terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Para começar bem o dia


ELOGIO DA LEVEZA

Affonso Romano de Sant'Anna/Tempo de delicadeza

Esse filme sobre a vida de Vinícius de Moraes , que está surpreendendo pelo sucesso de público , me fez pensar sobre a necessidade que temos de recuperar a leveza . Houve um tempo , não faz muito , há uns 30 ou 40 anos , em que éramos mais leves . Depois vieram os “ anos de chumbo ” e desde então estamos mais para a quaresma do que para o carnaval .
Vinícius, por exemplo , era leve , tão leve , que chegava a ser leviano na gravidade de suas paixões . Tom Jobim era leve . Vinícius e Tom eram leves e engraçados . Ser leve e ser engraçado era uma característica daquela geração .
Otto Lara Rezende era leve . Era um campeão do peso pluma . Não pesava a ninguém . E vou lhes dando outros exemplos . Antônio Maria, apesar de bem gordo , era leve , basta ler também suas crônicas , como essas no volume “Seja feliz e faça os outros felizes ”(Ed. Record). Quer ver outro dessa turma levinho e engraçado- Stanislaw Ponte Preta , vulgo Sérgio Porto .

Posso alongar a lista : Ronaldo Boscoli e Miele, mais uma dupla leve . As estorinhas deles convencem a gente que a vida é uma gafe permanente e divertida. Fernando Sabino também ia por aí . Se a gente o encontrava tinha sempre noção de que ia achar graça em alguma coisa . O próprio Paulo Mendes Campos , mais retraído , era um contador de “ causos ” dele e dos amigos . Você podia estar com o Hélio Pellegrino, que sendo analista , hora nenhuma nos passava a idéia de que estava analisando nossas neuroses , não estava aí para julgar ninguém .
Com isto , as crônicas refletiam a leveza da vida . Não é que não houvesse drama e tragédia , mas as pessoas não eram baixo astral nem a crônica é como nos dias atuais uma coisa chata e pesada .
Nesses dias em que o filme sobre o Vinícius já estava passando eu tinha que fazer uma conferência sobre ele lá em Porto Alegre e acabei encontrando dentro de suas poesias completas um recorte do qual havia me esquecido totalmente. Era um texto recuperado por Genetton Moraes, que falava de três daqueles seres leves, levianos: Vinícius, Otto e Antônio Maria. Era o texto de uma entrevista dada por Vinícius ao Otto, para o Jornal da Globo, quando esse era também um jornal mais leve. Aliás, quando a televisão era mais leve, quando o pais era mais leve. Quando éramos mais leves e não sabíamos.
Vinícius narrou ao Otto que às vezes ele saía da boate Sacha’s de madrugada com o Antônio Maria e ficavam os dois andando pelo Leblon para farejar com curiosidade canina que caminhos os cachorros vadios da madrugada seguiam. Vejam, houve um tempo em que se podia andar angelicamente de madrugada pelas ruas do país para acompanhar franciscanamente cães vadios. E assim, chegaram ambos a Copacabana onde, de repente, viram um estranho aglomerado de pessoas na areia, às seis da manhã. Pensaram que era afogamento, mas perceberam que o grupo levantava ao mesmo tempo as pernas ou os braços. Eram ginastas.
Perplexos, Maria e Vinicius se dizem:-Devem ser nórdicos! E Maria que chamava sempre Vinícius de Poesia, diz:- “Poesia, vamos fazer aqui um juramento”. Qual juramento, indaga Vinícius. E Maria: “Vamos jurar que nós nunca faremos um gesto desnecessário”...
Foi uma geração de frasistas geniais. Não era só o Otto, que recebeu de Nelson Rodrigues a alcunha de “genial frasista de São João del Rei”. Eram todos frasistas. A vida, uma amizade, um amor por uma frase. Rubem Braga que vivia tartamudeando palavras, não pesava nada. E um dia quando alguém, talvez Danuza Leão, falava umas coisas pesadas sobre um ex-amante, Rubem advertiu: “Não cuspa no prato que te comeu”.
Essas pessoas eram muito o espírito de uma geração, de uma época do Rio e do Brasil. Também com um presidente leve como Juscelino, que de tão leve vivia valsando e que botou em aviões uma cidade inteira levando-a para o planalto central, com ele tudo ficava mais fácil e mais leve.
Dedico esta crônica de Affonso Romano aos meus amigos blogueiros que sempre tem uma palavra de carinho.Obrigada!

9 comentários:

  1. Bom dia Eliete!!

    É, hoje de leve não sobrou muita coisa...
    Mas antigamente, se valorizava um pouco mais a cultura, o saber...Hoje em dia tudo é falso, descartável...e a educação que era para evoluir, ficou pior!!!Não se pode reprovar aluno,não pode "exigir", que o aluno aprenda...
    Para sermos leves precisamos ter mais cultura.
    Para pensarmos com clareza e inteligência!!

    Beijos!!
    *Mesmo que a escola, não incentive muito o aluno a amar o conhecimento, nós como pais podemos fazer este papel!!Eu faço o meu!!

    Boa semana pra ti!!

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  2. Eliete, muito obrigado pelas visitas e pelos comentários no meu blog. É um enorme prazer tê-la como leitora. Desculpe não ter vindo aqui te retribuir antes. Gostei do seu espaço também e já estou seguindo-o!

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  3. Vivian, você é adorável, sempre faz observações ricas e seu carinho sinto-o através de suas palavras. Obrigada.

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  4. Paulo eu é que te agradeço pela oportunidade de conhecermos um pouquinho mais assuntos tão interessantes e por acolher-me no seu blog.Agora sinto-me aindamelhor por você estar aqui comigo tb. Um abraço, volte sempre que puder.

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  5. Eis realmente um texto leve e agradável dos maravilhosos anos dourados!

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  6. Guaraciaba , companheira de sonhos! Estamos há pouco tempo juntas nos blogs, mas já sinto um grande prazer quando leio um comentário seu.Seu cantinho traduz um pouco sua alma, que com certeza , é bela. obrigada,bjs

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  7. "Vinícius, por exemplo , era leve , tão leve , que chegava a ser leviano na gravidade de suas paixões." Resumiu muito bem esse grande poeta. Adorei as tirinhas. Se for a felicidade? Beijinhos.

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  8. Citando Roberto Carlos.
    Velhos tempos, belos dias...
    Canções usavam formas simples pra falar de amor...
    Cronica perfeita, Eliete, parabens pela escolha.
    Te desejo uma noite linda e leve.
    Beijos no coração amiga!

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  9. Muito boas as tirinhas e o texto também.Obrigado pelo carinho, um beijo, daqui da praia(hoje está chuviscando)chica

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Apontadora de Idéias

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"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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