Não importa! Não importa
mesmo quem mora mais perto, em que direção, o quanto de distância, ou qualquer
outra coisa do gênero.
O que vale é que elas são
minhas vizinhas e, com certa frequência, me visitam. Fico a imaginar a casa
delas. Dona Tristeza deve morar em uma casa cinza, apertada, janelas bem
trancadas e sem alpendre.
Dona Alegria, por sua
vez, deve ter uma casa toda ensolarada, com janelas azuis, vasos de flores nas
paredes, amplas varandas. Nas varandas, periquitos, passarinhos, cachorro, gato
e uma rede bem rendada.
Dona Tristeza, quando me
visita, vem com uma mala pesada e vai entrando sem pedir licença. Pouco fala,
pouco se explica. É cheia de rodeios, não se revela. Faz questão de avisar que
está chegando, pois arrasta seus
chinelos fazendo um barulho irritante. Tem uma peculiaridade: geralmente chega à
noite, quando o sol, há muito, já se pôs. É de uma mudez e de uma teimosia...
Prende-me em sua energia,
afasta-me de todos e de tudo e leva-me a lugares que sempre evito explorar.
Dona Alegria parece-me
mais tímida e é muito respeitosa. Sempre
espera por um sinal, um gesto, um convite para se aproximar. Nunca vem sozinha;
sempre lhe acompanha um cheirinho de alecrim, um calor gordinho, uma fita de
filó que enlaça nossas mãos. Quando percebo, já estou rodopiando na sala,
apaixonada por tudo que existe ao meu redor. São muitas horas, dias, meses em que
somente falo bobeiras, sorrio à toa, canto bem alto, telefono para os amigos e
faço mil planos com o tempo futuro, que sempre é recebido como um querido amigo.
Não sei como chegar à
casa delas: se viro à esquerda ou à direita
do meu coração, apenas elas é que sabem me encontrar. Confesso que, por muito
tempo, quis decifrá-las, conhecer suas origens, compreendê-las para dominá-las.
Conseguiria, assim, levantar muros bem altos, colocar câmeras
a fim de detectar e evitar a visita indesejável da vizinha
Dona Tristeza. Ansiava, no entanto, por descobrir a casa da Dona Alegria,
pois construiria uma chaminé que levasse uma fumacinha branca de boas vindas ou,
então, o cheiro de um café passado e coado na hora.
Hoje estou em paz. Recebo-as,
igualmente, porque sei que as duas têm muito a me ensinar. Vivo os arredores dessas emoções procurando não
afugentá-las, dando a cada visita a maior consideração, pois, somente assim, tenho a possibilidade de me conhecer melhor
e ser a pessoa que hoje sou.
texto: Eliete T. Cascaldi Sobreiro
imagem: internet
imagem: internet
Maravilhoso texto e essas vizinhas est~çao sempre pertinho,mas podemos escolher com quem conviver! bjs, chica
ResponderExcluirOi, Eliete, que linda prosa poética com tantas verdades contidas. Gostei muito...pode continuar explorando a vizinhança (rs).
ResponderExcluirum abraço
Olá Eliete, vi seu texto no Claudiaroma, amei e quis conhecer seu espaço.
ResponderExcluirSe me permite, gostaria de lhe seguir, obrigada, abraços carinhosos
Maria Teresa
Oi! Vim lá do "Claudiaromas". Não resisti e quis te conhecer. Simplesmente encantada!!!
ResponderExcluirVolto, volto sim, muitas e muitas vezes.
bjs
http://garotas-vintage.blogspot.com.br