quarta-feira, 12 de janeiro de 2011


na hora de pôr a mesa éramos cinco:
o meu pai,a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
José Luís Peixoto (Galveias, Ponte de Sor, Setembro de 1974) Poeta, romancista, dramaturgo.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Achei esta crônica muito interessante:divertida e ...
O homem que casou com sua mão direita
Luis Fernando Veríssimo

A verdade era que Herculano encontrara na sua mão direita o que nunca encontrara numa mulher.O Herculano era um homem sério, o que tornava suas esquisitices ainda mais divertidas para o grupo. Mesmo quando não estava na roda, o Herculano era assunto da turma. Volta e meia, alguém chegava com uma história nova do amigo, sempre prefaciada com a frase:– Sabem a última do Herculano?Pois a última do Herculano ele mesmo anunciou, um dia, ao chegar no bar:– Pedi a minha mão em casamento.– O quê?!– Você vai casar com você mesmo?– Não, só com a minha mão. Esta.
E Herculano levantou sua mão direita. A noiva abanou para todos na mesa.Herculano explicou que não tinha sido uma decisão súbita e impensada. Ele e sua mão eram ligados desde pequenos. Tinham se criado juntos. A partir da puberdade haviam começado a fazer sexo regularmente, mas nada sério. Coisa de adolescentes. Com o tempo, no entanto, o relacionamento mudara. Crescera uma real afeição entre os dois, que aos poucos se transformara em amor. A verdade, contou Herculano, era que encontrara na sua mão direita o que nunca encontrara numa mulher. Além de ser uma companheira constante que jamais o contrariava e fazia todas as suas vontades, era uma amante perfeita. Nenhuma mulher conseguia satisfazê-lo como sua mão direita– Me apaixonei, pronto – disse Herculano.
Herculano enumerou todas as vantagens de ter sua mão direita como esposa. Ela jamais lhe seria infiel. Ela jamais se recusaria, com um gesto que fosse, a fazer amor com ele. Estaria sempre pronta para o sexo, incapaz de alegar dor de cabeça, tendinite ou o que fosse. E não esperaria que ele fizesse conversa de neném antes e depois do ato, como algumas mulheres exigem. Sua mão direita não esperaria nada, não exigiria nada, seria uma amante – além de exímia nas artes do amor – silenciosa.Não era brincadeira. Herculano levou adiante o plano de casar com sua mão direita. Durante algum tempo – o tempo do noivado – a noiva usou duas alianças no seu dedo anular, uma dela e a outra do Herculano. Depois do casamento, a aliança do Herculano passou para a sua mão esquerda. Todos na roda queriam saber quando seria o casamento, quem seriam os padrinhos etc., mas Herculano informou que a cerimônia seria simples e sem testemunhas. Ele sabia que não seria difícil arranjar alguém para oficializá-la.
Hoje em dia, como se sabe, tem até padre casando surfistas em cima da prancha e pegando onda. Mas Herculano preferiu a discrição. A lua de mel foi em Cancun.E aconteceu uma coisa que ninguém poderia prever. O Herculano, que nunca fora disso, se revelou num grande ciumento. Continua frequentando a roda, mas, se desconfia que alguém está dando muita atenção à sua esposa, põe a mão no bolso.
Jornal: O Estado de São Paulo, 9/01/10

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011



O QUE FAZ VOCÊ FELIZ?

O que me faz feliz é mar, montanha e céu azul.
O vasinho com flores na janela e uma vaquinha pastando.
É arco-íris, o canto das cigarras e o barquinho sendo levado pela enxurrada.
O que me faz feliz é pipoca, biju, algodão doce e todas as guloseimas da infância.
É escutar: “mãe, cheguei”; música popular brasileira e a banda tocando no coreto.
Ah!, muitos livros para ler...
O que me faz feliz é visitar minha memória e lembrar do primeiro sapato de salto alto, do vestido de debutante e o dia do meu casamento.
E, é claro, do cheirinho de nenê.
Ah! tantas coisas vividas e outras que imagino viver ( ainda este ano), como por exemplo, o casamento da minha filha,me faz muito feliz.
(Eliete)

domingo, 9 de janeiro de 2011

O que faz você feliz?
Arnaldo Antunes


A lua, a praia, o mar
Uma rua, passear
Um doce, uma dança
Um beijo ou goiabada com queijo?
Afinal, o que faz você feliz?

Chocolate, paixão
Dormir cedo, acordar tarde
Arroz com feijão, matar a saudade
O aumento, a casa, o carro que você sempre quis
Ou são os sonhos que te fazem feliz?


Dormir na rede, matar a sede
Ler ou viver um romance
O que faz você feliz?
Um lápis, uma letra, uma conversa boaUm cafuné,
café com leite, rir a toa
Um pássaro, um parque, um chafariz
Ou será o choro que te faz feliz?
A pausa para pensar
Sentir o vento
Esquecer o tempo
O céu
O sol
Um som
A pessoa ou o lugar
Agora me diz o que faz você feliz?

O que faz você feliz?
aquela comida caseira,arroz com feijão
brincar a tarde inteira
o molho do macarrão
ou é o cheiro da cebola fritando que faz você feliz?

o papo com a vizinha,o bife, a batatinha
a goiabada com queijo
um doce ou um desejo
afinal o que faz você feliz?

O que faz você feliz?
ficar de bobeira
assaltar a geladeira
comer frango com a mão
tomar água na garrafa
passar azeite no pão
ou é namorar a noite inteira que faz você feliz?
rir e brindar a toa
um filme, uma conversa boa
fazer um dia normal virar uma noite especial
afinal, o que faz você feliz?

O que faz você feliz?
comer morango com a mão
por açúcar no abacate
brincar com melão, goiaba, romã, jabuticaba
ou é o gostinho de infância que faz você feliz?
cuspir sementes de melancia
falar besteira, ficar sem fazer nada
plantar bananeira, ou comer banana amassada?
afinal, o que faz você feliz?

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011


"Poesia serve exatamente para a mesma coisa que serve uma vaca no meio da calçada de uma agitada metrópole. Para alterar o curso do seu andar, para interromper um hábito, para evitar repetições, para provocar um estranhamento, para alegrar o seu dia, para fazê-lo pensar, para resgatá-lo do inferno que é viver todo santo dia sem nenhum assombro, sem nenhum encantamento"
Trecho de Veneno Antimonotonia de Martha Medeiros

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011


"É fácil abster-se de andar; o difícil é andar sem tocar na terra.

(...) Ouviste falar do vôo com asas, nunca porém do vôo sem asas. Ouviste falar do conhecimento que conhece e nunca do conhecimento que não conhece.Olha para a sala fechada, para o quarto vazio no qual nasce a claridade. A fortuna e a benção se acumulam onde há tranquilidade.Mas, se não és tranquilo, chama-se a isso estar sentado,mas correndo ao redor. Que teus olhos e ouvidos se comuniquem com o que há dentro de ti; deixa, porém, do lado de fora a mente e o conhecimento. Então até os deuses e os espirítos habitarão contigo, para não falar dos homens'.

Confúcio
O tao e a psicologia/Paulo V. Bloise

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

foto: estrada para Silvianópolis/M.G.

Ter o Eterno como uma terna esperança.
(Eliete Cascaldi)
...mas, é a eternidade que dá sentido à vida. Eternidade não é o tempo sem fim. Tempo sem fim é insurportável. Eternidade é o tempo completo, esse tempo do qual a gente diz:"Valeu a pena".
Rubem Alves

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

foto:Eliete Cascaldi Sobreiro (estrada para Silvianópolis/M.G.
Mia Couto , escritor moçambicano, com uma obra belíssima.
"Lhe concordo, doutor: sou eu que invento minhas doenças. Mas eu, velho e sozinho, o que posso fazer?
Estar doente é minha única maneira de provar
que estou vivo. É por isso que frequento o hospital, vezes e vezes, a exibir minhas maleitas.
Só nesses momentos, doutor, eu sou atendido.
Mal atendido, quase sempre. Mas nessa infinita fila de espera, me vem a ilusão de me vizinhar do mundo.
Os doentes são a minha família, o hospital é o meu tecto e o senhor é o meu pai, pai de todos os meus
pais".
(Mia Couto, In O Fio das Missangas)

sábado, 1 de janeiro de 2011

http://abstratosdenelsonaharon.blogspot.com/

ODISSÉIA 2.011
Janeiro é o primeiro mês do ano da segunda década do terceiro milênio.
Parece ser impossível, uma utopia!
Mas é realidade; estamos no ano de 2.011.
Não há naves espaciais, muito menos Barbarella, mas pode ser uma Odisséia.
Se desejarmos com força e agirmos com precisão, poderemos fazer, a partir de agora, uma jornada para dentro de nós mesmos, com o propósito de chegar aonde bate forte o nosso coração e, assim, resgatar não só o nosso bem-estar, mas alterar o mundo onde vivemos.
Podemos esperar que no decorrer do ano sejamos influenciados pelos conselhos do espírito prático (o mandatário dos tempos modernos) gritando em nossos ouvidos:
“Que besteira, precisamos cair na estrada com esperteza, ser práticos, objetivos, acreditar nas evidências e desconfiar de tudo e de todos, se quisermos vencer”.
Mas se formos só um pouquinho compreensivos com nossa alma, poderemos ouvir o espírito lírico, que soprará um trechinho da música de Gonzaguinha

http://abstratosdenelsonaharon.blogspot.com/

“É tão bonito quando a gente pisa firme
nessas linhas que estão nas palmas de nossas mãos.
É tão bonito quando a gente vai à vida
Nos caminhos onde bate, bem mais forte o coração”
Você já pensou que a sua vida, a minha e a de todos nós podem ser uma Odisséia?
Uma jornada fascinante e única, em que o herói, ao fazer o seu caminho, enfrentando todos os elementos necessários para o seu crescimento e amadurecimento, volta para casa vitorioso e forte , pois o seu poder não só o beneficia como também a seus semelhantes ?
Uma vida bem vivida e orientada pelo espírito do amor, (que segreda tão baixinho, como alerta, Cecília Meireles) é aquela que subordina os desejos egoístas em prol de um valor maior, que conta com doses frequentes de ousadia e paixão, e valoriza as amizades em qualquer ocasião.

Principalmente por poder voltar
a todos os lugares aonde já cheguei
pois lá deixei um prato de comida
um abraço amigo, um canto pra dormir e sonhar”

É urgente que façamos deste ano, um ano NOVO de verdade; que nossos desejos de harmonia, paz e unidade se concretizem em ações , pois a vida convoca-nos à grande lição:
“Aprendi que se depende sempre
de tanta , muita, diferente gente
toda pessoa sempre é as marcas
das lições diárias de outras pessoas.
E é tão bonito a gente entende
que a gente é tanta gente aonde quer que a gente vá
E é tão bonito quando a gente sente
que nunca está sozinho por mais que pense estar”.

A vida como uma Odisséia é quando o caminho transfigura-nos e passamos a compreender que não viajamos sozinhos. Que o nosso bem- estar está intimamente atrelado ao bem-estar do outro.
O caminho transfigura-nos quando não somos dominados pelo espírito da hipocrisia que nos faz falar o que não sentimos, fazer o que não preconizamos e calar quando deveríamos berrar.
O caminho transfigura-nos quando não somos dominados pelo espírito prático e utilitário, cujo valor está no uso e benefício de algo ou alguém, e no estabelecimento de relações frias e distantes.
O caminho transfigura-nos quando passamos a viver nossos papéis sociais com responsabilidade e envolvimento emocional profundo, para que possam ser certidões do nosso comprometimento verdadeiro e humano com nossos semelhantes.
O ano de 2011 só será um ano realmente NOVO , quando inaugurarmos um novo calendário - o do Tempo da Graça , cuja pauta seja o amor, prevalecendo em todos os dias comuns e não apenas em datas especiais e que o marcador seja a honestidade em cada um de nós.
(Eliete Cascaldi)
Inspiração: Letra e Música: Caminhos do coração (Gonzaguinha)


quinta-feira, 30 de dezembro de 2010


"Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar.


Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: “Devo estar diminuindo de novo”. Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.


E escuta esta parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e de rinicerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e o grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom humor".

(Paulo Mendes Campos, Para Maria da Graça, in Para gostar de ler; São Paulo, Ática, 1979.)

terça-feira, 28 de dezembro de 2010


Vai, ano velho

Vai, ano velho, vai de vez,vai com tuas dívidas e dúvidas, vai, dobra a ex-quina da sorte, e no trinta e um,à meia-noite, esgota o copo e a culpa do que nem me lembro e me cravou entre janeiro e dezembro.Vai, leva tudo: destroços,ossos, fotos de presidentes,beijos de atrizes, enchentes,secas, suspiros, jornais.Vade retrum, pra trás,leva pra escuridão quem me assaltou o carro,a casa e o coração.
Não quero te ver mais,só daqui a anos, nos anais,nas fotos do nunca-mais.


Vem, Ano Novo, vem veloz,vem em quadrigas, aladas, antigas ou jatos de luz moderna, vem,paira, desce, habita em nós,vem com cavalhadas, folias, reisados,fitas multicores, rebecas,vem com uva e mel e desperta em nossso corpo a alegria,escancara a alma, a poesia,e, por um instante, estanca o verso real, perverso,e sacia em nós a fome- de utopia.


Vem na areia da ampulheta com a semente que contivesse outra se-mente que contivesse ou-tra semente ou pérola na casca da ostra como se outra se-mente pudesse nascer do corpo e mente ou do umbigo da gente como o ovo o Sol a gema do Ano Novo que rompesse a placenta da noite em viva flor luminescente.
Adeus, tristeza: a vida é uma caixa chinesa de onde brota a manhã.Agora é recomeçar.

A utopia é urgente.

Entre flores de urânio é permitido sonhar.
Affonso Romano de Sant'Anna

domingo, 26 de dezembro de 2010


NA ESPERA DO AMANHÃ
Affonso Romano de Sant'Anna


Vou dizer uma coisa banal: sem o mito do amanhã não existiríamos.
Digo e assumo essa fundamental banalidade. Não fora o amanhã secaríamos à beira dos caminhos. O amanhã é que fermenta o hoje, que fermenta o ontem.
Por que migram as aves sobre os oceanos?
Por que os peixes sobem cachoeiras procurando as nascentes do futuro?
Os animais, aves e insetos ao redor, nos dão lição de aurora.
Ganhei duas crisálidas de borboletas. Aprendi a ver nesses casulos as asas que se desenharão em algum céu. Seguro nas mãos essas formas vivas disfarçadas de vegetal. Imagino o futuro dessas células. Mas tal imaginação não é privilégio só meu. No meu quarto, dependuradas num vaso de samambaia, duas crisálidas me contemplam a mim. Elas sabem, mais que eu, a que horas duas estupendas borboletas sairão do útero do tempo para esbaterem contra as vidraças do dia.
A trepadeira no terraço, que avança dois-três contímetros cada jornada, seguindo o fio de náilon do tempo, me ensina a direção das coisas. O vento sopra pelas costas de suas folhas e ela navega verde na pilastra como uma caravela reinventando seu concreto mar.
O suicida é o que decretou a morte do amanhã.
O idealista é o viciado que toma o amanhã nas veias, aspira-o, esfrega-o nos olhos e gengivas.

No entanto, dizemos: "está difícil", "a vida está dura", "assim não é possível", "esse país não tem mais jeito", mas no dia seguinte, amarfanhados, caminhamos junto ao mar para saudar a aurora.
Sábia é a natureza, nos dizem. Olhai os lírios do campo, eles passam a vida tecendo e fiando a manhã. E o jardineiro que parece um perverso podador, tão-somente antecipa a floração da vida com suas lãminas de dor.
Em busca do amanhã as cobras perdem sua pele.
Penas caem na muda da plumagem airosa dos airões.
Cães ladram pressentindo o terremoto, que os homens sequer percebem. Os cães, quando uivam para a Lua, estão à sua maneira saudando o cio das madrugadas.
Em busca do amanhã uma nave passou por Marte e segue rumo a Urano.
Alguns pré-videntes já estão legislando a constituição do amanhã. E se acabarem com o amanhã aqui, ele continuará com outros seres menos ferozes em outras galáxias, mais humanas, talvez.
É assim que Penélope tecia e destecia seu amor nos fios da madrugada esperando Ulisses atracar na enseada.
É assim que Sísifo- o mais otimista dos deuses condenados- sempre rolava montanha acima a pedra que sempre rolava montanha abaixo.
É assim que Fênix- a fabulosa ave queimada nos desertos da Arábia- renascia das próprias cinzas e cantava transfigurada.
Deus é o renovado amanhã.
O que fazem os amantes pelos bares e praias, junto às árvores de noturnas ruas e nos leitos secretos, senão cumprir o ritual de crença no amanhã.
E o ano mais uma vez termina. E estamos comendo e bebendo as horas que faltam e ansiando por um novo dia. Também são assim os primitivos, quando celebram o potlach. Vão destruindo os objetos, as memórias que ficaram para reinaugurarem um ano novo.

Oh, amanhã! Os que vão viver te saúdam.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010


INTERSER
“Se você for poeta, verá nitidamente uma nuvem passeando nesta folha de papel.
Sem a nuvem, não há chuva. Sem a chuva, as árvores não crescem. Sem as árvores não se pode produzir papel.
A nuvem é essencial para a existência do papel. Se a nuvem não está aqui, a
folha de papel também não está. Portanto, podemos dizer que a nuvem e o papel “intersão”.
Interser é uma palavra que ainda não se encontra no dicionário, mas se combinarmos o radical "inter" com o verbo "ser", teremos um novo verbo:

INTERSER.
Se examinarmos esta folha com maior profundidade, poderemos ver nela o sol. Sem o sol, não há floresta. Na verdade, sem o sol não há vida. Sabemos, assim, que o sol também está na folha de papel.
O papel e o sol intersão. E se prosseguirmos em nosso exame, veremos o
lenhador que cortou a árvore e a levou à fábrica para ser transformada em papel. E vemos o trigo.
Sabemos que o lenhador não pode existir sem seu pão de todo dia. Portanto, o trigo que se transforma em pão também está nessa folha de papel.
O pai e a mãe do lenhador também estão aqui.
Quando olhamos dessa forma, vemos que sem todas essas coisas, essa folha de papel não teria condição de existir.

Ao olharmos ainda mais fundo, também vemos a nós mesmos nesta folha de papel. Isso não é difícil porque, quando observamos algum objeto, ele faz parte
de nossa percepção. Sua mente está aqui, assim como a minha.
É possível, portanto, afirmar que tudo está aqui nesta folha de papel.
Não conseguimos indicar uma coisa que não esteja nela – o tempo, o espaço, o sol, a nuvem, o rio, o calor.
Tudo coexiste nessa folha de papel. É por isso que para mim a palavra
interser deveria ser dicionarizada. “Ser” é “interser”. Não podemos simplesmente ser sozinhos e isolados.
Temos de interser com tudo o mais. Esta folha de papel é, porque tudo o mais é.
Imagine que tentemos devolver um dos elementos à sua origem. Imagine tentarmos devolver a luz do sol ao sol.
Você acha que a folha de papel ainda seria possível? Não, sem o sol,
nada poderia existir. Se devolvermos o lenhador à sua mãe, tampouco teremos a folha de papel.
O fato é que esta folha de papel é composta apenas de elementos não-papel. Se devolvermos esses elementos que não são papel às suas origens, não haverá papel algum.
Sem esses elementos não-papel, como a mente, o lenhador, o sol e assim por diante, não haverá papel.
Por mais fina que esta folha seja, tudo o que há no universo está nela”.
Thich Nhat Hanh (poeta e jardineiro vietnamita).

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010


Quero ser catedral, para poder entrar no meu interior e encontrar paz e silêncio.
Compulsar-me ao som das sinfonias de Bach, elevar-me junto aos anjos dos vitrais e aninhar-me nos braços de Deus.
Quero ser catedral, para entregar-me em orações de amor.
(Eliete Cascaldi)

sábado, 18 de dezembro de 2010


Se partires um dia rumo à Ítaca

Faz votos de que o caminho seja longo repleto de aventuras, repleto de saber.

Nem lestrigões, nem ciclopes, nem o colérico Posidon te intimidem!

Eles no teu caminho jamais encontrarás

Se altivo for teu pensamento

Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito tocar.

Nem lestrigões, nem ciclopes

Nem o bravio Posidon hás de ver

Se tu mesmo não os levares dentro da alma

Se tua alma não os puser dentro de ti.

Faz votos de que o caminho seja longo.

Numerosas serão as manhãs de verão

Nas quais com que prazer, com que alegria

Tu hás de entrar pela primeira vez um porto

Para correr as lojas dos fenícios e belas mercancias adquirir.

Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos

E perfumes sensuais de toda espécie

Quanto houver de aromas deleitosos.

A muitas cidades do Egito peregrinas

Para aprender, para aprender dos doutos.

Tem todo o tempo ítaca na mente.

Estás predestinado a ali chegar.

Mas, não apresses a viagem nunca.

Melhor muitos anos levares de jornada

E fundeares na ilha velho enfim.

Rico de quanto ganhaste no caminho

Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.

Uma bela viagem deu-te Ítaca.

Sem ela não te ponhas a caminho.

Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.

Ítaca não te iludiu

Se a achas pobre.

Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.

E, agora, sabes o que significam Ítacas.

Constantino Kabvafis (1863-1933)

in: O Quarteto de Alexandria - trad. José Paulo Paz.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010


"O tempo muda tudo". House retruca:"É o que dizem as pessoas, mas não é verdade. O que muda as coisas é o ato de fazer as coisas; se não fizermos nada, fica tudo como está".
Livro: House e a Filosofia/Todo Mundo Mente
Coordenação de Willian irwin

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

VIVER
"Se vive e se escreve sem rede de segurança”.
Nélida Pinon


Quero no meu poente lançar-me sem medo no porvir.
Eliete Cascaldi
"A vida é autoridade desordeira"
Mia Couto

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010


Ser elegante
Quando falamos em “elegância”, primeiramente, recordamo-nos de um jeito especial de vestir-se.
Refere-se à pessoa que tem bom gosto ao escolher suas roupas e um porte físico privilegiado.
Assim falando, essa referencia é destinada à elegância da “segunda pele”.
Mas a verdadeira elegância é muito mais do que isso. Não se compra, não sofre influência de época ou da moda, pois seus quesitos são alinhavados com atitudes pautadas em princípios éticos .
Aurélio Buarque de Holanda define elegância como:”Distinção de porte, de maneira, garbo, graça,encanto. Bom gosto, gentileza. Cortesia”.
Na elegância do Ser, direito e avesso são uma coisa só, isto é,a conduta não depende de com que está ou onde está. Elegantes são pessoas que vivem com paixão o que fazem, realizando seus dons com excelência e responsabilidade. Não são arrogantes perante o Outro, agem com naturalidade e estão sempre abertas a olharem as novas tendências de época com entusiasmo e abertura.
Ser elegante não é possuir bens materiais, sobrenomes famosos ou viver recluso em grupos de iguais. Sua marca é a afetividade, e a consciência de que faz parte de um todo maior.
É aquela pessoa que porta-se com interesse e respeito perante o Outro e com veracidade diante de si mesmo.
Concluindo, pode-se dizer que uma pessoa elegante, é alguém que tece, através do seu comportamento, um mundo mais bonito, e que mesmo espelhando-se em modelos que considera dignos, o faz com a sua marca singular.
(matéria para o jornal "O COMBATE" de Jaboticabal/Eliete T.Cascaldi Sobreiro )

terça-feira, 14 de dezembro de 2010


"Sarte tem um interesse pessoal pela questão da dependência que temos uns dos outros, o surgimento da autopercepção e da identidade pessoal. Ele vê a interação com os outros como algo necessário para a emergência de consciência reflexiva.Antes de se envolver com os outros, o indivíduo é consciente,mas não autoconsciente".

...House também ilustra o papel dos outros no desenvolvimento da autoconsciência.Os membros da equipe de House detêm a chave para a autopercepção dos pacientes; e ao diagnosticarem suas doenças, esses médicos ao mesmo tempo lhes expandem a autoconsciência.
Livro: House e a Filosofia:Todo mundo Mente
Coordenação de William Irwin

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

MAIS UM SELINHO RECEBIDO DE UM BLOG QUE ADORO!




Malu, obrigada por este carinho.


“Gosto da gota d’água que se equilibra na folha rasa, tremendo ao vento.
Todo o universo, no oceano do ar, secreto vibra: e ela resiste, no isolamento.
Seu cristal simples reprime a forma, no instante incerto: pronto a cair, pronto a ficar – límpido e exato.
E a folha é um pequeno deserto para a imensidade do ato.”
(Cecília Meireles, Epigrama n. 5

Apontadora de Idéias

Minha foto
São Paulo, Brazil
"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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