MEU PRIMEIRO AMOR
As coisas pedem pouso quando amam.
Carlos Nejar
Era um domingo de verão e o sol dava sinais de que estava chegando para valer. Os cachorros já se colocavam a postos, cuidando para que ninguém se aproximasse da casa de seus donos, e os passarinhos voavam e cantavam, saudando o alvorecer.Eu estava pronta para a caminhada diária, pensava fazer o mesmo percurso de sempre.Mas, por alguma razão não consciente, fui tomando o caminho do centro da cidade. Após alguns minutos, encontrava-me perto do jardim da Catedral.Os passos ficaram mais lentos e, interiormente, fiz marcha a ré.Meus olhos observavam cada detalhe daquela paisagem; as pedras, as árvores e os bancos que ali permaneciam fiéis às suas histórias.Decepcionada, percebo habitantes novos, as pombas que parecem ter feito daquele lugar seu habitat.Sinto muita tristeza e uma grande culpa por ter- me afastado por tanto tempo daquele lugar mágico.Lágrimas brotaram instantaneamente de meus olhos. Era só saudade.
“saudade, palavra triste quando se perde um grande amor”
O jardim da Catedral foi o meu primeiro amor, e esse reencontro com minha história causou-me uma profusão de sentimentos.
“igual uma borboleta vagando triste por sobre uma flor”
Como a força de um ímã, aquele chão de pedras atraiu vários fragmentos de memória, que foram ligando um fato ao outro, um sentimento com outro.Aos domingos, meu irmão e eu íamos à missa das nove horas, e caso nos comportássemos bem, poderíamos brincar no coreto do jardim e correr por suas calçadas.Naquele jardim, aprendi a andar de tico-tico, passeava com o carrinho vermelho de bolinhas brancas, levando minha boneca preferida, e foi naquele jardim que fiquei maravilhada com as unhas postiças feitas com flores amarelas que nasciam nos canteiros que rodeavam o jardim.Dou-me conta de que todas essas lembranças estão vivas e fazem vibrar todo o meu corpo.
Hoje consigo perceber que o jardim, com suas duas partes, a superior, que parecia uma extensão da Catedral, guarda todas as vivências da criança que fui, e a parte debaixo do jardim contém recordações da adolescência. Muitas vezes íamos à tarde, depois das aulas, para namorar.Quantas lembranças naqueles bancos ali espalhados, e que estavam sempre ocupados por namorados ou grupos de jovens a conversar.
Esse jardim ainda continuou a fazer parte de minha vida por muito tempo. Quando casada ,muitas vezes levei minha filha para ver a fonte luminosa, comer pipoca e ouvir a banda tocar no coreto.Tenho certeza de que esse jardim não foi só meu, que foi o primeiro amor de muitas pessoas que aqui nasceram e cresceram.O sino da Catedral tocou, e o silêncio, povoado de ressonâncias do vivido intensamente, esvaiu-se , e minha atenção dirigiu-se para o momento presente, lembrando-me de que tinha um longo caminho de volta para casa.
Hoje quero conhecer lugares novos que irão proporcionar-me experiências maravilhosas, de que mais tarde recordarei com saudades, mas também sei que o primeiro amor o tempo não leva. É muito bom quando os lugares mágicos ficam preservados para confirmar nossas lembranças, o que infelizmente nem sempre acontece.
Inspiração: Meu primeiro amor
Composição: Hermínio Gimenez, José Fortuna e Pinheirinho Jr.
Bom dia,Eliete!!
ResponderExcluirQue lindo texto!Existem lugares que ficam pra sempre na memória!!É um primeiro amor bem interessante!!
Beijos pra ti!!!
Lindo!
ResponderExcluirSó passando para "bater o ponto" e te deixar um beijo!!!!
Dá pra sentir, ver, apreciar cada palavra sua...
ResponderExcluirLindo!
Bjoo!
Eliete querida.
ResponderExcluirA gente consegue viajar nas tuas lembranças e conhecer esses lugares. Lindas recordações!
Que bom que voltaste amiga.
Senti sua falta.
Grande beijo!
Ah, parabens pela foto! Tão linda!
ResponderExcluirBeijo...
Luz linda... própria de outono... e de quem tem "o" olhar. :)
ResponderExcluirNeste jardim ia com meu pai para longas sessões fotográficas. Após os bailes era o local do lanche da madrugada e a parte de baixo,um pouco mais misteriosa aguçava minha imaginação.Preciso voltar lá para passear e quem sabe, despertar lembranças escondidas.
ResponderExcluirAngelina