A quem confiar
a nossa tristeza?
“Ninguém tem ombro para suportar sozinho
o peso de existir”, escreveu Mia Couto, escritor moçambicano. Mas não é isso
que estamos vivendo e propagando por aí.
O alerta “Sorria, você está sendo filmado” ou
como escutei recentemente: “Sorria, que o outro não aguenta o seu sofrimento” é
uma indicação do quanto temos que esconder nossas dores para que possamos ser
aceitos e reconhecidos como alguém de sucesso.
A expressão de um sentimento de tristeza,
geralmente, não encontra ouvidos e
ombros que a suporte por alguns momentos. Estamos cada vez mais sozinhos nas
esquinas da vida.
Querem
nos fazer acreditar em que, ao falar de nossos sofrimentos, seremos pessoas
chatas, pesadas, e que acabaremos sozinhos, pois ninguém quer saber de lamúrias
e reclamações.
A
revista Super Interessante trouxe esse tema no artigo “A busca da felicidade”
por Barbara Axt, em 2005: “Vivemos uma época em que ser feliz é uma
obrigação – as pessoas tristes são indesejadas, vistas como fracassadas
completas. A doença do momento é a
depressão”.
“A depressão é o mal de uma sociedade que
decidiu ser feliz a todo preço”, afirma o escritor francês Pascal Bruckner,
autor do livro A Euforia Perpétua.
São
muitas as pessoas que se sentem inferiorizadas e solitárias por não conseguir
esconder a sua dor. Não quero, com isso, dizer que é bom passar a vida
fazendo-se de “coitado”, ou mesmo, acreditando que o nosso problema é o maior
do mundo. Mas também viver sem poder expressar a tristeza para pessoas próximas
é extremamente decepcionante.
Não
seria essa a verdadeira solidão? Donald. W. Winnicott, psicanalista inglês, ao
orientar as mães sobre seus bebês, esclarecia-as que ajudar seus filhos, em
alguns momentos, é, simplesmente, segurar a mamadeira; querendo dizer que não é
preciso atos heroicos ou uma grande sabedoria no momento de ajudar alguém.
Basta estar perto, segurar a mão, dar um
abraço, escutar sem querer dar conselhos. Esquecer-se de si mesmo e se colocar
em sintonia com o sentimento do outro é o mais importante. E aquele que sofre
também precisa acreditar que não irá incomodar seu amigo ou familiar caso
precise “desabar” por alguns momentos.
Recentemente, um jovem relatou-me, com alívio,
algo que considero triste e muito preocupante. Só após iniciar um tratamento
medicamentoso para debelar uma fobia social, é que as pessoas passaram a acreditar
e serem mais compreensivas com sua dificuldade . Quando é que passaremos a acreditar que as dores
emocionais existem e nem sempre precisam ser medicamentadas para terem
créditos? A cura vem da capacidade de
conseguir expressá-las para que possam ser compreendidas e ressignificadas.
Eliete T. Cascaldi Sobreiro
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