rezar e que o dia acabou. Deveria emanar do quadro uma sensação intensa de paz: seu ofício cumprido, o casal logo voltará para o calor pobre, mas digno, de seu lar. Mas esse retrato de uma vida simples e reta sempre foi, para mim (e não só para mim), estranhamente aflitivo. Acontece que o ângelus vespertino é um toque de paz só para quem tem uma casa para a qual voltar. Para os outros, é o sinal melancólico de uma perda sem remédio. Tudo bem, viajei muito. Várias vezes, ao longo da vida, mudei de língua e país, mas o que importa aqui não são os acidentes de minha história.
A modernidade se define pela viagem, pela decisão de não aceitar que o lugar onde nascemos seja nosso destino -por exemplo, pela vontade de deixar o campo e ir para a cidade. É assim desde o século 13 ou 14, quando a gente começou mesmo a circular -primeiro pela Europa, depois pelos mares e por terras incógnitas e agora pelos céus e mundo afora. Na “Divina Commedia” (que é uma enciclopédia da modernidade incipiente), Dante descreve assim o fim da tarde (minha tradução em prosa de “Purgatório, 8, 1-6″): “Já era a hora em que o desejo volta aos navegantes, e seu coração é enternecido pela lembrança do dia em que disseram adeus a seus doces amigos; é também a hora que fere de amor o novo viajante, se ele ouve de longe um sino que parece chorar o dia que está morrendo.” Pelo gênio de Dante, o desejo dos navegantes não é, como se esperaria, o anseio de novas terras no horizonte de sua viagem. Claro, a viagem os seduz, mas seu desejo é nostalgia do que eles deixaram atrás, do que perderam por se tornarem viajantes. E perderam o quê? Sobre que perdas se funda a subjetividade moderna -a nossa, livre e andarilha? Este é o custo básico da liberdade e da autonomia que prezamos acima de tudo: a gente renuncia, antes de mais nada, ao calor do lar – aquele lar que nos esperaria ao fim de cada dia, se tivéssemos ficado no campo, com os camponeses de Millet. Alguém dirá: que drama é esse? Perde-se a casa dos pais, mas a gente faz outra. Não tem um ditado que diz: “Quem casa quer casa?”. Tem, sim, e, justamente, uma razão pela qual casar-se é tão complicado, é que a gente casa porque quer não “uma” casa, mas “aquela” casa, a que a gente perdeu e nunca vai reencontrar. Enfim, tudo isso escrito enquanto, justamente, volto para casa.
Folha Equilíbrio/janeiro/2010





















sábado, 30 de janeiro de 2010

As cidades têm a tendência de esconder o mundo natural sob os seus artefatos.
Soterramos e encobrimos rios com avenidas, o asfalto dissimula a terra, os edifícios vedam o sol e as prováveis montanhas ao longe... Quando a construção das cidades toma conta de todo o ambiente, os artefatos artificializam o mundo.
A questão é que a natureza é um colo de mãe inesgotável.

Apenas ela é capaz de nos oferecer o sentimento de enraizamento necessário à vida.O artefato é a demonstração do poder do homem de refazer um mundo à sua imagem e semelhança. Todavia, pontes, casas, indústrias, computadores, móveis e automóveis, tudo se desgasta, quebra, é substituído.Todo artefato se desfaz. No meio de tal mutação, sentimo-nos também de passagem, sem vínculos e compromissos. Quase apátridas. Vivendo apenas em um mundo artificial, que camufla a natureza, ficamos esquecidos da perenidade desse solo original.Saber que o mundo já estava aí antes de nós e que permanecerá aí quando partirmos empresta à vida o sentimento de duração e de segurança.

Sem ele, a existência jamais consegue avançar nem se simplificar.Mas, na presença do mundo natural, lembramos que nascemos e morremos. E nos lembramos de nos perguntarmos: o que, de fato, queremos e precisamos, enquanto vivemos?
Dulce Critelli, terapeuta existencial e professora de filosofia da PUC-SP, é autora de "Educação e Dominação Cultural" e "Analítica de Sentido" e coordenadora do Existentia - Centro de Orientação e Estudos da Condição Humanadulcecritelli@existentia.com.brFonte: Folha de São Paulo, Caderno Equilíbrio
DICAS
Dois blogs que eu adoro e não passo um dia sem dar uma
olhadinha.Confiram, tenho certeza que vocês vão amar.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010




"Não podemos nos ater a sentimentos que nos abafam,
diminuem, fazem perder a noção de nossa própria capacidade"
Maria Lúcia P. Gregori

"O homem tem necessidade de conviver com a arte
para recompor seu senso de harmonia,
de proporção e de equilíbrio".
Victor Civita


Estes desenhos são da artista plástica Leila Pugnaloni, que reside atualmente em Curitiba,Paraná, Brasil.
Adorei a leveza de seus traços que incitam nossos olhos a bailar!
Vale a pena conferir seu trabalho.http://leilapugnaloniarte.blogspot.com/








terça-feira, 26 de janeiro de 2010




Aí vêm pelos caminhos,

Descalços, e pés no chão,

Os pobres que andam sozinhos,

Implorando compaixão.

Vivem sem cama e sem teto,

Na fome e na solidão:

Pedem um pouco de afeto,

Pedem um pouco de pão.

São tímidos?

São covardes?

Têm pejo?

Têm confusão?

Parai para os encontrardes,

E dai-lhes a vossa mão!

Guiai-lhes os tristes passos!

Dai-lhes, sem hesitação,

O apoio de vossos braços,

Metade de vosso pão!

Não receeis que, algum dia,

Vos assalte a ingratidão:

O prêmio está na alegria

Que tereis no coração.

Protegei os desgraçados

Órfãos de toda a afeição:

E sereis abençoados

Por um pedaço de pão...

Olavo Bilac

sábado, 23 de janeiro de 2010

O Amor em tempos de sobrecarga
Recentemente encontrei uma matéria muito interessante escrita por Sandra R. S. Baldessin ,no blog abaixo citado, sobre uma palestra proferida em Rio Claro , pelo psiquiatra Ivan Capellato, profissional do qual admiro muito e estou tomando a liberdade de transcrevê-la , com o objetivo de que estas ideias girem para todos que visitam este blog.
"Ivan Capellato psicanalista trouxe a definição do que seria esse “tempo de sobrecarga”, o momento que vivenciamos na contemporaneidade: tempos difíceis onde, em todas as áreas da vida em sociedade prevalecem o individualismo, a competitividade e a violência, dificultando o estabelecimento de vínculos afetivos e comprometendo o pleno desenvolvimento emocional de crianças e adolescentes.

Algumas das estatísticas predominantes nesse “tempo de sobrecarga”, apresentadas por Ivan, são muito alarmantes, como por exemplo, a informação da Organização Mundial de Saúde de que o Brasil é o segundo país do mundo no que se refere ao consumo de drogas pesadas e também em relação ao suicídio de crianças e jovens (só na região de Campinas foram 208 mortes entre janeiro e maio).

Para o psicanalista, essa questão do suicídio está intimamente ligada aos desequilíbrios afetivos.O único antídoto possível contra esse desequilíbrio é o amor que se traduz na “mesmice do cuidado” – expressão usada por Ivan, para quem, cuidar é a única forma de amor possível.
Nesse contexto, o amor-cuidado surge como a maior herança que os pais podem deixar aos filhos.

Não se trata de somente “investir” nos filhos, visando torná-los individualistas e competitivos, mas de estar presente e cuidando, de não ser indiferente à necessidade de apego e à angústia que deriva dessa necessidade e precisa ser satisfeita no vínculo afetivo que permite “estruturar uma identidade capaz de suportar a sobrecarga”.Essa espécie de amor-cuidado é ridicularizada nos tempos de sobrecarga. Os pais que cuidam, muitas vezes são acusados de não contribuírem com a autonomia, a independência dos filhos que, por sua vez, também se tornam alvo de piadinhas.
A verdade é que a insegurança dos tempos de sobrecarga e a falência da afetividade têm levado os adolescentes e os jovens à prática de um comportamento cada vez mais destrutivo, demonstrando que os vínculos humanos não podem ser substituídos por mercadorias, as quais, supostamente, supririam necessidades que só o amor pode suprir.

Ivan Capellato finalizou sua explanação afirmando que os tempos de sobrecarga configuram a “sociedade da descrença”: não se acredita mais na ética, nos valores, nos princípios de convivência e reciprocidade, inclusive no seio das famílias".

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Orfã na janela
Estou com saudades de Deus,
uma saudade tão funda que me seca.
Estou como palha e nada me conforta.
O amor hoje está tão pobre, tem gripe
meu hálito não está para salões.
Fico em casa esperando Deus,
cavacando a unha, fungando meu nariz choroso,
querendo um pôster dele, no meu quarto,
gostando igual antigamente
da palavra crepúsculo.
Que o mundo é desterro eu toda vida soube.
Quando o sol vai-se embora é pra casa de Deus que vai
pra casa onde está meu pai.
Adélia Prado em O coração disparado, ed. Record.
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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Adital -
palestra que Zilda Arns, médica e fundadora da Pastoral da Criança que morreu no terremoto no Haiti, preparou para apresentar no país. Segundo o filho Nelson Arns Neumann, Zilda fazia seu discurso quando as paredes da igreja em que estava desabaram.

Agradeço o honroso convite que me foi feito. Quero manifestar minha grande alegria por estar aqui com todos vocês em Porto Príncipe, Haiti, para participar da assembleia de religiosos.
Como irmã de dois franciscanos e de três irmãs da Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora, estou muito feliz entre todos vocês. Dou graças a Deus por este momento.
Na realidade, todos nós estamos aqui, neste encontro, porque sentimos dentro de nós um forte chamado para difundir ao mundo a boa notícia de Jesus. A boa notícia, transformada em ações concretas, é luz e esperança na conquista da Paz nas famílias e nas nações. A construção da paz começa no coração das pessoas e tem seu fundamento no amor, que tem suas raízes na gestação e na primeira infância, e se transforma em fraternidade e responsabilidade social.
A paz é uma conquista coletiva. Tem lugar quando encorajamos as pessoas, quando promovemos os valores culturais e éticos, as atitudes e práticas da busca do bem comum, que aprendemos com nosso mestre Jesus: "Eu vim para que todos tenham vida e a tenha em abundância" (Jo 10.10).

Espera-se que os agentes sociais continuem, além das referências éticas e morais de nossa Igreja, ser como ela, mestres em orientar as famílias e comunidades, especialmente na área da saúde, educação e direitos humanos. Deste modo, podemos formar a massa crítica das comunidades cristãs e de outras religiões, em favor da proteção da criança desde a concepção, e mais excepcionalmente até os seis anos, e do adolescente. Devemos nos esforçar para que nossos legisladores elaborem leis e os governos executem políticas públicas que incentivem a qualidade da educação integral das crianças e saúde, como prioridade absoluta.
O povo seguiu Jesus porque ele tinha palavras de esperança. Assim, nós somos chamados para anunciar as experiências positivas e os caminhos que levam as comunidades, famílias e pais a serem mais justos e fraternos.
Como discípulos e missionários, convidados a evangelizar, sabemos que força propulsora da transformação social está na prática do maior de todos os mandamentos da Lei de Deus: o amor, expressado na solidariedade fraterna, capaz de mover montanhas: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos" significa trabalhar pela inclusão social, fruto da Justiça; significa não ter preconceitos, aplicar nossos melhores talentos em favor da vida plena, prioritariamente daqueles que mais necessitam. Somar esforços para alcançar os objetivos, servir com humildade e misericórdia, sem perder a própria identidade. Todo esse caminho necessita de comunicação constante para iluminar, animar, fortalecer e democratizar nossa missão de fé e vida. Cremos que esta transformação social exige um investimento máximo de esforços para o desenvolvimento integral das crianças.

Este desenvolvimento começa quanto a criança se encontra ainda no ventre sagrado da sua mãe. As crianças, quando estão bem cuidadas, são sementes de paz e esperança. Não existe ser humano mais perfeito, mais justo, mais solidário e sem preconceitos que as crianças.
Não é por nada que disse Jesus: "... se vocês não ficarem iguais a estas crianças, não entrarão no Reino dos Céus" (MT 18,3). E "deixem que as crianças venham a mim, pois deles é o Reino dos Céus" (Lc 18, 16).
Hoje vou compartilhar com vocês uma verdadeira história de amor e inspiração divina, um sonho que se fez realidade. Como ocorreu com os discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35), "Jesus caminhava todo o tempo com eles. Ele foi reconhecido a partir do pão, símbolo da vida." Em outra passagem, quando o barco no Mar da Galileia estava prestes a afundar sob violentas ondas, ali estava Jesus com eles, para acalmar a tormenta. (Mc 4, 35-41).
Com alegria vou contar o que "eu vi e o que tenho testemunhado" ha mais de 26 anos desde a fundação da Pastoral da Criança, em setembro de 1983.

Aquilo que era uma semente, que começou na cidade de Florestópolis, Estado do Paraná, no Brasil, se converteu no Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, presente em 42 mil comunidades pobres e nas 7.000 paróquias de todas as Dioceses da Brasil.
Por força da solidariedade fraterna, uma rede de 260 mil voluntários, dos quais 141 mil são líderes que vivem em comunidades pobres, 92% são mulheres, e participam permanentemente da construção de um mundo melhor, mais justo e mais fraterno, em serviço da vida e da esperança. Cada voluntário dedica em média 24 horas ao mês a esta missão transformadora de educar as mães e famílias pobres, compartilhar o pão da fraternidade e gerar conhecimentos para a transformação social.
O objetivo da Pastoral da Criança é reduzir as causas da desnutrição e a mortalidade infantil, promover o desenvolvimento integral das crianças, desde sua concepção até o seis anos de idade. A primeira infância é uma etapa decisiva para a saúde, a educação, a consolidação dos valores culturais, o cultivo da fé e da cidadania com profundas repercussões por toda a vida.
Um pouco de história:
Sou a 12ª de 13 irmãos, cinco deles são religiosos. Três irmãs religiosas e dois sacerdotes franciscanos. Um deles é D. Paulo Evaristo, o Cardel Arns, Arcebispo emérito de São Paulo, conhecido por sua luta em favor dos direitos humanos, principalmente durante os vinte anos da ditadura militar do Brasil.
Em maio de 1982, ao voltar de uma reunião da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, D. Paulo me chamou pelo telefone a noite. Naquela reunião, James Grant, então diretor executivo da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), falou com insistência sobre o soro oral. Considerado como o maior avanço da medicina no século passado, esse soro era capaz de salvar da morte milhões de crianças que poderiam morrer por desidratação devido a diarreia, uma das principais causas da mortalidade infantil no Brasil e no mundo. James Grant conseguiu convencer a D. Paulo para que motivasse a Igreja Católica a ensinar as mães a preparar e administrar o soro oral. Isto podia salvar milhares de vidas.

Viúva fazia cinco anos, eu estava, naquela noite histórica, reunida com os cinco filhos, entre os nove e dezenove anos, quando recebi a chamada telefônica do meu irmão D. Paulo. Ele me contou o que havia passado e me pediu para refletir sobre ele. Como tornar realidade a proposta da Igreja de ajudar a reduzir a morte das crianças? Eu me senti feliz diante deste novo desafio. Era o que mais desejava: educar as mães e famílias para que soubessem cuidar melhor de seus filhos!
Creio que Deus, de certo modo, havia me preparado para esta missão. Baseada na minha experiência como médica pediatra e especialista em saúde pública e nos muitos anos de direção dos serviços públicos de saúde materna-infantil, compreendi que, além de melhorar a qualidade dos serviços públicos e facilitar às mães e crianças o acesso a eles, o que mais falta fazia às mães pobres era o conhecimento e a solidariedade fraterna, para que pudessem colocar em prática algumas medidas básicas simples e capazes de salvar seus filhos da desnutrição e da morte, como por exemplo a educação alimentar e nutricional para as grávidas e seus filhos, a amamentação materna, as vacinas, o soro caseiro, o controle nutricional, além dos conhecimentos sobre sinais e sintomas de algumas doenças respiratórias e como as prevenir.
Me vem a mente então a metodologia que utilizou Jesus para saciar a fome de 5.000 homens, sem contar as mulheres e as crianças. Era noite e tinham fome. Os discípulos disseram a Jesus que o melhor era que deixassem suas casa, mas Jesus ordenou: "Dai-lhes vós de comer". O apóstolo Felipe disse a Jesus que não tinham dinheiro para comprar comida para tanta gente. André, irmão de Simão, sinalou a uma criança que tinha dois peixes e cinco pães. E Jesus mandou que se sentassem em grupos de cinquenta a cem pessoas (em pequenas comunidades). Então pensei: Por que morrem milhões de crianças por motivos que podem facilmente ser prevenidos? O que faz com que eles se tornem criminosos e violentos na adolescência?
Recordei o inicio da minha carreira, quando me desafiei a querer diminuir a mortalidade infantil e a desnutrição. Vieram a minha mente milhares de mães que trocaram o leite materno pela mamadeira diluída em água suja. Outras mães que não vacinam seus filhos, quando não havia ainda cesta básica no Centro de Saúde. Outras mães que limpavam o nariz de todos os seus filhos com o mesmo pano, ou pegavam seus filhos e os humilhavam quando faziam xixi na cama. E ainda mais triste, quando o pai chegava em casa bêbado. Ao ouvir o grito de fome e carinho de seus filhos, os venciam mesmo quando eram muito pequenos. Sabe-se, segundo resultados de pesquisas da OMS (Organização Mundial da Saúde), cuja publicação acompanhei em 1994, que as crianças maltratadas antes de um ano de idade têm uma tendência significativa para violência, e com frequência fazem crimes antes dos 25 anos.

A Igreja, que somos todos nós, que devíamos fazer?
Tive a seguridade de seguir a metodologia de Jesus: organizara as pessoas em pequenas comunidades; identificar líderes, famílias com grávidas e crianças menores de seis anos. Os líderes que se dispusessem a trabalhar voluntariamente nessa missão de salvar vidas, seriam capacitados, no espírito da fé e vida, e preparados técnica e cientificamente, em ações básicas de saúde, nutrição, educação e cidadania. Seriam acompanhados em seu trabalho para que não se desanimassem. Teriam a missão de compartilhar com as famílias a solidariedade fraterna, o amor, os conhecimentos sobre os cuidados com as grávidas e as crianças, para que estes sejam saudáveis e felizes. Assim como Jesus ordenou que considerassem se todos estavam saciados, tínhamos que implantar um sistema de informações, com alguns indicadores de fácil compressão, inclusive para líderes analfabetos ou de baixa escolaridade. E vi diante de mim muitos gestos de sabedoria e amor apreendidos com o povo.
Senti que ali estava a metodologia comunitária, pois podia se desenvolver em grande escala pelas dioceses, paróquias e comunidades. Não somente para salvar vidas de crianças, mas também para construir um mundo mais justo e fraterno. Seria a missão do "Bom Pastor", que estão atentos a todas as ovelhas, mas dando prioridade àquelas que mais necessitam. Os pobres e os excluídos.
Naquela maravilhosa noite, desenhei no papel uma comunidade pobre, onde identifique famílias com grávidas e filhos menores de seis anos e lideres comunitários, tanto católicos como de outras confissões e culturas, para levar adiante ações de maneira ecumênica, pois Jesus veio par que "todos tenham Vida e Vida em abundância" (João 10,10). Isto é o que precisa ser feito aqui no Haiti: fazer um mapa das comunidades pobres, identificar as crianças menores de 6 anos e suas famílias e lideres comunitários que desejam trabalhar voluntariamente.
Desde a primeira experiência, a Pastoral da Criança cultivou a metodologia de Jesus, que é aplicada em grande escala. No Brasil, em mais de 40 mil comunidades, de 7.000 paróquias de todas as 272 diocese e prelazias. Está se estendendo a 20 países. Estes são, na América Latina e no Caribe: Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Uruguai, Peru, Venezuela, Guatemala, Panamá, República Dominicana, Haiti, Honduras, Costa Rica e México; na África: Angola, Guiné-Bissau, Guiné Conakry e Moçambique e na Ásia: Filipinas e Timor Leste.
Para organizar melhor e compartilhar as informações e a solidariedade fraterna entre as mães e famílias vizinhas, as ações se baseiam em três estratégias de educação e comunicação: individual, de grupo e de massas. A Pastoral da Criança utiliza simultaneamente as três formas de comunicação para reforçar a mensagem, motivar e promover mudanças de conduta, fortalecendo as famílias com informações sobre como cuidar dos filhos, promovendo a solidariedade fraterna.
A educação e comunicação individual se fazem através da 'Visita Domiciliar Mensal nas famílias' com grávidas e filhos. Os líderes acompanham as famílias vizinhas nas comunidades mais pobres, nas áreas urbanas e rurais, nas aldeias indígenas e nos quilombos, e nas áreas ribeirinhas do Amazonas. Atravessam rios e mares, sobem e descem montes de encostas íngremes, caminham léguas, para ouvir os clamores das mães e famílias, para educar e fortalecer a paz, a fé e os conhecimentos. Trocam ideias sobre saúde e educação das crianças e das grávidas; ensinam e aprendem.
Com muita confiança e ternura, fortalecem o tecido social das comunidades, o que leva a inclusão social.
Motivados pela Campanha Mundial patrocinada pela ONU (Organização das Nações Unidas), em 1999, com o tema "Uma vida sem violência é um direito nosso", a Pastoral da Criança incorporou uma ação permanente de prevenção da violência com o lema "A Paz começa em casa". Utilizou como uma das estratégias de comunicação a distribuição de seis milhões de folhetos com "10 Mandamentos para alcançar a paz na família", debatíamos nas comunidades e nas escolas, do norte ao sul do país.
As visitas, entre tantas outras ações, servem para promover a amamentação materna, uma escola de dialogo e compartilhar, principalmente quando se dá como alimento exclusivo até os seis meses e se continua dando como alimento preferencial além do um ano, inclusive além dos dois anos, complementarmente com outros alimentos saudáveis. A sucção adapta os músculos e ossos para uma boa dicção, uma melhor respiração e uma arcada dentária mais saudável. O carinho da mãe acariciando a cabeça do bebe melhora a conexão dos neurônios. A psicomotricidade da criança que mama no peito é mais avançada. Tanto é assim que se senta, anda e fala mais rápido, aprende melhor na escola. É fator essencial para o desenvolvimento afetivo e proteção da saúde dos bebês, para toda a vida. A solidariedade desponta, promovida pelas horas de contato direto com a mãe. Durante a visita domiciliar, a educação das mulheres e de seus familiares eleva a autoestima, estimula os cuidados pessoais e os cuidados com as crianças. Com esta educação das famílias se promove a inclusão social.
A educação e a comunicação grupal têm lugar cada em cada mês em milhares de comunidades. Esse é o Dia da Celebração da Vida. Momento dedicado ao fortalecimento da fé e da amizade entre famílias. Além do controle nutricional, estão os brinquedos e as brincadeiras com as crianças e a orientação sobre a cidadania. Neste dia as mães compartilham práticas de aproveitamento adequado de alimentos da região de baixo custo e alto valor nutritivo. As frutas, folhas verdes, sementes e talos, que muitas vezes não são valorizados pelas famílias.
Outra oportunidade de formação de grupo é a Reunião Mensal de Reflexão e Evolução dos líderes da comunidade. O objetivo principal desta reunião é discutir e estabelecer soluções para os problemas encontrados.
Essas ações integram o sistema de informação da Pastoral da Criança para poder acompanhar os esforços realizados e seus resultados através de Indicadores. A desnutrição foi controlada. De mais de 50% de desnutridos no começo, hoje está em 3,1%. A mortalidade infantil foi drasticamente reduzida e hoje está em 13 mortos por mil nascidos vivos nas comunidades com Pastoral da Criança. O índice nacional é 2,33, mas se sabe que as mortes em comunidades pobres, onde estão a Pastoral da Criança, é maior que é na média geral. Em 1982, a mortalidade infantil no Brasil foi 82,8 mil nascidos vivos. Estes resultados têm servido de base para conquistar entidades, como o Ministério da Saúde, Unicef, Banco HSBC, e outras empresas. Elas nos apóiam nas capacitações e em todas as atividades básicas de saúde, nutrição, educação e cidadania. O custo criança/mês é de menos de US$ 1.
Em relação à educação e à comunicação de massas apresentará três experiências concretas de como a comunicação é um instrumento de defesa dos direitos da infância.
Materiais impressos
O material impresso foi concebido especificamente para ajudar a formação do líder da Pastoral da Criança. Os instrutores e os multiplicadores servem como ferramenta de trabalho na tarefa de guiar as famílias e comunidades sobre questões de saúde, nutrição, educação e cidadania. Além do Guia da Pastoral da Criança, se colocou em marcha publicações como o Manual do Facilitador, Brinquedos e Jogos, Comida e as Hortas Familiares, alfabetização de jovens e adultos e mobilização social.
O jornal da Pastoral da Criança, com tiragem mensal de cerca de 280 mil, ou seja 3 milhões e 300 mil exemplares por ano, chega a todos os líderes da Pastoral da Criança. É uma ferramenta para a formação continua.
O Boletim Dicas abarca questões relacionadas com a saúde e a educação para cidadania. Este especialmente concebido para os coordenadores e capacitadores da Pastoral da Criança. Cada publicação chega a 7.000 coordenadores.
Para ajudar na vigilância das mulheres grávidas, a Pastoral da Criança criou os laços de amor, cartões com conselhos sobre a gravidez e um partos saudável.
Outro material impresso de grande impacto social é o folheto com os 10 mandamentos para a Paz na Família, 12 milhões de folhetos foram distribuídos nos últimos anos.
Além desses materiais impressos, se envia para as comunidades da Pastoral da Criança material para o trabalho de pesagem das crianças, objetos como balanças e também colheres de medir para a reidratarão oral e sacos de brinquedos para as crianças brincarem no dia da celebração da vida.
Material de som e vídeo
Outra área em que a Pastoral da Criança produz materiais é de som e a produção de filmes educativos. O Show ao vivo da Rádio da Vida, produzido e gravado no estúdio da Pastoral da Criança, chega a milhões de ouvintes em todo Brasil. Com os temas de saúde, de educação na primeira infância e a transformação social, o programa de rádio Viva a Vida se transmite semanalmente 3.740 vezes. Estamos "no ar", de 2.310 horas semanais em todo Brasil. Além disso, o Programa Viva a Vida também se executa em vários tipos de sistemas de som de CD e aparelhos nas reuniões de grupo.
A Pastoral da Criança também produz filmes educativos para melhorar e dar conhecimento de seu trabalho nas bases. Atualmente há 12 títulos produzidos que sem ocupam na prevenção da violência contra as crianças, comida saudável, na gravidez, e na participação dos Conselhos Municipais de Saúde, na preservação da AIDS e outros.
Campanhas
A Pastoral da Infância realiza e colabora em várias campanhas para melhorar a qualidade de vida das mulheres grávidas, famílias e crianças. Estes são alguns exemplos:
a. Campanhas de sais de reidratação oral
b. Campanha de Certidão de Nascimento: a falta de informação, a distância dos escritórios e a burocracia fazem com que as pessoas fiquem sem uma certidão de nascimento. A mobilização nacional para o registro civil de nascimento, que une o Estado brasileiro e a sociedade, [busca] garantir a cada cidadão de pleno direito o nome e os direitos.
c. Campanha para promover o aleitamento materno: o leite materno é um alimento perfeito que Deus colocou à disposição nos primeiros anos de vida.Permanentemente, a Pastoral da Criança promove o aleitamento materno exclusivo até os seis meses e, em seguida, continuar, com outros alimentos. Isso protege contra doenças, desenvolve melhor e fortalece a criança.
d. Campanha de prevenção da tuberculose, pneumonia e hanseníase: as três doenças continuam a afetar muitas crianças e adultos em nosso país. A Pastoral da Criança prepara materiais específicos de comunicação para educar o público sobre sintomas, tratamento e meios de prevenção destas doenças.
e. Campanha de Saneamento: o acesso à água potável e o tratamento de águas residuais contribuem para a redução da mortalidade infantil. A Pastoral da Criança, em colaboração com outros organismos, mobiliza a comunidade para a demanda por tais serviços a governos locais e usa os meios ao seu dispor para divulgar informações relacionadas ao saneamento.
f. Campanha de HIV/Aids e Sífilis: o teste do HIV/Aids e sífilis durante o pré-natal permite a redução de 25% para 1% do risco de transmissão para o bebê. A Pastoral da Criança apóia a campanha nacional para o diagnóstico precoce destas doenças.
g. Campanha para a Prevenção da morte súbita de bebês "Dormir de barriga para cima é mais seguro": Com a finalidade de alertar sobre os riscos e evitar até 70% das mortes súbitas na infância, a Pastoral da Criança lançou esta grande campanha dirigida às famílias para que coloquem seus bebês para dormir de barriga para cima.
h. Campanha de Prevenção do Abuso Infantil: Com esta campanha, a Pastoral da Criança esclarece as famílias e a sociedade sobre a importância da prevenção da violência, espancamentos e abuso sexual. Esta campanha inclui a distribuição de folheto com os dez mandamentos para a paz na família, como um incentivo para manter as crianças em uma atmosfera de paz e harmonia.
i. Campanha - 20 de novembro, dia de oração e de ação para as crianças: A Pastoral da Criança participa dos esforços globais para a assistência integral e proteção a crianças e adolescentes, em colaboração com a Rede Mundial de Religiões para a Infância (GNRC).
Em dezembro de 2009, completei 50 anos como médica e, antes de 2002, confesso que nunca tinha ouvido falar em qualquer programa da Unicef ou da Organização Mundial de Saúde (OMS), ou de outra agência da Organização das Nações Unidas (ONU), que estimulasse a espiritualidade como um componente do desenvolvimento pessoal. Como um dos membros da delegação do Brasil na Assembleia das Nações Unidas em 2002, que reuniu 186 países, em favor da infância, tive a satisfação de ouvir a definição final sobre o desenvolvimento da criança, que inclui o seu "desenvolvimento físico, social, mental, espiritual e cognitivo". Este foi um avanço, e vem ao encontro do processo de formação e comunicação que fazemos na Pastoral da Criança. Neste processo, vê-se a pessoa de maneira completa e integrada em sua relação pessoal com o próximo, com o ambiente e com Deus.
Estou convencida de que a solução da maioria dos problemas sociais está relacionada com a redução urgente das desigualdades sociais, com a eliminação da corrupção, a promoção da justiça social, o acesso à saúde e à educação de qualidade, ajuda mútua financeira e técnica entre as nações, para a preservação e restauração do meio ambiente. Como destaca o recente documento do papa Bento 16, "Caritas in veritate" (Caridade na verdade), "a natureza é um dom de Deus, e precisa ser usada com responsabilidade." O mundo está despertando para os sinais do aquecimento global, que se manifesta nos desastres naturais, mais intensos e frequentes. A grande crise econômica demonstrou a inter-relação entre os países.
Para não sucumbir, exige-se uma solidariedade entre as nações. É a solidariedade e a fraternidade aquilo de que o mundo precisa mais para sobreviver e encontrar o caminho da paz.
Final
Desde a sua fundação, a Pastoral da Criança investe na formação dos voluntários e no acompanhamento de crianças e mulheres grávidas, na família e na comunidade.Atualmente, existem 1.985.347 crianças, 108.342 mulheres grávidas de 1.553.717 famílias. Sua metodologia comunitária e seus resultados, assim como sua participação na promoção de políticas públicas com a presença em Conselhos de Saúde, Direitos da Criança e do Adolescente e em outros conselhos levaram a mudanças profundas no país, melhorando os indicadores sociais e econômicos. Os resultados do trabalho voluntário, com a mística do amor a Deus e ao próximo, em linha com nossa mãe terra, que a todos deve alimentar, nossos irmãos, os frutos e as flores, nossos rios, lagos, mares, florestas e animais. Tudo isso nos mostra como a sociedade organizada pode ser protagonista de sua transformação. Neste espírito, ao fortalecer os laços que ligam a comunidade, podemos encontrar as soluções para os graves problemas sociais que afetam as famílias pobres.
Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, deveríamos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los.
Muito Obrigada!Que Deus esteja convosco!Dra. Zilda Arns NeumannMédica pediatra e especialista em Saúde PúblicaFundadora e Coordenadora da Pastoral da Criança InternacionalCoordenadora Nacional da Pastoral da Pessoa Idosa

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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