terça-feira, 9 de agosto de 2011



TEMPO É TERNURA

Fabrício Carpinejar


Viver tem sido adiantar o serviço do dia seguinte. No domingo, já estamos na segunda, na terça já estamos na quarta e sempre um dia a mais do dia que deveríamos viver. Pelo excesso de antecedência, vamos morrer um mês antes.
Está na hora de encarar a folha branca da agenda e não escrever. O costume é marcar o compromisso e depois adiar, que não deixa de ser uma maneira de ainda cumpri-lo.
Tempo é ternura.
Perder tempo é a maior demonstração de afeto. A maior gentileza. Sair daquele aproveitamento máximo de tarefas. Ler um livro para o filho pequeno dormir. Arrumar as gavetas da escrivaninha de sua mulher quando poderia estar fazendo suas coisas. Consertar os aparelhos da cozinha, trocar as pilhas do controle remoto. Preparar um assado de 40 minutos. Usar pratos desnecessários, não economizar esforço, não simplificar, não poupar trabalho, desperdiçar simpatia.
Levar uma manhã para alinhar os quadros, uma tarde para passar um paninho nas capas dos livros e lembrar as obras que você ainda não leu. Experimentar roupas antigas e não colocar nenhuma fora. Produzir sentido da absoluta falta de lógica.
Tempo é ternura.
O tempo sempre foi algoz dos relacionamentos. Convencionou-se explicar que a paixão é biológica, dura apenas dois anos e o resto da convivência é comodismo.
Não é verdade, amor não é intensidade que se extravia na duração.
Somente descobriremos a intensidade se permitirmos durar. Se existe disponibilidade para errar e repetir. Quem repete o erro logo se apaixonará pelo defeito mais do que pelo acerto e buscará acertar o erro mais do que confirmar o acerto. Pois errar duas vezes é talento, acertar uma vez é sorte.
Acima da obsessão de controlar a rotina e os próximos passos, improvisar para permanecer ao lado da esposa. Interromper o que precisamos para despertar novas necessidades.
Intensidade é paciência, é capricho, é não abandonar algo porque não funcionou. É começar a cuidar justamente porque não funcionou.
Casais há mais de três décadas juntos perderam tempo. Criaram mais chances do que os demais. Superaram preconceitos. Perdoaram medos. Dobraram o orgulho ao longo das brigas. Dormiram antes de tomar uma decisão.
Cederam o que tinham de mais precioso: a chance de outras vidas. Dar uma vida a alguém será sempre maior do que qualquer vida imaginada.



8 comentários:

  1. Muito bom vir aqui, sempre há algo especial que nos faz refletir, "perder um pouco de tempo".
    Bjos Eliete, um lindo dia para você!!!

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  2. QUERIDA ELIETE QUE TEXTO MAIS LINDO E TÃO IMPORTANTE PARA PENSARMOS NOS PEQUENOS GESTOS QUE POR VEZES NOS PARECEM TÃO INSIGNIFICANTES E QUE SÃO TÃO VALIOSOS E IMPORTANTES NO DIA A DIA.
    PARABENS MINHA DOCE AMIGA POR ESTA INSPIRAÇÃO TÃO VALIOSA E SUGESTIVA UM GRANDE ABRAÇO COM MUITO CARINHO MARLENE

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  3. OI QUERIDA!
    MENINA AMEEEEEI ESTE TEXTO, TUDO TÃO VERDADEIRO.
    POSSO PUBLICÁ-LO LÁ NO BLOG?
    ME FEZ REFLETIR TANTO! OBRIGADA.
    BEIJINHO E UMA LINDA SEMANA POR AÍ!

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  4. Eliete querida tudo bem??/ que lugarzinho fofo esse seu..adoro as cores alegres do seu blog..tudo com muita vida..
    Belo texto esse seu nos faz refletir sobre os valores das pequenas coisas..
    muitos e muitos beijos
    titi

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  5. Obrigada, minhas queridas pelo carinho e pelas visitas . Rosane, é claro, que você pode publicar este texto de Fabrício Carpinejar.bjs

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  6. Que interessante! Maravilhoso, esse texto de Fabrício Carpinejar.
    Hoje sai com minha filha, fui resolver algumas coisas minhas e depois combinamos de passar a tarde no Shopping,mas, fiquei mais tempo que esperava resolvendo as coisas e quando vi, a hora se fez estreita,mas decidi não abrir mão de um momento de lazer com ela, foi demais!Depois tive que correr para cumprir com outros compromissos,mas valeu a pena - ''Perder tempo é a maior demonstração de afeto.''
    AMEI TEU POST!
    Beijos

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  7. Oi Eliete

    saber lidar com o tempo é a maior sabedoria!

    Beijos

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  8. Parece com o texto mais recente, é o mesmo autor...

    É isso, ceder sempre é o que leva ao sucesso das relações humanas...

    Bjs

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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