O mar acalmou
(uma reflexão sobre o filme "Interiores" de Woody Allen)
Ah! Não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram.
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
O mar, quando revolto, assusta-nos pela força com que bate nos rochedos. Ele não se acaba mansamente em contato com a areia da praia e, sim, revolve- a profundamente deixando rastros nítidos de sua fúria.
Assim é o Mar como metáfora da angústia, no filme “Interiores” de Woody Allen.
Raiva, dor, culpa e ressentimentos, residem no interior de uma família marcada pela gradativa perturbação mental da progenitora.
Freud sugeriu que “A infelicidade é muito menos difícil de experimentar” e, na presença de um sofrimento mental, tudo fica pior, não apenas para a pessoa que sofre a perturbação psíquica, mas o ambiente familiar ,também, vive de forma muitas vezes dramática, o desequilíbrio.
Há muitas leituras, em diferentes recortes, dessa obra cinematográfica, no entanto, quero pontuar o impacto do adoecimento psíquico nos elementos da família. Sabemos que os distúrbios mentais despertam muitas dúvidas, sofrimentos e, infelizmente, são pouco estudados pela ciência. A presença dessas doenças no seio familiar é muito difícil , sua compreensão e manejo, mais ainda. São obstáculos demais dificultando o fluxo de energia e da alegria. É um ambiente propício para sentimentos ambivalentes de amor e ódio, culpa e desprezo, silêncio e gritos, aproximação e distanciamento.
Cada elemento da família é atingido e responde de forma diferente ao familiar doente, e toda dinâmica da família sofre transformações: lugares são destituídos, funções são assumidas mais por um elemento da família do que por outros e, as emoções são como o mar quando revolto... explodem a qualquer momento.
“Interiores” é magnífico, pois coloca suas lentes nas dificuldades daqueles que convivem com o doente mental: reflexão nem sempre abordada, de tão complexa e delicada que é. Mas não podemos ignorar a extensão dos sofrimentos nos elementos da família. Donald W.Winnicott, enfatiza a influência das figuras paternas no desenvolvimento emocional das pessoas e faz a seguinte observação: “Quando o lar de uma criança se desfaz e ela perde, subitamente, os símbolos em que se habituara a confiar, ela se encontra lançada no mar sem bússola e em risco de naufrágio”.
Boa tarde, Eliete!
ResponderExcluirNão conheço o filme, mas fiquei com vontade de ver. Parece uma estória bem complexa e sensível.
Um abraço, Sônia.
Resenhaste bem,Eliete e deu vontade de assistir! bjs, lindo dia! chica
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