sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

CON-VERSO : UM PAPO REGADO A POESIA

Vivemos tão absorvidos em crescer, conhecer pessoas, sair de casa, conquistar um lugar profissionalmente, buscar o equilíbrio conjugal, criar os filhos, enfim dar conta das mais diferentes contingências, que vamos vivendo atropelados.
De repente, não mais do que de repente, as coisas começam a desengajar-se.
È como se tocasse um despertador, de início baixinho e depois insistentemente, lembrando-nos que o tempo está passando rápido demais . O estranhamento frente ao espelho e aquelas conquistas tão queridas e arduamente buscadas, agora parecem boas mas não suficientes.
Além dessas chateações, ainda há as perguntinhas insolentes!



Por que é tão difícil colocar em prática o que acreditamos ser bom, necessário e essencial para nós?
Por que, mesmo possuidores de tantos sentimentos e emoções, optamos por vivê-los pobremente?

Por que, crescidos e conscientes das nossas capacidades, repetimos velhos padrões de comportamento, e insistimos em permanecer em situações ás vezes tão destrutivas?
Vários estudos indicam que a falta de alinhamento entre pensamento, palavra e ação, e que a distância entre a nossa essência e nossa existência resulta em perda de saúde e de paz.

Isso está acontecendo com muitos de nós.
Optando por viver distantes, estrangeiros de nós mesmos, muitas vezes como sonâmbulos, vamos empobrecendo-nos e perdendo a energia e a paixão.
A paixão dá lugar ao dever que só aumenta, e sabemos muito bem que a motivação do "eu devo, é muito diferente do eu quero".
Pense agora com carinho:

A razão para tanta correria é necessidade real ou fruto de exigências neuróticas?
Há quanto tempo você não deita sobre a grama para ver com que as nuvens se parecem?
Qual foi a última vez que se surpreendeu?
Indiferentes com o mundo em que vivemos, vamos aos poucos fechando-nos em relação a tudo, esterilizando sentimentos e gradativamente perdendo o viço e partindo para uma vida empobrecida e inexpressiva.
È a vivência do demoníaco" como escreve Clarice Lispector.
Vivendo atropeladamente e esperando ansiosamente, o final do dia, o final da semana, as férias, a aposentadoria, ou então esperando ganhar na loteria, alcançar sucesso, fama e dinheiro para poder viver o que consideramos uma vida com qualidade, somos nós:"pobres pássaros prisioneiros nas gaiolas do dever".
E,num determinado momento passamos a lamentar o que não vivemos...

Remorso
"Às vezes uma dor me desespera
nestas ânsias e dúvidas em que ando
cismo e padeço neste outono, quando
cálculo o que perdi na primavera.
Versos e amores sufoquei calando
sem os gozar numa explosão sincera.
Ah! mais cem vidas! com que ardor quisera
mais viver, mais penar e amar cantando.
Sinto o que desperdicei na juventude,
choro neste começo de velhice.
Mártir da hipocrisia ou da virtude,
os beijos que não tive por tolices,
por timidez o que sofrer não pude
e por pudor os versos que não disse.
Olavo Bilac.


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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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