sábado, 16 de maio de 2015






RITA LISAUSKAS
15 Maio 2015 | 09:00

Malala, a menina que queria ir para a escola. Ilustração: Bruna Assis Brasil
Malala, a menina que queria ir para a escola.
Ilustração: Bruna Assis Brasil
Ela não perdeu muito tempo se lamentando pelos cantos quando se sentiu injustiçada. Nem esperou que um príncipe a resgatasse. Malala até chorou um pouco, é verdade, mas quem não choraria ao ver seu país invadido pelos talibãs que, de quebra, ainda decretaram que as meninas não podiam mais estudar? Quem não choraria ao ver mais de 400 escolas destruídas? Malala logo botou a boca no mundo. “Como o Talibã se atreve a tirar meu direito à educação?”, discursou publicamente em 2008, quando tinha apenas 11 anos. Depois, usando um pseudônimo, escreveu um blog contando ao mundo como era sua vida durante a ocupação. Chamou a atenção por defender o acesso das mulheres à educação formal e, por isso, foi ameaçada e baleada pelos barbudos extremistas em outubro de 2012, quando voltava da escola.
A repórter especial do Estadão, Adriana Carranca, embarcou para o Paquistão logo depois que o Talibã tentou matar Malala, com uma missão: descobrir mais sobre a menina e contar essa história em um livro para o público adulto. Mas voltou de lá com um livro para as crianças. “Ficou claro para mim que esta era uma história incrível para os pequenos, por Malala ser também apenas uma menina, uma jovem de uma zona tribal que acreditou nos seus sonhos. Por ser uma história de amor à escola, aos professores, aos livros”, conta. Adriana se hospedou com moradores da cidade para entender o lugar onde Malala nasceu e cresceu. Conheceu a escola onde a menina estudou, conversou com amigas e colegas de classe. Falou com os médicos que a atenderam depois do atentado, parentes, vizinhos, e conheceu o quarto de Malala que, na época da visita de Adriana, lutava pela sobrevivência em um hospital da Inglaterra.
Ilustração: Bruna Assis Brasil
Ilustração: Bruna Assis Brasil
“Malala, a menina que queria ir para a escola”, da Companhia das Letrinhas, é um livro-reportagem que apresenta essa personagem tão contemporânea. “Todas as crianças provavelmente já ouviram falar de Malala, mas ninguém ainda tinha contado essa história para elas”, afirma Adriana. Chega a ser um bálsamo que uma menina tão forte e real seja apresentada aos nossos filhos que, muitas vezes, são levados a acreditar cegamente em princesas frágeis e em príncipes machões. “Ela não sonhava em encontrar um príncipe encantado, mas em ir para a escola; não queria se realizar por meio do casamento, mas por si própria com o mundo de possibilidades que a educação oferece. É uma anti-Cinderela”, completa.
Meu filho ainda não sabe ler, mas ao me ver uma tarde inteira debruçada sobre a história de Malala, quis saber do que se tratava o livro. “É sobre uma menina que foi proibida de ir para a escola, Samuca”. E ele, intrigado, arriscou uma teoria para a tal proibição. “Por que ela era muito bagunceira, mamãe?”. Eu expliquei que não, que existiam lugares onde as meninas eram impedidas de ir à escola por alguns homens maus. Ele, que já começa a achar as meninas legais, reclamou. “Nossa! Que lugar injusto esse!”
No livro, que será lançado neste sábado, 16/05 ,as crianças aprendem também que na cidade de Malala não é apenas na escola que as mulheres não eram bem-vindas. “No mercado de rua de Mingora, cidade da Malala, há uma faixa: Proibida a circulação de mulheres”, conta Adriana. Mostrar questões áridas para quem ainda está em processo de formação de caráter, pode ser uma boa forma de promover a tolerância religiosa, racial e cultural, segundo a autora. “Nós explicamos o que é uma igreja, uma sinagoga, uma mesquita, um templo; o hijab, o quipá, a cruz”, afirma. “É uma forma de ajudá-los a compreender o tempo em que vivemos”, completa. E no tempo em que vivemos, ainda bem, é possível também que um Prêmio Nobel da Paz seja dado a uma adolescente paquistanesa, como Malala. No discurso de recebimento do prêmio, Malala justificou sua luta. “Eu tinha duas opções, a primeira era permanecer calada e esperar para ser assassinada. A segunda era erguer a voz e, em seguida, ser assassinada. Eu escolhi a segunda. Eu decidi erguer a voz.”
Malala
“Malala, a menina que queria ir para a escola”
Autora: Adriana Carranca
Ilustradora: Bruna Assis Brasil
Idade: 6 a 11 anos
Lançamento: 16/05, 16hs
Local: Livraria da Vila. Alameda Lorena, 1.731
fonte: http://vida-estilo.estadao.com.br/blogs/

Um comentário:

  1. Oi, Eliete, obrigada por divulgar este maravilhoso livro que , como um grito de liberdade , conta a verdade sobre a opressão
    e o obscurantismo que ainda percorre o mundo.
    Um abraço

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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