Lições na madrugada
“As coisas estão no mundo eu é que preciso aprender”
Paulinho da Viola
“As coisas estão no mundo eu é que preciso aprender”
Paulinho da Viola
Há muito tempo eu não escutava um galo cantar de madrugada, até que uma noite dessas “re-vivi” essa experiência.
Acordei ou fui acordada, não sei bem, com o canto do galo, melhor dizendo, com o canto dos galos, pois um galo não canta sozinho. Há, sempre, um outro galo que lhe responde de longe. Olhei no relógio, eram quatro horas da manhã.
A primeira impressão, confesso, não foi muito boa. Senti uma discreta nostalgia e uma pequena chateação, pois talvez demorasse em pegar no sono novamente.
Mas lentamente fui embalada pela magia daquele canto longo e suave, e algumas lembranças rapidamente vieram ao meu encontro. Deixei-as de lado e voltei minha escuta para a característica melódica de suas notas, e, pela relação que se estabelecia entre os dois galos.
Quantas lições há em um canto de galos na madrugada.
A princípio,lembrei-me de ter lido que o galo simboliza a fé, pois ele canta na hora mais escura da noite, anunciando o amanhecer.A fé é a certeza que brota do nosso interior nos momentos em que tudo parece indicar o contrário. Mas naquele canto dos galos dei-me conta de tantas outras coisas, como a harmonia, candura e cumplicidade que existe nesta comunicação, e fiquei pensando se não é um bom exemplo do que pode ser um diálogo entre duas ou mais pessoas.
Falo do respeito que é escutar o outro até o final da sua comunicação, dar então uma pausa e só depois se manifestar. Não vi pressa nem interrupção de um galo enquanto o outro cantava, e sim o silêncio como um convite ao outro para que ele se manifestasse até o final.
Bem diferente do que geralmente acontece com muitos de nós, que sempre interrompemos o outro colocando a nossa opinião ou mesmo acreditando que já sabemos onde ele irá chegar com suas ideias.
Que bela lição a aprender quando escutei a harmonia existente no canto sem competição, sem necessidade de cantar um tom mais alto do que o outro; pelo contrário, pareceu-me que o desafio era cantar como o outro cantava.
Sei que são sentimentos meus que estou colocando nos galos, mas isso não diminui em nada a lição dessa madrugada que pretendo colocar em prática no meu amanhecer quando estiver junto às pessoas.
Quero viver o diálogo verdadeiro, pois a manifestação das ideias deve ser um belo canto que convide o outro a cantar sua alteridade com total maestria.
fonte: Crônica escrita por Eliete T. Cascaldi Sobreiro e publicada na revista Ranking Social no mês de dezembro/ 09
Saudades da minha infância a melodia dos galos!!
ResponderExcluirRealmente Eliete o escuro dá medo, mas também faz nascer no interior do nosso jardim(coração)um broto lindo em que apenas um único jardineiro(Deus) sabe cuidar.
Ficarei atenta ao maestro para não desafinar o meu cantar com as outras pessoas.
Obrigada pela alerta.
Beijos
Ligia
Também resgatei lembranças da minha infância, quando ia para o sítio do meu tio... quantas vezes escutei o canto dos galos...sem dúvida a harmonia acontece do aprender a ouvir e admirar o "cantar" do outro antes de manifestar a própria melodia...boa lição!
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