Barcos ao léu
Chove torrencialmente
lá fora. A chuva varre os telhados, afoga as calhas, lava carros e ruas. É a
estação das chuvas. Dentro, uma vela e fósforos estão a postos, caso, falte a luz.
As crianças estão eufóricas. Correm da porta à janela de vidro para verem a
enxurrada que está se formando. É um misto de sentimentos; medo e alegria fazem
com que elas desejem a chuva e, ao mesmo tempo, anseiem que passe depressa.
A atenção é
toda voltada para a enxurrada, o quanto ela está grande.
O jogo de botão,
as bonecas o ferrorama e todos os outros brinquedos, por hora, estão totalmente
esquecidos. As crianças esperam a ordem do capitão-pai para começarem a
executar os barcos que deverão zarpar com uma difícil missão.
Apesar da
fragilidade do material, acreditam que seus barcos irão muito longe, alcançando
lugares desconhecidos e levando mensagens para quem os encontrar. Os barcos são
pintados com bandeiras desse mundo, com o endereço de sua origem e com o nome
dos construtores. É uma tarefa e tanto, logo não é possível postergar... atrasar...
A enxurrada pode passar depressa demais, e não
esperar pelas embarcações.
A chuva, aos poucos, acalma e as crianças
junto com o capitão – pai correm até a
beira da calçada para colocarem seus barcos que, amedrontados, oscilam
com o volume e com o movimento impetuoso das águas. Alguns sucumbem
assim que saem, outros seguem vigorosos e corajosamente em direção do bueiro-
local misterioso - onde se define o futuro das embarcações.
Naus que são
tragadas pelo ventre dos bueiros dando-lhes direção e força para prosseguirem
em sua jornada.
As crianças retornam
às suas casas ávidas de esperanças de que os barquinhos irão encontrar novos mundos,
terras virgens, homens gigantes e que desejarão conhecê-las.
Dormir e
sonhar com esse encontro é o que lhes restam fazer naquele momento; sonhar com
as naus e suas infinitas possibilidades de um novo devir.
E, se tiverem
sorte, esse devir estará sempre vivo e ressoando em suas mentes adultas,
trazendo-lhes a capacidade de celebrar o cotidiano como uma eterna revelação.
texto: Eliete T. Cascaldi Sobreiro
imagem: internet
Artigo publicado no jornal O COMBATE
nossos queridos barquinhos de papel...saíram com nossos sonhos e ainda percorrem os caminhos para chegar aos seus destinos. Afinal, para onde foram?
ResponderExcluirUm abraço
Bela postagem...aproveito para te desejar um belo feriadão...bjs
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