PAREDES
DE GELO
O
humano é só.
Clarice
Lispector
Tudo
era branco, de um branco que cegava , caso fixasse o olhar naquela direção.
O
lugar era imenso, muito além do que os olhos humanos poderiam vislumbrar.
Silêncio e Frio eram as marcas daquele lugar.
Altas
paredes de gelo compunham a paisagem, e estavam naqueles mesmos lugares, há milhares
de anos.
De
repente, um minúsculo ponto surge neste mar branco. Parece um borrão de tinta
em uma folha branca, mas o frio intenso traz novamente o Mar, do qual não há
como fugir. Percebe-se agora, claramente, um homem tentando guiar seu barco por
entre paredes de gelo.
A
expressão era de dor, seus gestos de terror, pois sentia a inutilidade de suas
ações. Sabia o quanto ele era pequeno, e vãs suas tentativas em estabelecer qualquer
sinal de ajuda.
Quanto
mais lutava, mais paredes imensas de gelo colocavam-se em seu caminho.
Impassíveis, elas ignoravam as necessidades daquele pobre homem que, apavorado, rogava por ajuda.
Nada!
Nenhum movimento, nenhum sinal indicando Vida. Era pura desolação branca!
Em
seu desespero, o homem busca por forças; sabe que sua salvação está em
enfrentar, a qualquer custo, aquelas
paredes de gelo que impediam a passagem.
Teria
de olhar as geleiras, correr o risco de cegar-se, mas era preciso...
Ao
fixar os olhos nos picos daquelas paredes, um fenômeno inesperado acontece.
Contrário
ao que temia e esperava, sua visão tornou-se nítida e, assustado, reconhece os rostos de amigos e familiares em
cada cume daqueles paredões de gelo. Não é mais o branco que turva seu olhar e, sim, suas lágrimas que correm abundantes, ao
entender, perfeitamente, o que estava acontecendo –lhe.
Aquela
imensidão branca, gélida, vazia, era a sua vida. Uma vida de indiferença à dor
e às necessidades do “Outro”.
Insensíveis,
incapazes de sensibilizarem-se uns com os outros, os homens constroem, com seus
remos-atitudes, paredes de gelo que acabam por obstruir seus caminhos e fazendo
o mundo um lugar cada vez mais difícil à sobrevivência da espécie.
Aquele
homem só consegue chorar! Suas lágrimas abrem fendas nas paredes de gelo,
permitindo –lhe a passagem.
Suas
forças crescem cada vez mais, porque agora quer chegar depressa ao seu destino e
contar a todos a grande revelação.
Mas,
eis que, neste misto de alegria e tristeza, surge à sua frente, imponente e
assustador, um paredão imenso. Por
alguma razão misteriosa, o homem luta internamente, pois entende que é preciso
conhecer seu maior inimigo. Tem medo, muito medo, como se pressentisse que a grande revelação ainda estava por
acontecer.
Uma
sensação de peso vai tomando todo seu ser e, de repente é ele, o imenso paredão
de gelo.
A
vertigem é enorme, suas forças cedem;
sente-se oco, vazio e começa a cair rapidamente naquele abismo.
Sobressaltado
, acorda assustado e suando daquele horrível pesadelo!
texto: Eliete T. Cascaldi Sobreiro
Imagem: internet
Oi, Eliete...o texto é impactante sem sombra de salvação...será que somos tão indiferentes assim? será que não nos resta nada além da vertigem do abismo?
ResponderExcluirUm abraço
Um sonho ,muitas vezes revela o que ocorre em nosso íntimo e nos dá a oportunidade para, através de uma reflexão mudarmos alguns comportamentos.
ResponderExcluirUm abraço.
Que o amor e a fraternidade nos protejam dessa gélida indiferença...
ResponderExcluirAbrir o coração para o amor, sem sombra de dúvida, é a forma para quebrar as paredes gélidas...bjs
ResponderExcluir