E não foram felizes
para sempre
Desculpem-me, mas hoje não estou feliz; meus olhos
estão assustados, a cabeça atordoada e o coração pulsa lenta e silenciosamente.
É desolação. O pensamento insiste em fixar-se numa antiga maldição chinesa:
“Possa você viver em tempos interessantes”- lembrando-me de que somos
protagonistas de tempos interessantes.
Estamos impactados com a imagem de uma criança síria
de três anos afogada nas águas do Mediterrâneo. Seus pais eram parte integrante
dos dois milhões de refugiados, exaustos e famintos, buscando por um mundo sem
guerra e com mais oportunidades.
Infelizmente, não foi somente essa criança que morreu.
Tantas outras! Famílias inteiras são dizimadas pela fome e doenças. Milhares
marcadas “a ferro” por estupros, pedofilia, tráfico de drogas, tráfico humano,
abandono, xenofobia, homofobia...
Tristeza, impotência, descrença não em Deus, mas nos
homens. Na própria humanidade que caminha a passos de tartaruga.
Em 1936, Saint Exupéry, em seu livro, Terra dos Homens, já fazia referência à
desumanização, quando escreveu: “ Não há jardineiros para os homens. Mozart
criança irá para a estranha máquina de entortar homens”. E um pouco mais
adiante: ... “é Mozart assassinado um pouco em cada um desses
homens!” Verdade implacável!
Quantas crianças ceifadas da possibilidade de viver
sua infância; quantos adolescentes sem condições de desenvolver seus talentos,
quantos adultos com os caminhos de realização pessoal fechados e quantos idosos
abandonados.
É o adoecimento
ontológico - adoecimento da natureza humana; tempos de coisificação, tempos de
não pessoalidade - da não abertura para o encontro com o outro; onde interesses
econômicos e políticos sobrepujam as necessidades humanas; onde há uma intensa
dissociação do homem com a natureza e com a sua própria condição humana.
Quantas vezes Herodes, quantas vezes Pilatos, quantas
vezes Zaqueu? repetição agônica!
Caro poeta, Vinícius de Moraes, sei “que é melhor ser alegre do que ser
triste”, mas como?
Como ser feliz quando há tantas vidas sobrecarregadas
de sofrimentos, que conhecem a miséria e o desespero, geralmente, contra sua
vontade?
Como acreditar que um dia a humanidade mudará para
melhor?
Mas... é necessário
o exercício da fé na possibilidade humana. É preciso acreditar que temos
condições de nos transformar em pessoas melhores e mais saudáveis.
Nesse momento tão traumático é importante que entendamos
a comoção global das pessoas como sinal de uma humanidade ainda viva dentro de cada pessoa e,
talvez tenhamos de nos espelhar nos ipês que, na estação mais seca, respondem
com uma floração exuberante.
texto: Eliete T. Cascaldi Sobreiro
imagem: internet Aylan
texto publicado no jornal: O COMBATE (26 de setembro de 2015)
imagem: internet Aylan
texto publicado no jornal: O COMBATE (26 de setembro de 2015)
O que dizer diante de uma realidade estampada em toda sua brutalidade? uma criança sacrificada diante dos olhos de uma humanidade estupefata diante duma história que se repete por milênios, na luta inglória dos interesses escusos do egoísmo, do preconceito vil e da falta do amor e da solidariedade. Até quando vamos caminhar por esse lodo e resgatar o divino em nós?
ResponderExcluirUm abraço
Uma ralidade que não gostaríamos de assistir! pena! bjs, linda semana,chica
ResponderExcluirTambém me sinto triste com tudo isso.
ResponderExcluirOremos pela paz e transformação do homem.
Abraços, Sonia