CIÚME
Lygia Bojunga
Eu tinha 9 anos quando a gente se encontrou: o Ciúme e eu.Era verão. Eu dormia no mesmo quarto que a minha irmã. A janela estava aberta.De repente, sem nem saber direito se eu estava acordada ou dormindo, eu senti direitinho que ele estava ali: entre a cama da minha irmã e a minha. A noite nãoinha lua nem tinha estrela; e quando eu fui estender o braço para acender a luz, ele não quis:
“Me deixa assim no escuro.”Que medo que me deu.Senti ele chegando cada vez mais perto. Fui me encolhendo.“Pega a minha irmã”, eu falei.
“Ali, ó, na outra cama. Eu sou pequena e ela já fez 14 anos, pega ela. Ela é bonita e eu sou feia; o meu pai, a minha mãe, a minha tia, todo o mundo prefere ela: por que você não prefere também?”
Mas o Ciúme não queria saber da minha irmã, e eu já estava tão espremida no canto (a minha cama era contra a parede) que eu não tinha mais para onde fugir, então eu pedia e pedia de novo:
“Ela é a primeira da turma e eu tenho horror de estudar, olha, ela tá logo ali; e ela é tão inteligente pra conversar! Ela diz poesia, ela sabe dançar, o meu pai tá ensinando inglês e francês pra ela e diz que pra mim não vale a pena porque eu não presto atenção, então você pensa que eu não vejo o jeito que o meu pai olha pra ela quando todo o mundo diz que encanto de moça que é a sua filha mais velha? Pega, pega, PEGA ela!”
“Não. Eu quero é você.”
E o Ciúme disse aquilo com uma voz tão calma que eu fui me acalmando. E o medo meio que foi passando.
“Bom” eu acabei suspirando “pelo menos tem alguém que gosta mais de mim do que dela.”E aí o vento do mar entrou pela janela, soprou o Ciúme e apagou ele feito vela.========================================================
“Me deixa assim no escuro.”Que medo que me deu.Senti ele chegando cada vez mais perto. Fui me encolhendo.“Pega a minha irmã”, eu falei.
“Ali, ó, na outra cama. Eu sou pequena e ela já fez 14 anos, pega ela. Ela é bonita e eu sou feia; o meu pai, a minha mãe, a minha tia, todo o mundo prefere ela: por que você não prefere também?”
Mas o Ciúme não queria saber da minha irmã, e eu já estava tão espremida no canto (a minha cama era contra a parede) que eu não tinha mais para onde fugir, então eu pedia e pedia de novo:
“Ela é a primeira da turma e eu tenho horror de estudar, olha, ela tá logo ali; e ela é tão inteligente pra conversar! Ela diz poesia, ela sabe dançar, o meu pai tá ensinando inglês e francês pra ela e diz que pra mim não vale a pena porque eu não presto atenção, então você pensa que eu não vejo o jeito que o meu pai olha pra ela quando todo o mundo diz que encanto de moça que é a sua filha mais velha? Pega, pega, PEGA ela!”
“Não. Eu quero é você.”
E o Ciúme disse aquilo com uma voz tão calma que eu fui me acalmando. E o medo meio que foi passando.
“Bom” eu acabei suspirando “pelo menos tem alguém que gosta mais de mim do que dela.”E aí o vento do mar entrou pela janela, soprou o Ciúme e apagou ele feito vela.========================================================
Olá,Eliete!!
ResponderExcluirMuito bom este texto!!Quem não recebeu a visita do ciúme?!
Este sentimento que chega de mansinho e toma conta da gente!Ainda bem que com o tempo, com a maturidade, aprendemos a reconhece-lo e descartá-lo!!Ficar com ciúmes é inútil...e faz muito mal para quem sente!!
Beijos !!
Ótimo final de semana!!
Adorei esse texto da Lygia, obrigada por postar sempre palavras significativas Eliete, vc tem bom gosto e sensibilidade para isso.
ResponderExcluirBeijos
O ciúme é uma espécie de ferrete da nossa insegurança...
ResponderExcluirBeijo :)
eta texto maravilhoso...embalou minha fria noite de sabado!
ResponderExcluirah ! o ciume...quem nunca o teve por perto? quem...?
um grande beijo, querida !
Muito bom vir aqui, Eliete. Não conhecia este texto da Lygia Bojunga. Excelente!
ResponderExcluirObrigada por sua presença em meu cantinho.
Bom domingo pra você.
Beijos :)
Ainda que o norte fosse outro, remeteu-me ao sul: "o grande amor só se sente no ciúme" (Proust)
ResponderExcluirBeijos...
Engraçado que às vezes, em dias frios, quanquer sentimento aquece... :)
ResponderExcluirPS: Ia usar o vocatilo "Lili" porque me lembrei da tão citada nos textos de Quintana.
"Vamos avoar?" Avoei... ;)
http://quintaneandoeoutrosgerundios.blogspot.com/2011/01/vamos-avoar.html
Beijão, :)
Eliete , amiga que gosto muito
ResponderExcluirQue texto excelente ! Nunca tinha lido nada sobre o Ciúme , assim , dessa forma , ...
Natural , doce e suave.
Impossível quem nunca tenha recebido sua visita.
O importante é não deixar que o mesmo se hospede
dentro de nós .
Adorei ,...quem agradece sou eu por tão boa leitura.
Bjo Grande e um Domingo Iluminado.
NOSSA , ELIETE ....QUE LINDO!!!
ResponderExcluirESSE TEXTO É MUITO LINDO....VALEU TER PASSADO POR AQUI...
OBRIGADA POR TER POSTADO ISSO!!!
BEIJO GRANDE
Acho que foi em Gide que eu li"Para quem nada espera o que vier é grato" será que até o ciúme nos integra? Um abraço
ResponderExcluirQUEM NUNCA TEVE CIUME?
ResponderExcluirUM ABRAÇO
MARIA APARECIDA.